quarta-feira, 15 de julho de 2015

Mulher.Mar (2012)

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Mulher. Mar. de Filipe Pinto e Pedro Pinto é uma curta-metragem de ficção portuguesa e a vencedora do mês de Maio do Shortcutz Viseu, sendo assim uma das candidatas ao título de Melhor Curta-Metragem do ano na cerimónia de Setembro próximo.
Maria (Teresa Andrade) vive num silêncio que a anula desde a morte do seu irmão, substituindo-o na pesca e ajudando o seu pai. Numa comunidade reservada, Maria tenta sobreviver na memória de alguém que não estando, se sente.
Os realizadores Filipe Pinto e Pedro Pinto que também cumpriram funções de argumentistas em Mulher. Mar., criam um dos silenciosamente mais fortes filmes portugueses (curto só mesmo em duração) dos últimos anos.
"Maria" vive na sombra. Presente no dia-a-dia não só da casa em que vive com os pais como também no barco no qual ajuda o pai na actividade piscatória, "Maria" é vista não só pelos seus entes mais próximos como também por uma comunidade que começa a não a entender. Com a dor da perda de um irmão - com o qual o espectador nunca se "cruza" - esta jovem mulher inicia um lento processo de identificação com o mesmo esquecendo não só a sua própria identidade como principalmente adquirindo hábitos, costumes e perdendo inclusive a sua própria feminilidade para se parecer cada vez mais com o irmão.
Aqui o espectador identifica não só uma lenta degradação psicológica do "eu" de alguém que não só fora afectado pela dor e pela perda, como também pode identificar um complicado processo de identidade de género que aos poucos é denotado pelo comportamento de "Maria". Se por um lado existem as questões sobre o que realmente vive dentro do seu silêncio e nos seus pensamentos, não é menos verdade que são vários os elementos que indicam ao espectador que aquela jovem vive nesse mesmo silêncio uma dor que ultrapassa a perda de um ente querido. Elementos esses que passam não só pela sua masculinização - roupas e corte de cabelo - como pela profissão atípica numa mulher ou mesmo a conversa à mesa em que a mãe revela que ela se está a tornar no "falatório da vila".
Assim, se por um lado a perda e a dor que lhe está adjacente são por si só motivos suficientes para questionar toda uma existência que parecia condenada à indiferença - na prática quem era "Maria"? Alguém dava pela sua presença antes do desaparecimento do seu irmão? -, não é menos verdade que a identidade de género e todo um processo de conhecimento e auto-afirmação estão, também eles, evidenciados neste argumento que afasta o espectador do meio urbano centrando-o num pequeno espaço onde todos se conhecem... todos, menos o próprio que aos poucos se começa a descobrir.
Se enquanto espectador e crítico acredito que todos os bons filmes têm uma alma e uma força, Mulher. Mar. não é dessa minha teoria uma excepção, e essa alma reside na soberba interpretação da actriz Teresa Andrade enquanto "Maria", uma jovem que vive num silêncio desarmante e eventualmente doloroso que aos poucos a consome anulando-se na tentativa não só de substituir a vida de alguém que já partiu como principalmente de encontrar um lugar - o seu - que ainda não descobriu. Desarmante é o momento em que pergunta ao pai se lhe causa vergonha, como aquele último instante que define se a sua existência - seja qual fôr a forma - se justifica num mundo que decidiu não a compreender e que confirma a compreensão e aceitação de alguém que conhece e a conheceu toda a sua vida.
Mulher. Mar. é um filme referência não só na cinematografia lusitana como também na dos dois realizadores que conseguiram criar uma forte e belíssima obra de arte para a posteridade.
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10 / 10
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