Sofía de Laura Rifer é uma curta-metragem espanhola de ficção que conta a história de uma mulher que tenta iniciar a sua nova vida após o fim de uma relação tendo, do outro lado da rua, um homem que a observa insistentemente.
Toda a vida de uma pessoa observada, e eventualmente julgada, pelos olhos de alguém que a desconhece. Das suas fragilidades aos momentos de felicidade, das tristezas a um sentimento de perda constante... assim é a vida desta mulher - interpretada por Nuria Farrús - que tenta reerguer-se quando parece que tudo no mundo já não faz sentido.
Sem diálogos que permitam ao espectador escutar os seus desabafos ou pensamentos, Sofía faz entender a sua mensagem e o seu estado de espírito através de uma constante musicalidade que transmitir dor, alegria, entrega, perda, sofrimento e até mesmo uma ideia de um constante novo recomeço que a sua personagem principal tenta alcançar a todo o custo.
Pelo olhar daquele homem que observa "Sofía", o espectador percebe que ela tenta reatar laços afectivos com um homem... com um qualquer homem... um qualquer que lhe confira aquilo que ela necessita... carinho, afecto, sexo, amizade, cumplicidade... algo que nunca teve... algo que perdeu... algo que até desconhece por um passado mal vivido e que desconhecemos. Aos encontros, que terminam sempre no imediatismo de uma noite bem passada, sucede-se a entrega de um presente que todos os que por ali passam ignoram... talvez o seu coração, talvez a sua alma... talvez o seu corpo ou mesmo todos num só. Mas todos eles ignoram-no voluntariamente desprezando aquilo que de mais valioso "Sofía" possui.
No entanto, aquilo que é ignorado por uns é sistematicamente admirado e testemunhado por outro. Por aquele homem mais velho que por empatia ou mesmo por compreendê-la, a desenha e regista o seu estado de espírito, as suas emoções e até o passar da sua beleza, do tempo, das marcas e das experiências. Quando tudo parece ser uma constante dança de momentos passados, eis que ali encontramos alguém que, à sua própria maneira, a ama... registando a sua presença quando todos os demais parecem querer ignorá-la.
Laura Rifer regista, com a sua Sofía, a marca do tempo. O tempo que passa, o tempo que se perde e até mesmo o tempo em que a protagonista marca como uma passagem que atravessa solitária no mundo ignorando que a mesma é ou está a ser registada por outro(s). O tempo que passa sem que por ele se dê conta como algo efémero pelo qual desespera ao não encontrar quem consigo o queira partilhar. Numa passagem pelo desgosto e até por um pensado anonimato, "Sofía" ignora que por não ser o mundo daqueles que quer é, no entanto, todo um mundo para alguém que assiste a essa mesma passagem temporal com tantas ou maiores dificuldades que ela conferindo-lhe uma igual esperança que desconhece.
Perfeito pela forma como transmite sensações, emoções e estados de espírito através de uma perfeita banda sonora, Sofia é uma emotiva, e por vezes crua, curta-metragem que aperfeiçoa a forma como é registado o tempo as emoções e principalmente a sua perda.
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7 / 10
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