terça-feira, 8 de setembro de 2015

Arcana (2015)

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Arcana de Jerónimo Ribeiro Rocha é uma curta-metragem portuguesa de ficção e a que serve de introdução à nona edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que se prolonga até ao próximo dia 13 de Setembro no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Presa numa masmorra, uma mulher prepara a sua fuga... e chega o momento em que alguém possibilita a concretização do seu plano.
Para lá do bem construído argumento também ele da autoria do realizador, Arcana destaca-se pela junção de todo um conjunto de elementos que o tornam num muito bem estruturado filme curto de terror e um exemplo de destaque no que a cinema português diz respeito. Vários são os pequenos detalhes que nos transportam para o imaginário de bruxaria nomeadamente evidente possessão demoníaca da "Dama" (Iris Cayatte numa inspirada e demoníaca interpretação) e o círculo de sal que a aprisiona, os símbolos enigmáticos que são como que uma sua linguagem e todos os rituais proferidos que fazem adivinhar o que de macabro conjura.
É, no entanto, quando este referido círculo de sal é desfeito que o verdadeiro poder desta "Dama" se revela em toda a sua plenitude... Quem ela invoca jamais conheceremos. Sabemos no entanto que existe algo ou alguém seu "superior" pois é quando se dá a sua libertação parcial que evoca os cânticos que lhe permitem lutar pela sua total libertação... Revela-se como algo entre dois mundos... de aspecto humano mas com uma parte física que a destaca de algo terreno. Terá sido aprisionada pelos seus actos ou pelo seu aspecto? Seria ela perigosa antes do seu cativeiro?
Se por um lado todo o seu aspecto causa repulsa, independentemente da época em que se encontre que nunca nos é dada a conhecer para lá da vaga ideia que as suas vestes transmitem, não é menos verdade que todo o seu processo de fuga tem um fim que, não sendo observado se faz notar através de outros sentidos como a audição, se faz também ele anunciar como algo não tão macabro como o demais processo fazia adivinhar. No fundo, utilizando uma expressão bem actual... os fins para esta "Dama" justificaram os meios... pouco ortodoxos e que pelo caminho espalharam o pânico entre aqueles com quem ela se cruzou.
Mas é a nível técnico que Arcana se destaca não conseguindo encontrar par na sua excelência no que diz respeito à perfeita caracterização de João Rapaz que tem uma clara inspiração em The Exorcist provocando os mesmos níveis de repulsa que o clássico dos anos 70 provocou, destacando-se ainda pela qualidade do seu guarda-roupa de Isabel Carmona, direcção artística de Luís Monteiro e a direcção de fotografia de João Lança Morais que leva o espectador ao lado mais negro não só do espaço como da mente humana.
Independentemente do que surja a nível de programação durante esta edição do MOTELx, o espectador pode desde já ter a certeza de que assistiu a um dos seus mais representativos filmes de terror e a uma personagem que será, com toda a convicção, uma das imagens símbolo do mesmo. Como nota pessoal... para quando a longa-metragem?!
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8 / 10
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