Goddess of Love de Jon Knautz é a mais recente longa-metragem do realizador de Jack Brooks: Monster Slayer (2007) e The Shrine (2010) presentes nas edições de 2009 e 2010 do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, e que agora regressa ao São Jorge com uma história de amor e obsessão numa espiral descendente à loucura.
Venus (Alexis Kendra) é uma artista plástica e stripper. Aparentemente solitária, Venus deixa-se levar pelos conselhos de Chanel (Monda Scott) uma outra stripper que a aconselha a encantar algum cliente para assim conseguir mais dinheiro.
Quando Brian (Woody Naismith) chega ao clube nocturno, Venus sente por ele uma atracção imediata que ultrapassa a simples relação prestador de serviços vs. cliente. Mas, o que acontece quando os fantasmas do passado de Brian são suplantados por aqueles guardados por Venus?
Alexis Kendra une-se a Jon Knautz como produtora e argumentista de Goddess of Love numa história que se centra não necessariamente no potencial amor entre "Venus" e "Brian" mas sim na espiral rumo à loucura que a stripper interpretada por Kendra denota desde os primeiros instantes desta história. São sinais desta loucura - uns perceptíveis para o espectador outros apenas compreensíveis quando todos os mistérios são finalmente resolvidos - elementos como a música estridente que escuta do apartamento vizinho, conversas que escuta na loja que frequenta mas que percebemos ninguém estar a tê-las e, a mais evidente, os pequenos momentos em que a sua concentração se apaga dando lugar a pequenos espasmos de violência que não teriam outra explicação lógica.
Mas, Goddess of Love vai mais longe na sua abordagem à loucura não ignorando todos os demais intervenientes que lidam com "Venus" mas sim entregando um olhar honesto - e preocupante - sobre aqueles que convivem no limite entre a sanidade e a sua falta oscilando entre um e outro não conseguindo decifrar lucidamente qual é qual e quando se manifesta. No fundo, a perspectiva aqui retratada não é a do "outro" mas sim na primeira pessoa, onde o espectador acompanha "Venus" na sua vida, nas suas tarefas nem sempre relevantes para a história, mas que nos mostra uma mulher banal igual a tantas outras que parece ter encontrado o amor da sua vida e que, num ápice, este foge-lhe entre os dedos preferindo a companhia e os prazeres carnais de outra.
Na prática o espectador nunca sabe quem foi "Venus". Sabemos que até certa altura da sua vida foi bailarina clássica mas que por motivos desconhecidos abandonou a profissão dedicando-se agora a uma dança mais "exótica" e a outra expressão de arte. Sabemos também que ela é uma mulher diferente. Distante das colegas de profissão e com um apartamento muito peculiar onde tudo está ordenado milimetricamente tendo cada coisa o seu lugar específico. No seio dos seus pertences uma imagem que se destaca por diversas vezes tendo inclusive uma pseudo materialização... A imagem de um homem com cabeça de burro que segundo a interpretação de sonhos é a união de um lado agressivo (o homem) com a falta de percepção e discernimento (a cabeça de burro). No fundo, um perfeito paralelismo entre o mundo dos símbolos que ali tentam estabelecer uma relação com ao estado psiquiátrico de "Venus", uma mulher claramente perdida entre aquilo que é real... e o que não é.
Se o "Brian" de Woody Naismith é, à partida, a personagem central no sentido de ser a motivadora de todas as (de)pressões de uma mente perturbada é, no entanto, a "Venus" de Alexis Kendra que domina todo este filme. É ela a "Deusa do Amor" - Vénus de Milo - que tal como a deusa do Olimpo massacrou todos aqueles que se lhe opuseram nos seus mais variados caprichos e desejos. É ela que perturbada e perturbadora entrega ao espectador toda uma perspectiva da sua (auto-)vitimização às mãos daqueles que parecem concentrados e concertados em fazer com que ela não atinja os seus objectivos - neste caso os sentimentais - mais imediatos podendo satisfazer a tal carência que revela. Kendra tão depressa se revela como frágil e desprotegida como rapidamente se transforma num qualquer ser perturbado e cujo olhar denota uma profunda e sentida loucura prestes a ser exteriorizada contra quem com ela se depara.
Assim, e através de um olhar na primeira pessoa, o espectador acompanha não aqueles que são as vítimas de uma mente perturbada - pelo contrário estes são transformados em seres indiferentes e até por vezes responsáveis pela sua desgraça - mas sim a própria mente em espiral de decadência rumo à loucura e todos os seus actos inicialmente de vítima desprotegida e que rapidamente se transforma na verdadeira fonte de todos os problemas entregando desta forma uma duplicidade de perspectivas ao espectador que apenas percebe a real dimensão dos actos destas personagens já bem perto de um final que nem sempre é esperado tal como acontece.
Jon Knautz regressa assim em muito boa forma ao MOTELx depois de em 2010 ter participado com o conto de terror The Shrine entregando, ao mesmo tempo, uma memorável interpretação a Alexis Kendra que se assemelha não no conteúdo mas sim na forma ao melhor de Mia Farrow em Rosemary's Baby, de Polanski onde o espectador se mantém na incerteza sobre a realidade e a demência de uma mente que se perdeu no espaço.
Alexis Kendra une-se a Jon Knautz como produtora e argumentista de Goddess of Love numa história que se centra não necessariamente no potencial amor entre "Venus" e "Brian" mas sim na espiral rumo à loucura que a stripper interpretada por Kendra denota desde os primeiros instantes desta história. São sinais desta loucura - uns perceptíveis para o espectador outros apenas compreensíveis quando todos os mistérios são finalmente resolvidos - elementos como a música estridente que escuta do apartamento vizinho, conversas que escuta na loja que frequenta mas que percebemos ninguém estar a tê-las e, a mais evidente, os pequenos momentos em que a sua concentração se apaga dando lugar a pequenos espasmos de violência que não teriam outra explicação lógica.
Mas, Goddess of Love vai mais longe na sua abordagem à loucura não ignorando todos os demais intervenientes que lidam com "Venus" mas sim entregando um olhar honesto - e preocupante - sobre aqueles que convivem no limite entre a sanidade e a sua falta oscilando entre um e outro não conseguindo decifrar lucidamente qual é qual e quando se manifesta. No fundo, a perspectiva aqui retratada não é a do "outro" mas sim na primeira pessoa, onde o espectador acompanha "Venus" na sua vida, nas suas tarefas nem sempre relevantes para a história, mas que nos mostra uma mulher banal igual a tantas outras que parece ter encontrado o amor da sua vida e que, num ápice, este foge-lhe entre os dedos preferindo a companhia e os prazeres carnais de outra.
Na prática o espectador nunca sabe quem foi "Venus". Sabemos que até certa altura da sua vida foi bailarina clássica mas que por motivos desconhecidos abandonou a profissão dedicando-se agora a uma dança mais "exótica" e a outra expressão de arte. Sabemos também que ela é uma mulher diferente. Distante das colegas de profissão e com um apartamento muito peculiar onde tudo está ordenado milimetricamente tendo cada coisa o seu lugar específico. No seio dos seus pertences uma imagem que se destaca por diversas vezes tendo inclusive uma pseudo materialização... A imagem de um homem com cabeça de burro que segundo a interpretação de sonhos é a união de um lado agressivo (o homem) com a falta de percepção e discernimento (a cabeça de burro). No fundo, um perfeito paralelismo entre o mundo dos símbolos que ali tentam estabelecer uma relação com ao estado psiquiátrico de "Venus", uma mulher claramente perdida entre aquilo que é real... e o que não é.
Se o "Brian" de Woody Naismith é, à partida, a personagem central no sentido de ser a motivadora de todas as (de)pressões de uma mente perturbada é, no entanto, a "Venus" de Alexis Kendra que domina todo este filme. É ela a "Deusa do Amor" - Vénus de Milo - que tal como a deusa do Olimpo massacrou todos aqueles que se lhe opuseram nos seus mais variados caprichos e desejos. É ela que perturbada e perturbadora entrega ao espectador toda uma perspectiva da sua (auto-)vitimização às mãos daqueles que parecem concentrados e concertados em fazer com que ela não atinja os seus objectivos - neste caso os sentimentais - mais imediatos podendo satisfazer a tal carência que revela. Kendra tão depressa se revela como frágil e desprotegida como rapidamente se transforma num qualquer ser perturbado e cujo olhar denota uma profunda e sentida loucura prestes a ser exteriorizada contra quem com ela se depara.
Assim, e através de um olhar na primeira pessoa, o espectador acompanha não aqueles que são as vítimas de uma mente perturbada - pelo contrário estes são transformados em seres indiferentes e até por vezes responsáveis pela sua desgraça - mas sim a própria mente em espiral de decadência rumo à loucura e todos os seus actos inicialmente de vítima desprotegida e que rapidamente se transforma na verdadeira fonte de todos os problemas entregando desta forma uma duplicidade de perspectivas ao espectador que apenas percebe a real dimensão dos actos destas personagens já bem perto de um final que nem sempre é esperado tal como acontece.
Jon Knautz regressa assim em muito boa forma ao MOTELx depois de em 2010 ter participado com o conto de terror The Shrine entregando, ao mesmo tempo, uma memorável interpretação a Alexis Kendra que se assemelha não no conteúdo mas sim na forma ao melhor de Mia Farrow em Rosemary's Baby, de Polanski onde o espectador se mantém na incerteza sobre a realidade e a demência de uma mente que se perdeu no espaço.
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"I Will Love You Forever"
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