Extinction de Miguel Ángel Vivas é uma longa-metragem espanhola - e o mais recente trabalho do realizador da curta-metragem portuguesa I'll See You in My Dreams (2005) - que foi exibido na Secção Serviço de Quarto da nona edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que terminará hoje no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Uma infecção viral transforma a maior parte da população em seres selvagens e irracionais cujo único propósito é a violência e a sede de carne humana. Nove anos depois da praga global, Patrick (Matthew Fox), Jack (Jeffrey Donovan) e Lu (Quinn McColgan) sobrevivem isolados em Harmony, uma pequena localidade onde a neve é uma constante.
Patrick e Jack já se conhecem desde a praga que vitimou Emma (Valeria Vareau), a mãe de Lu, mas algo os fez distanciarem-se e agora, mesmo sendo vizinhos, o silêncio reina entre ambos. Mas quando Lu vê um infectado perto da sua casa, Patrick e Jack têm de unir esforços para sobreviver àquele que poderá ser um novo ataque destas criaturas zombie.
Alberto Marini e Miguel Ángel Vivas escrevem o argumento de Extinction com base no conto de Juan de Dios Garduño Y pese a todo..., remetendo o espectador para um cenário pós-apocalíptico onde os poucos sobreviventes tentam ultrapassar um passado traumático de morte e de perda mas onde essa mesma sobrevivência se faz à custa de um silêncio entre os mesmos relegando assim a morte física a uma também psicológica... Afinal, quanto tempo consegue o Homem manter a sua sanidade quando à sua volta não escuta a voz de ninguém ou tão pouco consegue manter uma conversa que o faça passar os dias de forma mais "descontraída"?
É no seio deste ambiente inóspito quer social quer geograficamente falando que "Patrick" e "Jack" sobrevivem apenas com a constatação de que estão "lá" mas sem nenhuma proximidade que os ligue àquilo que de pouco vivo ainda existe num mundo aparentemente morto e com um passado problemático que os une e separa em doses iguais. O segredo mantido quase durante todo o filme sendo, no entanto, cada vez mais perceptível, acaba por se tornar no fio condutor de Extinction até ao momento em que finalmente as vis criaturas resolvem dar o ar da sua (pouca) graça, ameaçando quem ainda tem algum sangue quente nas suas veias. A infecção já não é contagiosa como fora outrora, nem tão pouco os humanos são detectáveis como o eram no início do contágio mas os perigos ainda existem e tornam-se numa nova realidade anos depois de se acharem solitários e únicos no mundo.
Um desses perigos é, para lá dos próprios zombies, o facto da mente começar a pregar as suas partidas... Será que tudo estava como foi deixado no dia anterior? Será que se viu aquilo que se pensa? Será que existe alguém do outro lado a ouvir aquilo que se transmite via rádio? As dúvidas apoderam-se da mente de um "Patrick" amargurado já com o seu próprio passado e com a perda que encontra a cada canto do seu caminho e às quais se juntam um sentimento de total desespero e solidão que aumenta a cada vez que tem de se deslocar à grande cidade para se abastecer e encontrar totalmente destruído aquilo que em tempos fora a sua ideia de civilização. Como encarar o mundo que se degradou tão lentamente quanto a sua mente e especialmente não existindo a harmonia - numa clara ironia a Harmony, localidade onde vivem - entre ele e "Jack" que lhe permitisse viver com uma tranquilidade impossível?
Extinction é de forma geral o tradicional filme pós-apocalipse onde um grupo de sobreviventes tenta ultrapassar um dia de cada vez e encontrar mais sobreviventes numa esperança de retomar a Humanidade e a civilização tal como outrora a conheceram. No entanto, também revela elementos primários do Homem como a incomunicabilidade entre um grupo tão restrito de pessoas como o fruto de um problema do passado e que se torna num perigo maior do que aquele que lhes ameaça a vida e que os impede de avançar mais além e esperar encontrar se algo resta daquilo que em tempos viveram. Com interpretações coerentes e fiéis ao género e um início promissor e de assumido suspense, Extinction prima principalmente pela sua caracterização e música original de Sergio Moure que recupera fielmente o ambiente tenso e de medo e, sem ser uma obra inovadora na medida em que segue fielmente o género em que se insere, consegue ainda assim ser um dos mais eficazes filmes de terror - suspense - que se pretende para este festival.
.
.
7 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário