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A Raínha de Stephen Frears e interpretado por uma imensa Helen Mirren. No ido ano de 1997 com um governo trabalhista encabeçado por um recentemente eleito Tony Blair, a raínha Elizabeth II, o Reino Unido e o mundo deparam-se com a inesperada e trágica morte da Princesa Diana. Nos dias que se seguem, a relação entre Blair e a Raínha e desta para com o povo britânico revelam uma inesperada modificação; no primeiro desenvolve-se um surpreendente respeito pela mais antiga monarca do mundo e nesta, uma compreensão de que os tempos mudaram e que o poder da monarquia junto do povo havia adquirido uma nova dinâmica.
Peter Morgan adapta ao cinema - supomos que muito livremente - a dinâmica entre Downing Street e Buckingham na medida em que ninguém saberá de facto o que aconteceu naquele turbulenta semana que sucedeu a morte da Princesa Diana. Assim é deixado ao espectador o seu igualmente livre juízo sobre a sua crença - e empatia - pessoal para com as figuras históricas, a credibilidade que cada um dos actores confere às mesmas. Acreditamos que o Príncipe Carlos (Alex Jennings) teve realmente tanta preocupação com a morte de Diana? Acreditamos que a Raínha se viu reticente à adopção de procedimentos que a classificassem como uma figura merecedora de tão proeminentes cortejos fúnebres? Será o Príncipe Philip (James Cromwell) uma figura tão... intragável? E, em igual proporção... serão Tony Blair (Michael Sheen) e a sua mulher (perdoem-me os puristas mas apenas me recordo da expressão "pata-choca") figuras que facilmente qualquer um de nós poderia considerar como... "parolos"?
Enriquecido com alguns momentos de imagens de arquivo - e enriquecido literalmente uma vez que são dos melhores segmentos de toda esta história - The Queen é um filme que dificilmente permanecerá na memória do espectador para lá da sua imediata duração na medida em que o espectador se encontra perante uma obra que vive exclusivamente da suposição tendo por base um acontecimento real e a dramatização emocional da reacção dos intervenientes reais que, na realidade, não confere nenhuma sustentação àquilo que esta longa-metragem pretende "comprovar". Assim, e comprovado através das já referidas imagens da época, o espectador compreende que a morte da Princesa Diana foi um choque a nível mundial para todos aqueles que admiravam o seu percurso e obra social e humanitária mas todo o demais registo ficcionado dos acontecimentos acaba por ser mais uma representação do que propriamente registo factual efectuado pela aguçada imaginação do argumentista e posta em prática pelo realizador de obras como My Beautiful Laundrette (1985), Dangerous Liaisons (1988) ou The Grifters (1990).
De Helen Mirren para lá da já conhecida entrega a todas as personagens que interpreta, resta-nos apenas a imagem da representação de uma monarca em franca rota de colisão com o povo que rege e que, percebemos, já não conhece como pensara, da mudança dos tempos que não acompanhou na medida em que em pleno final de milénio ainda não aceita que as exigência por parte do seu povo sejam diferentes daquele que conhecera quase cinquenta anos antes e, como tal, regista-se a demarcação de um conflito, de uma zona de ruptura digamos, que a coloca em causa como monarca de um país cuja população claramente já não "conhece". E este é o registo de toda a interpretação desta magnífica actriz... a permanência num conflito e num limbo tentando não só compreende como acompanhar e até mesmo modelar(-se) a uma nova realidade garantindo a sempre admiração do seu povo então momentaneamente perdida pela inoperância de uma reacção face à catástrofe que todos pareciam reconhecer e enfrentar. Se os tempos foram duros quando, ainda Princesa, acompanhara o seu pai face a uma guerra mundial que devastou a Europa e que também afectou o seu país e garantiu resistência ao seu povo, agora deparando-se com um evento que apelava a um lado mais conciliador da sua personalidade ou, até mesmo, reconfortante para quem se sentia perdido, esta "Elizabeth II" de Helen Mirren revelou-se incapaz de se tornar na "mãe" de todo o seu povo. Realidade ou não... ficará ao critério de todos aqueles que se recordam e acompanharam aquele semana do mês de Agosto de 1997.
De um "Príncipe Philip" quase tirânico de James Cromwell a um "Príncipe Charles" bonacheirão e muito "humano" interpretado por Alex Jennings, é o "Tony Blair" de Michael Sheen que se destaca ao lado de Mirren como aquele inexperiente que chega à grande cidade para ocupar o cargo mais importante do país depois de anos de governos conservadores que, também eles à sua forma, modelaram décadas da História Contemporânea do Reino Unido. Incapaz de se afirmar perante o dito "establishment", fora preciso esta dinâmica entre Primeiro-Ministro e Raínha durante a mais tensa semana dos últimos anos do país - à altura - para que ambos ganhassem real compreensão do seu papel num país em notada transformação... mas tal como diria a raínha a uma determinada altura... "tudo muda... e mais cedo ou mais tarde vai compreendê-lo Sr. Blair"... como viria... poucos anos depois.
Desprovido de grandes momentos memoráveis, aquele que mais se aproxima de tal prende-se com uma das saídas da Raínha pela sua propriedade de Balmoral quando, retida junto a um riacho, encontra um cervo que "não deveria estar ali"... A dinâmica de comparação entre o mesmo e a Princesa Diana, uma estranha em terras ditas de difícil passagem, ganha não só um estatuto de lenda ou de misticismo, colocando não só a raínha em plena compreensão de que por vezes os ditos "outsiders" surgem para abanar o que se tem por garantido não sendo, por isso, alvos fáceis de abater e necessário impedi-los de existirem com todas as suas diferenças.
É já perto do final que o espectador compreende que o único e favorável elemento desta longa-metragem seja, de facto, a sua protagonista. Mirren é exemplar na composição da sua personagem e na forma como humaniza uma figura que é, na prática, mítica... pelos períodos da História que ultrapassou, pela forma como encarou todas as perdas e transformações dos tempos mas sobretudo pela dita postura com que sempre se manteve, distante dos escândalos mas presente em todos (ou quase) os momentos mais transformadores da História e da sociedade britânica. No entanto, o mesmo espectador questiona-se sobre a durabilidade não só desta longa-metragem - claramente não uma das melhores do Frears - como também da própria composição de Mirren que se encontra a milhas do seu melhor... Se pensarmos em Teaching Mrs. Tingle (1999), de Kevin Williamson encontramos uma interpretação muito mais desafiante - e desafiadora - da actriz e seguramente uma pela qual será mais imortalizada junto de, por exemplo, um público mais jovem desconhecedor do seu percurso cinematográfico. Ainda que o género - comédia - não seja amplamente reconhecido pela Academia, questiono-me se este não seria um desempenho pelo qual o seu Oscar ficaria mais bem "entregue". Em The Queen, Mirren fica pelo agradável, seguro e até mesmo confortável... não se distingue pela excelência mas sim personificação da figura histórica que interpreta... entre excelência e conforto... em The Queen assume-se pelo último.
Numa apreciação geral, The Queen, como tantas outras obras, merece sempre uma consideração global por parte do grande público mas, na realidade a emotividade da obra resume-se aos momentos em que, na longa-metragem, são englobados segmentos de imagens reais da época... a consternação da população, das reacções das pessoas reais captadas e aqui habilmente inseridas sim, conseguem apelar ao lado mais sentimental do espectador... tudo o demais resulta apenas pela presença de Mirren que controla o filme com uma calma e tranquilidade apenas comparáveis àquelas tidas pelo silêncio da família real na semana aqui retratada, sendo que a actriz merece mais e muito melhor para ficar registada na memória do espectador.
.Peter Morgan adapta ao cinema - supomos que muito livremente - a dinâmica entre Downing Street e Buckingham na medida em que ninguém saberá de facto o que aconteceu naquele turbulenta semana que sucedeu a morte da Princesa Diana. Assim é deixado ao espectador o seu igualmente livre juízo sobre a sua crença - e empatia - pessoal para com as figuras históricas, a credibilidade que cada um dos actores confere às mesmas. Acreditamos que o Príncipe Carlos (Alex Jennings) teve realmente tanta preocupação com a morte de Diana? Acreditamos que a Raínha se viu reticente à adopção de procedimentos que a classificassem como uma figura merecedora de tão proeminentes cortejos fúnebres? Será o Príncipe Philip (James Cromwell) uma figura tão... intragável? E, em igual proporção... serão Tony Blair (Michael Sheen) e a sua mulher (perdoem-me os puristas mas apenas me recordo da expressão "pata-choca") figuras que facilmente qualquer um de nós poderia considerar como... "parolos"?
Enriquecido com alguns momentos de imagens de arquivo - e enriquecido literalmente uma vez que são dos melhores segmentos de toda esta história - The Queen é um filme que dificilmente permanecerá na memória do espectador para lá da sua imediata duração na medida em que o espectador se encontra perante uma obra que vive exclusivamente da suposição tendo por base um acontecimento real e a dramatização emocional da reacção dos intervenientes reais que, na realidade, não confere nenhuma sustentação àquilo que esta longa-metragem pretende "comprovar". Assim, e comprovado através das já referidas imagens da época, o espectador compreende que a morte da Princesa Diana foi um choque a nível mundial para todos aqueles que admiravam o seu percurso e obra social e humanitária mas todo o demais registo ficcionado dos acontecimentos acaba por ser mais uma representação do que propriamente registo factual efectuado pela aguçada imaginação do argumentista e posta em prática pelo realizador de obras como My Beautiful Laundrette (1985), Dangerous Liaisons (1988) ou The Grifters (1990).
De Helen Mirren para lá da já conhecida entrega a todas as personagens que interpreta, resta-nos apenas a imagem da representação de uma monarca em franca rota de colisão com o povo que rege e que, percebemos, já não conhece como pensara, da mudança dos tempos que não acompanhou na medida em que em pleno final de milénio ainda não aceita que as exigência por parte do seu povo sejam diferentes daquele que conhecera quase cinquenta anos antes e, como tal, regista-se a demarcação de um conflito, de uma zona de ruptura digamos, que a coloca em causa como monarca de um país cuja população claramente já não "conhece". E este é o registo de toda a interpretação desta magnífica actriz... a permanência num conflito e num limbo tentando não só compreende como acompanhar e até mesmo modelar(-se) a uma nova realidade garantindo a sempre admiração do seu povo então momentaneamente perdida pela inoperância de uma reacção face à catástrofe que todos pareciam reconhecer e enfrentar. Se os tempos foram duros quando, ainda Princesa, acompanhara o seu pai face a uma guerra mundial que devastou a Europa e que também afectou o seu país e garantiu resistência ao seu povo, agora deparando-se com um evento que apelava a um lado mais conciliador da sua personalidade ou, até mesmo, reconfortante para quem se sentia perdido, esta "Elizabeth II" de Helen Mirren revelou-se incapaz de se tornar na "mãe" de todo o seu povo. Realidade ou não... ficará ao critério de todos aqueles que se recordam e acompanharam aquele semana do mês de Agosto de 1997.
De um "Príncipe Philip" quase tirânico de James Cromwell a um "Príncipe Charles" bonacheirão e muito "humano" interpretado por Alex Jennings, é o "Tony Blair" de Michael Sheen que se destaca ao lado de Mirren como aquele inexperiente que chega à grande cidade para ocupar o cargo mais importante do país depois de anos de governos conservadores que, também eles à sua forma, modelaram décadas da História Contemporânea do Reino Unido. Incapaz de se afirmar perante o dito "establishment", fora preciso esta dinâmica entre Primeiro-Ministro e Raínha durante a mais tensa semana dos últimos anos do país - à altura - para que ambos ganhassem real compreensão do seu papel num país em notada transformação... mas tal como diria a raínha a uma determinada altura... "tudo muda... e mais cedo ou mais tarde vai compreendê-lo Sr. Blair"... como viria... poucos anos depois.
Desprovido de grandes momentos memoráveis, aquele que mais se aproxima de tal prende-se com uma das saídas da Raínha pela sua propriedade de Balmoral quando, retida junto a um riacho, encontra um cervo que "não deveria estar ali"... A dinâmica de comparação entre o mesmo e a Princesa Diana, uma estranha em terras ditas de difícil passagem, ganha não só um estatuto de lenda ou de misticismo, colocando não só a raínha em plena compreensão de que por vezes os ditos "outsiders" surgem para abanar o que se tem por garantido não sendo, por isso, alvos fáceis de abater e necessário impedi-los de existirem com todas as suas diferenças.
É já perto do final que o espectador compreende que o único e favorável elemento desta longa-metragem seja, de facto, a sua protagonista. Mirren é exemplar na composição da sua personagem e na forma como humaniza uma figura que é, na prática, mítica... pelos períodos da História que ultrapassou, pela forma como encarou todas as perdas e transformações dos tempos mas sobretudo pela dita postura com que sempre se manteve, distante dos escândalos mas presente em todos (ou quase) os momentos mais transformadores da História e da sociedade britânica. No entanto, o mesmo espectador questiona-se sobre a durabilidade não só desta longa-metragem - claramente não uma das melhores do Frears - como também da própria composição de Mirren que se encontra a milhas do seu melhor... Se pensarmos em Teaching Mrs. Tingle (1999), de Kevin Williamson encontramos uma interpretação muito mais desafiante - e desafiadora - da actriz e seguramente uma pela qual será mais imortalizada junto de, por exemplo, um público mais jovem desconhecedor do seu percurso cinematográfico. Ainda que o género - comédia - não seja amplamente reconhecido pela Academia, questiono-me se este não seria um desempenho pelo qual o seu Oscar ficaria mais bem "entregue". Em The Queen, Mirren fica pelo agradável, seguro e até mesmo confortável... não se distingue pela excelência mas sim personificação da figura histórica que interpreta... entre excelência e conforto... em The Queen assume-se pelo último.
Numa apreciação geral, The Queen, como tantas outras obras, merece sempre uma consideração global por parte do grande público mas, na realidade a emotividade da obra resume-se aos momentos em que, na longa-metragem, são englobados segmentos de imagens reais da época... a consternação da população, das reacções das pessoas reais captadas e aqui habilmente inseridas sim, conseguem apelar ao lado mais sentimental do espectador... tudo o demais resulta apenas pela presença de Mirren que controla o filme com uma calma e tranquilidade apenas comparáveis àquelas tidas pelo silêncio da família real na semana aqui retratada, sendo que a actriz merece mais e muito melhor para ficar registada na memória do espectador.
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(dados pela Helen Mirren) --> 6 / 10
(dados pela Helen Mirren) --> 6 / 10
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Concordo!! Tinha enormes expectativas neste filme... Saíram muito defraudadas, de facto.
ResponderEliminarQuanto a mim, da mesma forma que o "World Trade Center" é uma homenagem e um enaltecimento descarado do povo americano, "A Rainha" não passa de uma forma de nos tentar fazer mudar a opinião acerca da Família Real Inglesa. Certo é que, enquanto seres humanos, também os membros da Família Real têm sentimentos... que nunca demonstram.
O desempenho da Helen Mirren, contudo, é muito bom, como, de resto, nos tem habituado. Da postura corporal à expressão do rosto, passando pelo andar e pela dicção, está tudo lá; Helen Mirren quase se transforma em Elizabeth II.
Um filme a ver... mas não a repeir!
Abraços.
PS: E, sim, a "Cheri" era um bocado "pata-choca"!! LOL
Para mim que sou um fã confesso da Helen Mirren, nem mesmo ela está no seu melhor. Faz um bom papel é um facto mas já vimos bem melhor dela... MUITO melhor até... mas enfim...
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