terça-feira, 15 de setembro de 2015

Wut (2014)

.
Wut de Sergi Marti - também o autor do argumento - é uma curta-metragem de ficção espanhola e uma interessante surpresa no seu género enquanto thriller dramático.
Wut é um rottweiler pertença de um soldado nazi alemão (Luka Peros) destacado na França ocupada durante a Segunda Guerra Mundial. Perdido numa floresta, o soldado parece perseguir alguém e depois de uma breve pausa percebe que o seu comer desapareceu. Com a percepção de que não se encontra sózinho, este soldado envia Wut à procura do misterioso invasor para aquilo que será uma estranha e invulgar revelação que colocará a sua (des)humanidade às claras.
Numa inovadora concepção enquanto filme de guerra, Wut surpreende de imediato o espectador por apresentar toda uma história dramática de um dos mais negros períodos da História Europeia sem que sejam necessários grandes diálogos ou narrações para explicitar aquilo que temos diante dos nossos olhos.
Esta história que envolve não só o drama de guerra mas sim o drama humanitário que lhe está inerente, consegue cativar pelo clima de mistério criado não só pelo ambiente geográfico em que se desenrola e que faz adivinhar algo de macabro escondido para lá daquilo que a vista alcança, mas também pelo imaginário colectivo que está imediatamente conotado pelo período histórico em que se sucede. A presença de um soldado nazi que persegue algo como se de um caçador se tratasse lança de imediato o espectador numa tensão latente que pressupõe que a tragédia está prestes a acontecer. E acontece... mas não como inicialmente a poderíamos pensar. "Wut" - o cão - é transportado para o centro desta história quando o seu dono faz dele a potencial máquina assassina que irá eliminar a "presa". Uma presa que é não só mais frágil perante "Wut" como também perante o "Soldado" que além de uma figura fisicamente mais forte é também um elemento armado e símbolo de um regime opressor. Mas, o que acontece quando aquele que supostamente deveria mostrar e revelar a sua humanidade se perde nos caminhos do mal e aquele que poderia estar dotado de uma ausência de moralidade se revela como um estranho e impávido observador da destruição dessa mesma "Humanidade"?
Mas Wut vai ainda mais longe ao mostrar que o íntimo de cada um está para lá da sua aparência física exterior e que aquilo que mais medo provoca em muitos de nós pode, por sua vez, ser aquele que mais complacência e compreensão mostra. Afinal, não procuram "vítima" e "caçador" algo em comum: saciar a sua fome? Enquanto "Wut" mostra não só piedade como solidariedade para com aqueles que fogem é, no entanto, o "Soldado" que mostra ser o lado brutal de uma dupla e enquanto ser pensante aquele que poderia ser empatia para com quem precisa de (sobre)viver mas que opta por seguir uma ideologia e um regime assassino mesmo num local como aquela floresta onde apenas ele poderia relatar o que se havia passado. Assim, ainda que voluntariamente entregue às suas próprias escolhas, este homem opta por ignorar o seu poder - o seu real poder - limitando-se ao preconceito e à desumanidade que lhe incutiram como "valores".
Sergi Marti contrói assim uma forte e intensa curta-metragem cuja história é essencialmente narrada através dos sentidos - visual e auditivo - na medida em que está praticamente desprovida de diálogos e falas remetendo o espectador para a observação do espaço em que as personagens se encontram - primorada direcção de fotografia de Anna Molins que leva o espectador a concentrar-se no essencial não esquecendo todos os detalhes que compõem o meio - e amenizando ou intensificando o momento através da música original de Luís Ivars que se assume como a verdadeira narração desta história (des)humana.
.

.
9 / 10
.

Sem comentários:

Enviar um comentário