terça-feira, 27 de outubro de 2009

Mal Nascida (2007)

Mal Nascida é um título português que me despertou logo à partida interesse por ser um filme realizado por João Canijo realizador cuja obra me tem deixado sempre francamente bem impressionado.
Ao começar assim a visionar o filme deparamos com um cenário sombrio e carregado. O Portugal interior. As histórias de família mal resolvidas. Os maus tratos. As traições. Temos aparentemente tudo aquilo que nos pode despertar interesse, e dito isto àcerca de um filme português é, na minha opinião, já um marco digno de registo.
À medida que a acção decorre este Mal Nascida (mal amada tal como nos dizem algumas passagens do trailer) vieram-me à memória velhas imagens do Feios, Porcos e Maus de Ettore Scola, especialmente ao ver as cenas das refeições e os comportamentos entre personagens. Para quem já viu o filme de Scola acho que perceberá a comparação.
Resumindo MUITO o filme para que não estrague o efeito surpresa de quem ainda não o viu, a acção gira em torno de Lúcia, personagem brilhantemente interpretada pela actriz Anabela Moreira que foi nomeada ao Globo de Ouro por este filme, uma jovem mulher mal amada pela mãe (interpretada pela magnífica Márcia Breia) e mal tratada pelo padrasto (um excelente Fernando Luís). Dito só isto pode parecer que o filme é apenas "mais um", mas o certo é que ele tem muito mais e é uma pena se não fôr devidamente apreciado pelo nosso público só porque é um filme português (infelizmente isto ainda nos afasta muito das salas de cinema).
Temos de tudo... a decadência das personagens... a violência não só física mas também, e especialmente, a psicológica. E apesar de não nos conseguirmos interligar com nenhuma das personagens pois todas são à partida o oposto da sanidade de qualquer um, o que é certo é que em momentos conseguimos ser condescendentes com algumas delas.
A solidão, o medo, o incesto, a vingança, a violência. Todos estão presentes nesta obra de Canijo tal como já haviamos visto há alguns anos com o seu Sapatos Pretos, mas aqui a um nível bem mais drástico e ao mesmo tempo cativante.
Além dos três actores já referenciados, dou graças por finalmente começarem a lembrar-se do Gonçalo Waddington para grandes papéis no cinema (também ele nomeado ao Globo de Ouro por este filme). E que venham mais papéis destes que são um prazer de se ver!
Ao argumento não há nada a apontar. Ao décor idem aspas, pois cria o ambiente perfeito para assistirmos a uma história de decadência, dor e sem qualquer tipo de redenção no interior rural do país.
Isto sim é, para aqueles que quiserem apreciar, o verdadeiro cinema português! João Canijo... venha o próximo.

8 / 10

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