Contact de Léa Bancelin (França) é uma curta-metragem de animação centrada na história de Marie, uma jovem mulher que, sem intenção, digita o número de Anne, uma amiga de infância, despertando em si recordações que achava esquecidas.
Numa oscilação entre o passado e o presente onde as memórias se cruzam com a potencialidade do "e se..." , a animação Contact centra-se na relação sentimentalmente próxima que as duas personalidades femininas desenvolveram em tempos mas que, na realidade, nunca ficara resolvida no imaginário de "Marie". Anos depois do que fora a sua relação sentimental, "Marie" vive uma vida aparentemente despreocupada mas que guarda um vazio experimentado depois daquilo que nunca se confirmou para com "Anne". Esta relação, talvez um primeiro amor de "Marie" ou, pelo menos, aquela que a fez despertar para a sua afectividade e sexualidade, transformou-se no "tal capítulo" que nunca revelou um verdadeiro desfecho levando-a não só ao termo de comparação para aquilo que, desde então, desenvolvera como, principalmente, a mantém suspensa nesta incerteza do que foi, do que pode ser e até do que poderá surgir sem nunca, no entanto, ter confirmado os porquês da sua presente solidão.
O espectador recebe "Marie" como uma jovem mulher do presente... Moderna, decidida e feminista cede, no entanto, perante a tal afectividade de juventude que a marcou. Ainda que as memórias possam não ser as mais positivas ou conciliadoras do seu "eu", é essa memória - ou a prisão que tem para com ela -, que a coloca num limbo sentimental que a impede, por exemplo, de cortar todos os laços com esse passado indefinido. "Marie" vive portanto, entre o que poderia ter sido, o que a levou a esse despertar e, sobretudo, à incerteza não necessariamente da sua sexualidade mais ou menos experimentada, mas principalmente à memória daquilo que no seu presente, não consegue confirmar.
Interessante do ponto de vista da importância das memórias e pela forma como estas conseguem colocar em suspenso toda uma vida que teima em não observar o futuro, Contact é, no entanto, uma curta-metragem de difícil acesso pela constante incerteza - ou falta de confirmação - daquilo que as memórias registadas permitem desconstruir não só do passado de "Marie" como também de um aparente estado de espírito pouco evolutivo face a esse passado tendo, no entanto, como positivo na sua narrativa o facto de conseguir manter uma edição coerente dos diversos momentos não deixando o espectador preso nessa mesma incerteza - de empatia - com que a sua personagem parece querer insistir em manter-se.
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