O Que Fazemos nas Sombras de Taika Waititi e Jemaine Clement é uma longa-metragem neo-zelandesa presente na secção Serviço de Quarto da nona edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa a decorrer no Cinema São Jorge até ao próximo dia 13 de Setembro.
Viago (Taika Waititi), Deacon (Jonathan Brugh) e Vladislav (Jemaine Clement) são três vampiros não tão modernos que partilham casa e tentam sobreviver na sociedade dos nossos dias onde enfrentam problemas normais como o pagar a renda da casa, mantê-la limpa e ainda conseguirem ser convidados para as diversas discotecas e terem assim uma vida social igual à de tantos outros jovens... que eles já não são.
Quando Petyr (Ben Fransham), o outro vampiro da casa já com mais de oito mil anos morde Nick (Cori Gonzalez-Macuer), o trio de vampiros vê a sua vida completamente alterada ao entrarem realmente num circuito social que não conheciam e obter novos conhecimentos que os inserem em plenos século XXI.
Num claro trunfo da programação do MOTELx deste ano, What We Do in the Shadows é um dos mais originais e hilariantes filmes do último ano - e seguramente aquele pelo qual a edição deste ano ficará recordada - e num estilo de mockumentary muito próprio consegue unir terror - light - e comédia que recupera não só o imaginário vampiro como também o dos lobisomens, zombies e demais criaturas que a noite tenta esconder.
Os dois realizadores, intérpretes e argumentistas desta longa-metragem neo-zelandesa constroem uma história com a qual o espectador cria uma imediata afinidade e pensa nos seus protagonistas como aqueles amigos realmente "na moda" que todos tentam e esperam ter. Percebemos que com eles a noite - mesmo com os seus evidentes perigos - será um triunfo. Cada um com a sua vincada personalidade, estes três amigos complementam-se naquilo que a certa altura se assume como a forma de sobreviverem a um mundo que, ao contrário deles, se transformou a uma velocidade alucinante. Se "Deacon" é o mais novo e rebelde de todos e ainda assim já conta com 183 anos - mordido por "Petyr" - não é menos verdade que é tão inadaptado quanto "Viago" de 379 anos - e aquele que assume o relato das suas vivências para o documentário a ser elaborado sobre as suas vidas - que receia aquela hora do dia em que desconhece se o sol já se pôs ou não e que se mudou para o país por amor, ou "Vladislav" de 862 anos e aquele que é já de uma velha guarda vampírica que merece o seu "respeito" e que é assumidamente um pervertido favorável à escravatura. E tudo isto sem esquecer o envelhecido "Petyr" que com os seus mais de oito mil anos se distancia de todas as querelas dos seus parceiros de casa.
Se esta história tinha tudo para ser um sucesso mostrando apenas as desventuras deste trio mais um, não é menos verdade que consegue ganhar uma nova e interessante dinâmica ao inserir no grupo "Nick", um potencial petisco do grupo que é acidentalmente - ou talvez não - transformado e que lhes confere aquele toque de realidade aos tempos modernos que tanto necessitavam mas que é, ao mesmo tempo, um risco para o anonimato que todos pretendem manter. E se a esta já de si confusa união de várias personagens dinamiza esta longa-metragem de tal forma que o espectador sente não poder perder momento algum, o que pensar quando aos mesmos são alicerçados zombies e lobisomens presentes na festa mais "in" do ano... The Unholy Masquerade a 6 de Junho pelas seis horas... que é como quem diz (06.06.06!)?
Dito isto, temos uma história repleta de humor negro, de comportamentos desviantes e de criaturas sobrenaturais que, muitos assumem, não se sentir ainda perfeitos dentro da sua pele vivendo com verdadeiras crises de identidade e com problemas existenciais quando procuram encontrar mulheres para saciar os seus desejos carnais e criminosos de todas as "estirpes" para saciar a sua fome, e tudo isto sem esquecer que têm uma casa que precisa ser governada e para a qual nenhum tem especial vocação. Corpos antigos... problemas eternos... e modernos.
Como forma de provar que todas as diferenças podem afinal encontrar um terreno comum onde interagir, e que nem tudo o que parece perigoso afinal o é - que o comprovem os momentos em que "Nick" tenta em vão fugir da caça vampírica - What We Do in the Shadows celebra a diferença, o escárnio, a aproximação das espécies e a amizade que dela pode surgir, a incompetência daqueles que supostamente têm como missão proteger-nos - a todos nós - e especialmente o amor... considerando que foi por ele que muitos dos nossos protagonistas se movimentaram... cada um à sua especial maneira.
Ainda que uma aposta que não celebra propriamente o terror - apesar dele se sentir presente não só pelo ambiente sinistro que a casa dos nossos vampiros apresenta ou até mesmo pelo incansável e sempre presente "cheiro" a sangue que paira no ar, What We Do in the Shadows destaca-se claramente pelo seu humor negro e divertimento nonsense e nem sempre politicamente correcto com que se movimentam as personagens que aqui ganham vida. No fundo, aquilo que fica implícito com esta longa-metragem é que todos - humanos ou não - procuram desesperadamente um lugar onde se inserir e onde a sua diferença particular - em relação às demais - não seja apontada mas sim celebrada... e que no final, por muito diferente que alguém possa ser dos demais existe sempre esse tal "grupo" onde o seu (nosso) lugar é desejado e indispensável para a sua manutenção. Que se celebrem as diferenças... são elas, afinal, que nos definem e caracterizam... E o nosso grupo de vampiros assim o faz notar.
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"Deacon: When you are a vampire you become very... sexy!"
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"Deacon: When you are a vampire you become very... sexy!"
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9 / 10
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