Hermandad de Carlos Hurtado (Colômbia) é um documentário em formato de curta-metragem que coloca no mesmo espaço duas personagens de formação social, religiosa e económica distintas levando-as não a um confronto mas sim a uma esperada conciliação de dois mundos - que representam - e que se encontram de costas voltadas.
María Dolores é uma freira católica cujo lema principal se centra na velha máxima de que "nenhum homem é uma ilha". Toda a sua vida, ou pelo menos desde que recebeu a "chamada" de Deus é em prol dos demais para quem vive e se dedica de alma e coração de forma a poder confortá-los e ajudá-los no seu crescimento pessoal, humano e espiritual. Por outro lado conhecemos também Daniel "Venus", um drag que se assume pacífico mas egocêntrico. Naquilo que parecem - e são - dois mundos bem distintos, estas duas "personagens" reais encontram-se num anfiteatro onde falam sobre as suas experiências, as suas escolhas, a sua vida e aquilo que, individualmente, cada um pode trazer não só para o seu próprio mundo como especialmente para a comunidade diversa que representam e onde se encontram.
Por entre os desabafos que ambos tecem sobre a comunidade como um todo, tanto Daniel como María Dolores encontram diversos pontos em comum... das dificuldades sócio-económicas à individualização crescente da mesma, ambos compreendem e verbalizam a necessidade de que esta comunidade precisa de apoio, de uma união colectiva que lhes confira - a todos - a compreensão de que não se encontram sós num mundo que parece todos engolir muito lentamente.
Neste que é um encontro para a "mútua compreensão"... afinal, os mundos de ambos podem não ser tão distintos assim... ou pelo menos não para lá daquilo que o primeiro impacto parece conferir-lhes (ou aos seus olhos)... aquilo que ambos cedo assumem é que para lá das diferenças existem todo um conjunto de características comuns - ou pelo menos semelhantes -, que os coloca num inesperado grupo de pertença. Mesmo que os respectivos mundos não se cruzem no seu quotidiano e que os problemas manifestados tanto por Daniel como por María Dolores não sejam idênticos, existe todo um conjunto de particularidades que, na sua essência, se manifestam de igual forma... afinal, quão diferente pode ser a solidão de cada um ou aquela que sentem aqueles com quem se cruzam?!
No final, e ainda que cada um revele diferentes facetas das relações em comunidade, a pergunta que se manifesta cada vez mais na mente do espectador é se estas diferenças são assim tão acentuadas ou se, afinal, não os aproximam mais do que aquilo que poderia inicialmente afastá-los...
Dotado de um certo cunho impessoal característico de duas pessoas de meios distintos que se cruzam e são forçados a conhecer-se pela primeira vez, Hermandad é, no final o início de uma história sobre dois seres de uma mesma comunidade com ansiedades, expectativas, problemas, desilusões e sonhos comuns que, embora não partilhados, não deixam de ser os motores que dão fogo às suas vidas e às esperadas - por eles - missões a desempenham numa comunidade, numa sociedade e num mundo que partilham em comum não deixando, por isso, de manifestar ligeiramente uma (in)esperada sensibilidade que os revela tal como eles são... humanos.
.
7 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário