A Minha Bela Lavandaria de Stephen Frears além de ter sido nomeado para o Oscar de Melhor Argumento Original da autoria de Hanif Kureishi, foi também o filme que fez despertar as atenções mundiais para um dos seus principais actores, o britânico Daniel Day-Lewis.
Este filme cuja acção se desenrola numa Grã-Bretanha Thatcheriana do início da década de 80 do século passado, conta-nos os dois lados da história dos Hussein, uma família paquistanesa a residir no país. Nasser (Saeed Jaffrey) é um abastado empreendedor que nem sempre respeita as leis, estando envolvido em inúmeros negócios mais ou menos legais que lhe permitam um enriquecimento rápido e fácil. Por sua vez Ali (Roshan Seth), o seu irmão alcoólico e outrora um reputado jornalista no Paquistão, vive com o seu filho Omar (Gordon Warnecke, numa das mais fortes e sentidas interpretações deste filme), uma vida empobrecida e longe do sucesso que tivera, principalmente devido aos seus ideais de esquerda que não se adequam à presente realidade britânica.
Como forma de ajudar a família, Nasser dá a Omar pequenos trabalhos que lhe garantem algum dinheiro mas os objectivos do seu sobrinho vão um pouco mais além do que aquilo que esperava e propõr ao tio gerir a sua lavandaria com a ajuda de Johnny (Day-Lewis), um ex-amigo de infância agora punk com quem Omar irá reatar não só a sua velha amizade como também desenvolver uma intensa e escondida paixão.
Numa Londres sempre muito à frente do seu tempo onde os tabus convivem muito harmoniosamente com as convenções e o modernismo, aos olhos de uma década de 80 que atravessou, para o bem e para o mal, uma época de extremos nem sempre pacíficos, especialmente se considerarmos os conturbados e bem conservadores anos da era Thatcher, é compreensível que este filme tenha adquirido uma legião de fãs e seguidores que por um lado tinham aqui uma abordagem a uma temática sempre tão complexa como a da homossexualidade, como também se abordavam os rituais e lealdades sempre constante de uma igualmente rigorosa comunidade asiática que faz parte de um dia-a-dia londrino e a forma como também se protegem entre si de uma sociedade que tanto os inclui como exclui.
Não deixa também de ser verdade os inúmeros piscar de olhos que o filme faz ao retrato sempre presente dessa mesma Thatcher que lançou um dos mais progressistas países da Europa numa era, que quase arrisco dizer, indefinida onde os extremos se tocavam constantemente. Se por um lado temos presente a necessidade de filmar uma cidade rigorosa e de costumes, é também certo que os elementos que marcavam um afastamento dessas convenções estão sempre presentes nas atitudes e nos comportamentos, principalmente se a esta história de sobrevivência num país de costumes e tradições diferentes assistimos a uma família paquistanesa que faz o seu melhor para lhe resistir e sobreviver mas, ao mesmo tempo, tendo um dos seus a viver uma relação que é assumidamente proibida.
Se o retrato da época é conseguido e nos dá um olhar sobre uma Londres também ela um pouco decadente e alternativa, que lança ao olhar do seu público aqueles pequenos recantos que são tudo menos turísticos e apetecíveis ao investimento, não deixa também de ser verdade que aqui o mais relevante é olharmos hoje para um muito jovem Daniel day-Lewis que tinha aqui um dos seus trabalhos mais significativos ou, pelo menos, aquele que o "despertou" para a ribalta. Foi depois deste sucesso instantâneo que surgiram filmes como O Meu Pé Esquerdo, O Último dos Moicanos ou Em Nome do Pai, que tanto pelo seu sucesso junto da crítica como pelo seu sucesso de bilheteira firmaram este actor como um dos mais importantes da sua geração.
Dito isto, e não desfazendo na relevância que este filme teve no seu tempo, é também justo afirmar que aos dias de hoje ele já não representa um título polémico em nenhum dos aspectos que "filma". Nem da época Thatcheriana que se vivia, nem do conservadorismosentido na mesma e tão pouco no retrato de uma sexualidade diferente junto de uma comunidade fechada e isolada em si mesma. Todos estes pequenos grandes tabus já foram ultrapassados. Não que eles não existam ainda para muitos mas não possuem o mesmo impacto que possuíam há quase trinta anos atrás.
No fundo, se pensarmos bem, este filme apenas tenta representar uma simples história de amor entre dois homens, numa época em que os conturbados tempos políticos e económicos se faziam sentir naquele país mas, ainda assim, a preocupação daaquelas duas pessoas era apenas viver o amor sentido um pelo outro sem que perdessem tempo a pensar nas normas, convenções ou tão pouco no preconceito que os outros pudessem ter e sentir, fazendo daquele pequeno espaço que os dois recuperaram (a lavandaria), o seu porto seguro que quase representa o seu próprio lar onde ambos sentem ser o seu lugar longe de todos os demais. Assim, e longe de ser um grande filme, não deixa de ser um interessante e simpático conto sobre as relações humanas e aquilo que cada um delas quer "retirar".
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6 / 10
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