Negação de Mick Jackson é a mais recente longa-metragem do realizador de The Bodyguard (1992) e Volcano (1997) e conta com Rachel Weisz como protagonista ao interpretar Deborah Lipstadt, a historiadora e investigadora sobre a temática do Holocausto e do seu duro processo judicial contra David Irving, um negacionista do mesmo.
Depois de anos dedicados à investigação do Holocausto e enquanto conferencista em palestras sobre a verdade histórica, a historiadora e autora Deborah Lipstadt é confrontada com a oposição de David Irving, um célebre negacionista que levanta contra ela uma acção judicial onde terá de apresentar provas para a existência de câmaras de gás em Auschwitz e, de certa forma, provas de que o Holocausto não é uma mera acção de propaganda dos "vencedores da guerra".
Baseado nos acontecimentos verídicos da escritora e tendo como base a obra History in Trial My Day in Court with a Holocaust Denier, Denial é, para lá de um filme sobre o Holocausto, uma história sobre a importância da verdade e da memória histórica, tão esquecida nos dias que hoje correm apesar da acção desta longa-metragem se centrar na década de 90 passada.
Mick Jackson leva o espectador não para os campos de concentração no decorrer dos trágicos acontecimentos dos anos 40, mas sim para a realidade na actualidade onde os mesmos são alvos de convenientes distorções que tentam não só apagar como menosprezar os horrores dos campos, da História e dos milhões de vidas que se perderam das mais variadas e bárbaras formas. Aqui, a abordagem dada na primeira pessoa através dos relatos de Lipstadt, a autora e investigadora questionada e posta em causa nos estudos efectuados ao longo de toda uma vida, alertam não só para a importância de manter a História viva - principalmente todos os seus horrores como forma de prevenção para que nunca mais se repitam o que, infelizmente, a mesma década em que ocorrem estes acontecimentos viria provar que a História repete-se, de facto - mas principalmente a sua memória... A memória daqueles que foram vítima de um brutal regime e de uma guerra que os condenou ao extermínio, a memória dos locais que foram trágicos palcos destes assassinatos em massa e principalmente o direito às e das gerações futuras - as nossas e as que virão - de conhecerem os dias negros da Humanidade que se deixou levar pelos instintos megalómanos e assassinos de um cruel e brutal ditador.
O mais trágico - e infelizmente real - desta história sobre a História reside principalmente na forma como se relata a "obrigação" de uma historiadora a defender um acontecimento em tribunal e não o seu negacionista como propagandista negativo e com claras intenções políticas e sociais alimentadas por um ego exacerbado, como se a primeira fosse a responsável de uma manutenção viva da memória que aqui fora colocada em questão. No entanto, e como um factor que não direi benéfico mas sim como uma consequência positiva de algo absurdo, residiu no facto de poder ter sido judicialmente desacreditado o referido negacionista dando uma comprovação oficial - não que necessária - para todo um período histórico que tende (tendia?!) a ficar perdido no esquecimento de uma sociedade que, para o bem e para o mal, se sentia ter "avançado" no tempo deixa para trás a já mencionada memória relegada a um patamar de "menos importante".
Para lá de toda a dimensão judicial ilustrada por Denial, é a forma como os seus protagonistas interagem e com a História que se torna mais cativante nesta longa-metragem. Ou seja, se a temática do negacionismo deve ser combatida e defendida assim a preservação da memória tão importante para a continuidade coerente da História, não será menos importante referir que os seus intervenientes, obrigados a reunir provas que sustentassem aquilo que se acreditava ser e estar confirmado, têm um confronto imediato com esse mesmo lado da História que os "chamou" a comprovar com os seus olhos aquilo que ainda hoje reside e subsiste tantas vezes esquecido. No fundo, se tantos de "nós" ainda não estiveram às portas e dentro de um campo de concentração como poderemos - para estes negacionistas - comprovar que eles realmente existiram?! Desta forma, a importante acção e luta de Deborah Lipstadt ganha especial importância e relevância pois aproxima toda uma comunidade - académica ou não - da sua História enquanto que, por outro lado, o advogado que defendeu a sua causa, "Richard Rampton" (Tom Wilkinson) viveu na primeira pessoa o legado desse lado negro da História ao pisar o terreno e testemunhando com os seus próprios olhos o local onde ainda hoje residem as almas e os espíritos de milhões de pessoas brutalmente assassinadas naquele que é o maior campo de concentração do mundo... Auschwitz-Birkenau.
Assim, e dito de outra forma, Denial - livro em que foi inspirado e claro a longa-metragem em questão - ganha especial dimensão não pela revisita aos campos de concentração mas sim pela luta em nome e pela dignidade daqueles que neles pereceram e que hoje são alvo de uma tentativa de segunda "morte"... aquela tida pelo esquecimento.
Com uma dinâmica interpretação de Rachel Weisz - mais uma - como "Deborah Lipstadt" e um inspirado Tom Wilkinson como o advogado "Richard Rampton" é, por sua vez, um tenebrosamente maravilhoso Timothy Spall que com o seu "David Irving" consegue conquistar este filme... não pelas ideias do negacionista que retrata, mas como de forma inspirada consegue recriar todo um presente terror sobre o passado, uma vontade de o reescrever e apagar lançando um branqueamento da História tão desejado pelo "outro lado". Não sendo o mais inspirado dos filmes desta temática é, no entanto, um interessante documento sobre os que tentam negar a História e aqueles que vivem para que ela seja preservada... tal como é.
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"Deborah Lipstadt: (...) some people are saying that the result of this trial will threaten
free speech. I don't accept that. I'm not attacking free speech. On the
contrary, I've been defending it against someone who wanted to abuse it.
Freedom of speech means you can say whatever you want. What you can't
do is lie and expect not to be held accountable for it."
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