San Andreas Mega Quake de H. M. Coakley (EUA) relata a história ficcionada de um conjunto de cientistas que descobrem estar prestes a ocorrer na California o tal "Big One", um terremoto de grandes dimensões que irá lançar parte do território para o fundo do mar transformando o restante numa ilha separada do continente. No entanto, os seus estudos revelam que "despertando" um vulcão adormecido poderá ser a solução para desviar a energia provocada pelo terremoto evitando as suas devastadoras consequências.
Desengane-se o espectador que julga assistir a uma qualquer produção mais ou menos equilibrada dos tradicionais filmes-catástrofe que tão oportunamente povoam os nossos ecrãs revelando uma corrida sem fim à mais espectacular destruição do espaço, das infraestruturas e, claro, da própria vida humana. San Andreas Mega Quake é, para além de um filme que pretende ser do género, uma verdadeira ode ao desastre sim... mas àquele provocado com toda a amadora e mal executada produção desta longa-metragem que para lá dos lugares comuns que este tipo de cinema normalmente tende a criar é de verdade... uma catástrofe de proporções bíblicas ao mau gosto.
A longa-metragem de Coakley - claro fã do estilo que se propõe a filmar e do qual conhece todos os pequenos e habituais lugares comuns - e com argumento de Ryan Ebert e Geoff Meed (também eles conhecedores do género), é uma cópia fiel, barata e sem grande paixão de obras semelhantes que bateram records de bilheteira... aqui lançado (muito provavelmente) directamente para televisão e com um apurado gosto para tornar reais todos os momentos do mau gosto. Começamos pelo tradicional dilema da família destruída pelas agruras de uma vida profissional mal resolvida em que o casal - apaixonado mas impossibilitado de manter uma vida em comum porque um deles traiu o espírito do casal com a profissão - se mantém em lados opostos do que é "correcto" mas que o temido evento natural irá agora forçosamente aproximar não sem antes arruinar um novo potencial romance amoroso de um dos seus que... mais não é do que um flirt sexual ocasional e sem qualquer consequência real... Daqui passamos pelo afastamento da prole do casal - filha quase da mesma idade da mãe num igualmente pobre casting de actores que escolheu aqueles com melhor "aspecto" que fizesse o espectador esquecer que os textos não devem muito à inteligência -, que se debate com a sua potencial morte numa cidade arrasada não só pelos abalos sísmicos como também pelo drama de salvar alguém que "curiosamente" se encontrava num prédio em ruínas numa cidade agora deserta e claro... passando pelos (não tão) elaborados efeitos especiais que colocam o espectador a observar um helicóptero telecomando a passar por um real e militar com a credibilidade zero que qualquer um de nós confere aos modelos de aeromodelismo que encontramos num qualquer jardim das nossas cidades, aqui filmados como um elaborado efeito visual que esta pobre "obra" ousou criar. Daqui a um canhão capaz de provocar ondas de energia capazes de eliminar a dita gerada pelo sismo... é um pequeno passo que apenas uma mente fértil mas pouco inspirada conseguiria dar vida.
Os diálogos que oscilam entre a redenção familiar, as frases debitadas ao vento sem qualquer credibilidade sentimental que os laços familiares poderiam fazer adivinhar ou mesmo o desinteresse com que se atribui a (falta de...) alma às personagens, fazem de todo este filme uma experiência bizarra que lança o espectador num misto de incerteza sobre o facto de estar (ou não) apreensivo com as verdadeiras intensas dos criadores desta obra. Por momentos, e ainda que pareça trágica, o espectador dá por si a esperar que o "Big One" realmente ocorra e que todo aquele desastre acabe... de vez! Os dramas parecem não acabar e as ocorrências e eventualidades surgem literalmente ao virar da esquina onde, quando tudo parece estar prestes a terminar e, de repente, surge um último e elaborado salvamento que afinal resgata os protagonistas da sua iminente morte. Porquê ó Deus... porquê?!!!
San Andreas Mega Quake não falha na sua pretensão de criar um filme-catástrofe mas sim na capacidade de transformar o filme, e não o evento, na verdadeira tragédia. Não consegue o empenho de The Day After Tomorrow (2004), de 2012 (2009) ou tão pouco do recente How It Ends (2018), de David M. Rosenthal que mesmo sem muito revelar ao longo de toda a obra consegue, no entanto, expôr toda uma atmosfera de tensão que faz o espectador adivinhar que "do outro lado" pouco ou nada daquilo que conhecera ainda existe. Aqui, e correndo o risco de permanecer apenas mórbido, o espectador ri-se sim da desgraça... mas daquela provocada por todos os absurdos pouco comuns de alguém que atravessa uma tragédia... aquela em que este filme coloca não as suas personagens mas sim todo e qualquer um de nós que arrisca ver... "isto".
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Horrível argumento e horríveis interpretações. Ainda me ri quando estão a agradecer ao militar no helicóptero e rebenta a hélice
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