quinta-feira, 14 de maio de 2015

Rubita (2014)

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Rubita de Jota Linares é uma curta-metragem espanhola de ficção presente na secção Nacional da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu até ao passado dia 9 de Maio na Cantábria, em Espanha.
Norma (Maggie Civantos) imita Marilyn Monroe. Com uma peruca loira e um sinal característico perto da boca, coloca-se frente à câmara de Penéope (Marta Hazas) para uma tentativa de recriar a última sessão de fotos da diva norte-americana.
No entanto, há medida que o tempo passa as expectativas diminuem e o ambiente entre as duas mulheres torna-se tenso e intimidante ao ponto de se converter num jogo algo perverso de assédio e ameaça.
Paco Anaya e Jota Linares assinam um argumento que cruza o melhor do bom cinema dramático onde o conflituoso passado de duas personagens intervém para um confronto de personalidades do qual ninguém pode sair a ganhar. Livre de artifícios obrigando assim o espectador a concentrar-se única e exclusivamente nas interpretações de duas magníficas actrizes, Rubita leva-nos a uma interessante viagem onde por um lado o desejo e a perda se misturam e por outro a esperança e a vontade de viver dão lugar a dois imediatos opostos.
Se por um lado Civantos capta a essência de uma mulher doce e desesperadamente à procura de quem a ame, deixando-a portanto susceptível e disponível para o amor de um homem com quem se cruza, por outro lado Hazas interpreta uma mulher amargurada e eventualmente no limite que ama desesperadamente... o mesmo homem - "Román" (Ignacio Mateos).
O diálogo entre estas duas mulheres revela as suas essências; da mulher solitária e insegura que encontra finalmente o amor de Civantos, ao desespero de mulher atraiçoada e infeliz dentro da sua vida anteriormente completa a que Hazas dá corpo, ambas revelam uma alma perdida, susceptível de ser influenciada e acima de tudo o mais desesperadas. Desesperadas pelo amor... o que têm e o que perderam. Desesperadas por não conseguirem encontrar a plenitude ou por no percurso das suas vidas o terem perdido. Desesperadas por saberem que estão perante a "outra", independentemente de qual a sua própria perspectiva e principalmente desesperadas por compreenderem que uma delas - senão as duas - irão sair perdedoras de um duelo pelo qual não optaram.
O diálogo é, aliás, a essência de Rubita. Diálogo esse que sob uma magistral direcção de Jota Linares dá não só alma às referidas personagens como também um corpo aos seus medos, incertezas, receios e inseguranças que levam o espectador a esquecer tudo o que o rodeia. Concentramo-nos nas interpretações destas duas magníficas actrizes e sabemos que independentemente de acontecer - ou não - algo, assistimos às suas transformações... ao tal "ponto de viragem" que irá definir os seus destinos e que, ao mesmo tempo, as define enquanto seres. A câmara de "Penélope" funciona - aliás - como o perfeito confessionário que escuta, também ele desesperadamente, os desabafos de uma mulher que se deixou arrebatar pela imagem de um amor que poderá ou não ter. No entanto, esse confessionário é, ao mesmo tempo, um dedo acusador das suas acções, das suas incertezas e principalmente de uma presença que é tida - por "Penélope" - como invasora de um espaço que não era o seu. Se uma "Norma" demonstra insegurança, incerteza, algum negativismo e até uma certa jovialidade ou até mesmo inocência, "Penélope" afirma-se como a mulher amargurada, desapontada, traída e disposta a tudo para recuperar a dignidade que sente ter perdida. De alguma forma ambas são um seu próprio complemento de uma única mulher naquilo que poderíamos imaginar como o antes e depois de uma Marilyn Monroe que as suas próprias características físicas deixam adivinhar.
É esta a genialidade de Linares, ou seja, a capacidade de transformar todo um filme curto num história de actores, de interpretações, de personagens, de passados, de presentes e de uma ausência de futuros comuns ou individuais. Uma história dirigida ao âmago das emoções, das experiências e das sensações que apela a que o espectador entenda aquelas vivências, os seus sentidos e principalmente as suas frustrações, ambições e desejos... o sempre eterno desejo de amar e ser amado.
Rubita exala um ambiente etéreo como se nos encontrassemos num outro espaço distante e desconhecido, transformado pela magnífica direcção de fotografia de Manolo Pavón. Percebemos que aquele local muito se aproxima de um purgatório onde ambas (se) expõem e aos seus pensamentos. Tateiam a presença da outra de forma a conhecê-la, a perceber quem ela é e, de certa forma, a conseguirem também dar-se a conhecer tendo sendo a presença de uma genial direcção de actores de Jota Linares que se afirma como o terceiro - não presente - elemento desta brilhantemente dirigida curta-metragem.
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9 / 10
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