sexta-feira, 15 de abril de 2011

Coming Home (1978)

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O Regresso dos Heróis de Hal Ashby, filme vencedor de três Oscars, nomeadamente para Jon Voigt como Actor, Jane Fonda como Actriz e para o Argumento Original de Nancy Dowd, Waldo Salt e Robert C. Jones, relata-nos uma história decorrida nos tempos da guerra do Vietname.
Não é um filme que decorre nos campos de batalha no próprio terreno mas sim sobre os seus efeitos naqueles que voltam e naqueles que ficam para trás, que é como dizer nos soldados regressados a casa e nas famílias que muitos deles deixaram para trás.
Sally Hyde (Fonda) vê o seu marido Bob (Bruce Dern) ser enviado para a guerra do Vietname. Tendo ficado sózinha em casa, decide voluntariar-se para trabalhar num hospital onde se encontram muitos dos feridos que regressaram a casa vindos daquele conflito. É aqui que reencontra Luke Martin (Voigt) com quem estudou no liceu e com quem inicia uma turbulenta relação que termina em compreensão, amizade e amor.
Sally encontra-se assim dividida entre o seu marido que sente fazer o dever patriótico estando naquela guerra e Luke o homem que a fez novamente despoletar sentimentos que tinha, até então, adormecidos e esquecidos.
Este filme que saiu vencedor dos três Oscars já referidos, foi ainda nomeado em mais cinco categorias. Bruce Dern como Actor Secundário, Penelope Milford como Actriz Secundária, Montagem, Realizador e Filme. Numa época em que os filmes sobre o Vietname estavam muito presentes na sociedade norte-americana é, até certo ponto, de espantar o destaque que este havia tido ao ponto de conquistar dois dos mais importantes prémios da indústria cinematográfica mundial. Talvez isso se deva ao próprio mediatismo da dupla principal de actores, e muito em especial à própria Jane Fonda que sempre esteve muito presente em acontecimentos que dessem destaque ao próprio conflito.
Muitos são os pontos fortes deste filme. Podemos começar imediatamente pelas três interpretações protagonistas. Fonda, Voigt e Dern são de facto uma tripla coerente e muito competente na química que é suposto trocarem entre si. Jane Fonda ao interpretar Sally Hyde é brilhante ao ponto de inicialmente nos entregar uma mulher frágil e afastada de qualquer protagonismo em favor do seu marido Bob "Dern" Hyde, um militar de alta patente que era agora destacado para o Vietname.
A transformação crescente que a actriz tem no filme é digna do Oscar que venceu. Fonda transforma-se no exacto momento que conhece Luke (Voigt). Passa de uma mulher isolada e sem qualquer voz, para uma mulher que se sente viva e que desperta em si sentimentos, sensações e opiniões que, até então, nem ousaria dizer em voz alta.
Mas não é só ela que "sente" estas transformações. O duo masculino protagonista também as demonstra. Enquanto Bob era um marido preocupado e atencioso antes de embarcar para o conflito e que depois dele se mostra indiferente e violento para com a mulher, mostrando aqui uma clara crítica ao efeitos nocisos que este conflito teve para com toda uma geração, também Luke é o retrato daqueles que tendo regressado a casa foram ignorados e esquecidos, até mesmo afastados do olhar de um público cada vez mais preocupado, e que aos poucos tendo obtido a atenção de alguém que com ele genuinamente se preocupasse, redescobriu o amor e a atenção de que tanto necessitava.
Este filme que muito provavelmente não tem hoje o mesmo impacto que teve nos anos 70 do século passado, em que este conflito era ainda bem vivo e presente na memória da sociedade norte-americana, não deixa no entanto de ainda nos nossos dias ser um perfeito exemplo daquilo que toda uma geração, que foi perdida, passou. É aqui que tem grandes semelhanças com o seu equivalente deste já não tão novo século, The Hurt Locker. Outro conflito, outra geração, mas muitos sentimentos e muitas semelhanças entre ambos e, como exemplo comparativo, são de facto muito bons para ilustrar como independentemente dos anos que as separam mas as duas épocas/sociedades têm muito em comum.
Para aqueles que gostam deste género de filmes, confesso que sou um deles apesar de ir muito céptico antes de iniciar o seu visionamento, garanto que têm aqui uma boa aposta não só de entretenimento, pois afinal trata-se de um filme, como também de um claro e bom exemplo que retrata as ansiedades e medos de uma geração apesar de já estar separada das nossas por uns quantos anos.
Um aplauso para o trio de actores, muito em especial para Fonda e para Voigt que são de facto as almas de todo este filme. Vale muito a pena ver, mesmo que estejam à partida indecisos como eu me encontrava.
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"Luke Martin: I have killed for my country, or whatever, and I don't feel good about it. Coz there's not enough reason, man, to feel a person die in your hands, or to see your best buddy get blown away."

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7 / 10
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