Heir de Richard Powell é uma curta-metragem canadiana de ficção presente na secção de Curtas Internacionais do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa a decorrer actualmente no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Quando Gordon (Robert Nolan) na companhia do filho Paul (Mateo D'Avino) se encontra com Denis (Bill Oberst Jr.), um estranho com quem partilha um segredo, a relação entre pai e filho envereda por um caminho de decadência de consequências imprevisíveis.
Com um argumento da autoria do próprio Richard Powell, Heir é uma invulgar história de terror onde este, apesar de revestido com uma capa de estranhas criaturas que povoam os lugares mais obscuros das próprias sombras, assume contornos bem mais reais e grotescos do que aquilo que o espectador inicialmente ousa acreditar. A revelação deste horror é inicialmente revelada por "Gordon" que troca uns não tão misteriosos e-mail's com alguém que desconhecemos, num momento que o próprio espectador relativiza como pouco importante para a restante narrativa.
A relação entre os dois homens tendo "Paul" como um invulgar protagonista desperta, essa sim, a atenção do espectador que observa a tensa interacção entre os dois homens que se conheceram e, questionando não só o encontro como o correio electrónico e as fotografias que foram "trocadas" logo no início, antevê uma amizade imprópria, proibida e eventualmente mortal sem que, no entanto, consigamos realmente perceber quem será a vítima.
Entre "Gordon" e "Denis" é perceptível um estranho mal estar e nervosismo que se tornam difíceis de compreender. Difíceis até se perceber a dinâmica da relação entre os dois homens que parecem conversar como que de uma dependência ou de uma droga se tratasse, e a visita - não à pesca como se assume - mas para casa de "Denis" cedo se transforma e revela naquilo que eventualmente alguns consigam decifrar através dos pequenos e nem sempre evidentes detalhes. Os dois homens mais não são do que dois perigosos predadores que esperam na sombra pela próxima vítima inocente e cujo corpo definha quando não obtêm a sua droga... crianças inocentes. Os seus corpos transformam-se e revelam-se enquanto seres horrendos - numa brilhante e inteligente metáfora que inicialmente apresenta indivíduos normais mas que cedo os revela como aquilo que eles de facto são - prestes a capturar a próxima vítima para voltarem a encarnar a máscara que os esconde dos olhares do mundo. Os seus covis são lugares imundos e impuros, cujo fedor é reconhecido por aqueles que ali não pertencendo reconhecem imediatamente sendo, no entanto, o único local onde conseguem perpetrar os seus violentos e hediondos crimes longe dos olhares alheios. As suas transformações são imediatas e precisam estar escondidos do mundo para poderem continuar a existir mas, no entanto, aos poucos revelam-se pelos seus comportamentos pouco naturais e uma sede voraz que não conseguem controlar. Para eles tudo vale... não têm limites além daquele que precisam alimentar para esconder o monstro que a sua pele oculta.
Com uma música original muito bem construída e adaptada ao universo que pretende retratar - um bravo ao compositor Christopher Guglick - Heir deixa apenas uma dúvida no ar... irá "Gordon" proteger o seu herdeiro ou entregá-lo às garras de um monstro que o deseja?!
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7 / 10
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