terça-feira, 9 de agosto de 2016

Offline (2016)

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Offline de Guilherme Trindade é uma longa-metragem portuguesa feita com um conjunto de actores da nova geração como Duarte Gomes, Íris Cayatte, Sara Barros Leitão, Daniela Love, João Nunes Monteiro, Miguel Lemos e João Harrington Sena aos quais se juntam alguns nomes confirmados como Ana Bustorff e Emília Silvestre em interpretações secundárias.
Feito inicialmente para a RTP, Offline conta-nos a história de Tiago (Duarte Gomes), recentemente chegado a Portugal vindo de uma missão humanitária por África e que começa a trabalhar como professor de História e Geografia num colégio. Rita (Íris Cayatte), a sua vizinha do lado, é uma informática reclusa no seu apartamento e incapaz de mostrar qualquer comportamento social dito normal distanciando-se de qualquer forma de socialização exterior ao mesmo. Os dois encontram-se... Conhecem-se e parecem desenvolver uma química por explorar que os poderá aproximar bem como ao mundo que os rodeia... Quer a nível pessoal como sentimental.
Ivone Rodrigues, João Harrington Sena e Guilherme Trindade escrevem o argumento de Offline naquela que é uma história sobre as relações inter-pessoais de uma nova geração habituada às redes sociais e à informatização dos relacionamentos esquecendo, por outro lado, que existe todo um mundo distante dos toques de um telemóvel ou das teclas de um computador onde pessoas reais com emoções, expressões e sentimentos espontaneamente manifestados vibra e se faz sentir. Actual e bastante pertinente, esta história remete o espectador para a análise de dois universos "virtualmente" díspares como são os de "Tiago", um jovem distanciado dos telemóveis, da televisão, da informática e claro, das redes sociais, mas habituado sim à confraternização com as pessoas com quem se cruza. Do outro lado encontramos "Rita", uma jovem socialmente inadaptada para quem a interacção com outras pessoas representa um desafio que parece ser difícil de ultrapassar, que se assumem como os protagonistas de uma invulgar e inesperada história de amor. À sua volta todo um conjunto de amigos que os cruzam como "Carla "Sailorspoon"" (Sara Barros Leitão) e "Leonardo "Davintji"" (João Nunes Monteiro), ela uma vlogger famosa cujos vídeos a fazem sentir-se ligada ao mundo sem, no entanto, esquecer o seu intensa e bem sucedida faceta social que a aproxima de inúmeros amigos e ele o típico vlogger nerd que aproveita os melhores dias da sua juventude, sem esquecer "Marco" (Miguel Lemos) e "Diana" (Daniela Love), o resultado de um casal "moderno" fruto da interactividade das redes virtuais que comunica quase exclusivamente por mensagens até ao momento "final" em que se conhecem vivendo uma química emergente mas com alguns segredos por revelar.
Se o tema das relações, e por consequência o amor, é um (senão o) tema principal desta longa-metragem, não será menos correcto afirmar que este surge como um aspecto de um conjunto de personagens socialmente inadaptadas - mas apaixonantes - nas relações físicas que se estabelecem entre todos e que por várias condicionantes se tornam por vezes mecânicas, pouco espontâneas ou até mesmo pouco naturais. As relações inter-pessoais surgem deterioradas, mostrando personagens que comunicam através de siglas virtuais - a nova linguagem - e não por um conjunto natural de assuntos partilhados em comum como que o resultado de algo mecânico... É um facto que as novas tecnologias aproximam as pessoas distantes e espalhadas pelos mais exuberantes locais do mundo mas, por outro lado, até que ponto não distanciarão aquelas que de "nós" mais perto se encontram?!
"Tiago" e "Rita" são assim o resultado de uma sociedade moderna mas, todavia, em lugares bem distintos da mesma. Ele centrado num mundo onde os olhares e as relações físicas se sobrepõem a tecnologias que chegam ao mundo mas que, por sua vez, o afastam do mesmo. Posição esta que aliás, o distancia e lhe dificultam uma vida profissional alvo das várias ameaças encapotadas de Isabel (Emília Silvestre) a directora de colégio onde dá aulas que não desarma face à auto-exclusão informática de um professor "fora do seu tempo". Já "Rita" é uma mulher afastada da sociedade... Sem amigos - apenas uma que conhecemos - e sem grande tacto para uma conversa que dure mais de um minuto, ela refugia-se numa profissão que a levam a entrar cada vez mais num isolamento auto-imposto enquanto o mundo continua "lá fora". Mas, como o ditado já é antigo... poderão estes opostos atrair-se?!
É aqui que entra aquele que considero como o mais apaixonante desta longa-metragem - que afirmo ter sido uma simpática e muito agradável surpresa - quando observamos a interacção entre o casal protagonista e a evolução que ambos têm a um "centro". "Tiago" vê-se (in)voluntariamente forçado a abraçar o mundo do qual se tem mantido distante e abrir o seu espaço às novas tecnologias e a toda a informação que lhe chega à distância de um click... Por sua vez é "Rita" que revela a maior transformação - e adaptação - a um mundo de interacção física e pessoal abraçando a existência de um mundo para lá das redes sociais e da lividez da informatização conhecendo aqueles que estão para lá da porta da sua casa... Transformação essa que inicialmente a revelam como uma inadaptada e que depois, muito lentamente, mostram como ele conhece todo esse admirável mundo novo de emoções, de sensações e de um conhecimento e amadurecimento sentimental que desenvolve com "Tiago" como o seu não só novo amigo como um amor que a poderá ver crescer para lá de uma simples evolução etária.
Com um desfecho apaixonante e que cativa pela forma como se revela esta evolução sentimental naquele que é um dos momentos mais apaixonantes de um novo cinema português, Offline "agarra" o espectador pelas leves e inspiradas interpretações de um conjunto de grandes e novos talentos nacionais que interpretam uma história terna e actual, pela inspirada interpretação de uma "vilã" simpática a cargo de Emília Silvestre e a recuperação de uma desaparecida Ana Bustorff que, apesar da sua brevíssima interpretação, seduz pelo encanto e presença marcante.
Uma pena que Offline ainda não tenha recebido o merecido destaque pela simpática e profissional execução de uma obra que é ligeira e representativa de um cinema comercial e abrangente, que não cai em lugares comuns e que, ao mesmo tempo, se apresenta longe de pretensões, primando apenas pela entrega de um conjunto de profissionais que querem contar uma boa história.
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"Rita: Qual a diferença entre a cola, um avião e a família?
Filipe: Qual?
Rita: A cola... cola... e o avião descola...
Filipe: E a família?
Rita: Vai bem obrigado!"
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8 / 10
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