Caradecaballo de Marc Martínez Jordan é uma curta-metragem de ficção espanhola que de forma engenhosa e muito bem estruturada nos apresenta Caradecaballo (Marc Martínez Jordan) que festeja o seu sexto aniversário. Mas, no entanto, para seis anos de idade deduz(-se) que sofre de gigantismo usando, ao mesmo tempo, uma máscara cabeça de cavalo que esconde a sua verdadeira identidade. Na sua companhia apenas a Avó (Josefa Centeno) que espera - tal como ele - pelos pais que tardam em chegar.
O argumento, também da autoria de Marc Martínez Jordan que se assume como uma intensa força motora desta curta-metragem, insere o espectador naquilo que parece tornar-se numa assustadora história muito ao estilo de um conto sobre uma família "diferente" e que, como tal, o emerge no imaginário de um qualquer filme de terror no qual está sempre à espera de um choque pelo bizarro mas que à medida que decorre a explanação dos factos surpreende pela faceta francamente trágica de "Caradecaballo".
Em voz-off (Aimar Vega) assistimos a um discurso de uma mente que está claramente perturbada. Com uma voz francamente forte que lhe atribui uma idade superior àquela que celebra, "Caradecaballo" está incapaz de um discurso fluente e lúcido cuja justificação chega quando realmente é identificado todo o ambiente - e situação - em que ele e a sua "Avó" vivem.
Com uma oscilação no estilo de terror que inicialmente se apresenta como de um ambiente tenso e proto-macabro onde as personagens - disformes - parecem aprisionadas a um espaço que as consome e que se prepara para revelar um novo psicopata, Caradecaballo transforma-se com a revelação dos factos sobre essas mesmas personagens, numa curta-metragem onde esse terror assume proporções não só mais densas como reais e traumáticas pela possibilidade de ser ou se tornar numa eventualidade na vida de qualquer um.
Não revelando qualquer facto, o terror de Caradecaballo está não na potencial transformação macabra de uma personagem mas sim nos eventos traumáticos pela qual esta atravessa e que a transformam num pária que não se reconhece, não sabe quem é e cujo único refúgio encontrado se centra na encarnação de uma identidade desconhecida que conforta e confere uma segurança até então inexistente. Para lá de um terror imaginado onde o medo assume uma forma fantasmagórica, aqui o medo é - foi - algo real e transformador de uma realidade conhecida e presente que, no entanto, se mantém distante de uma mente que continua perturbada pela confirmação de um evento.
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9 / 10
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