segunda-feira, 7 de abril de 2025

Nunca Mais é Demasiado Tempo (2024)


Nunca Mais é Demasiado Tempo de Bruno Ferreira (Portugal) é uma curta-metragem que, à primeira vista, seduz de imediato pela sua apresentação de filme por detrás do filme. Ou seja, quem são as pessoas que "existem" por detrás da câmara e o que fazem até à conclusão da obra cinematográfica per si.
No início das filmagens da sua nova obra cinematográfica, um realizador e a sua produtora encontram-se com uma cartomante para obterem mais informações sobre a potencial narrativa do filme. À medida que o tempo passa as previsões da cartomante revelam-se mais próximas da realidade do que aquilo que seria de esperar.
Dividido em três fases distintas, sendo elas "O Desespero", "O Reconhecimento" e "A Cura", esta curta-metragem centra-se nas fases de produção da mesma encontrando, em cada uma delas, elementos e dificuldades com que a equipa de produção se depara. No primeiro instante instala-se o mencionado desespero quando a actriz protagonista do filme não pode comparecer nas filmagens graças a uma virose contraída. Aqui a equipa perde-se nos pequenos afazeres possíveis, das refeições ao poder filmar uns quantos cenários que podem vir a embelezar a curta-metragem conferindo-lhe dinâmica de tempo e espaço e preservar o máximo possível aquilo que está irremediavelmente "parado" face às inevitabilidades da vida passando pro banais conversas que preenchem um dia que está sem qualquer desfecho positivo para a produção do dito filme. No segundo instante de reconhecimento de espaço e das condições em que todos se encontram com um filme por terminar e sem aparente resolução à vista, passamos a conhecer como observadores participantes das dinâmicas da equipa técnica, os seus pensamentos, o que pretendem e a tradicional conversa de "encher saco" para que o dia passe com uma aparente e ilusória sensação de mais um dia cumprido. Filmam-se momentos e instantes ocasionais onde, ao mesmo tempo, surge a dúvida e o receio da continuação e até da própria validação deste trabalho que parece condenado. Finalmente, e quando o caos já está instalado, a cura deste processo prende-se com uma afirmação da produtora que aqui se assume na primeira pessoa como aquela que tenta levar tudo a bom porto. Num processo quase de auto-descoberta que transcende a sua profissão e o seu "eu", encontramo-la como a figura central de uma construção fílmica na qual, em circunstâncias normais, nunca sequer se interviria apesar de tudo controlar. Aqui que o controlo lhe escapou sendo impedida de dar corpo às ideias pensadas da obra cinematográfica, a produtora enquanto sua personagem principal intervém num percurso de crise existencial onde (se) questiona quase filosoficamente o "onde estou... quem sou eu... para onde vou?".
O que mais se tornou apelativo nesta curta-metragem foi observar quase em primeira mão aquilo que está por detrás do produto final que observamos nos grandes ecrãs de uma qualquer sala de cinema. Aqui, longe do estrelato da mesma, temos o "ganhar corpo" das pessoas/personagens que constroem o filme assumindo eles, quase instintivamente, o protagonismo da obra e confirmando as predestinações de uma vidente também ela icónica que tudo "previu". O resultado final é, também ele, objecto do "estrelato" da sala de cinema mas, no entanto, são aqueles que nunca vemos que aqui ganham forma como seus principais protagonistas. Os que escrevem, dirigem, produzem, iluminam, decoram ganham esse corpo mais não seja pela confirmação das suas vozes. Os que estão para lá dos olhares do público - muitos continuam como tal - mas compreendemos que ali estão na eterna "espera" da obra concluída. No final, a fuga... das responsabilidades, do "eu", do que poderia ter sido, daquilo que está a ser... de tudo e de todos como única forma de suportar o (talvez) fracasso ou o medo de se poder ter construído algo que, sendo diferente, é tão válido como aquilo que inicialmente se planeou e projectou.

7 / 10

Sem comentários:

Enviar um comentário