LGTBI... H de Francisco Javier Gutiérrez (Espanha) é uma das curtas-metragens presentes na secção One Sequence Shot da décima edição do FICPI - Festival Internacional de Cine de Piélagos que decorre na Cantábria, em Espanha desde o passado dia 26 de Abril.
Carlos decidiu dar um grande passo na sua vida e, na companhia de Juan, espera pelos seus pais para dar a grande novidade. Conseguirão eles aceitar tudo aquilo que Carlos tem para lhes contar?!
Num mundo em que tudo e todos estamos sujeitos a normalização da sigla que tudo define, a curta-metragem de Francisco Javier Gutiérrez começa por apresentar todo um conjunto de pressupostos já conhecidos do espectador mas que, ao mesmo tempo, entra por um caminho perigosamente irónico que nos tempos do dito "politicamente correcto" pode apresentar uma vertente pouco apropriada daquela que é a realidade das minorias que tanto (ainda) batalham pelo seu devido respeito e dignidade.
Esta curta-metragem apresenta o par de amigos como um potencial casal que tarde se desmistifica como apenas... dois amigos. Mas se "Juan" é o amigo homossexual, é "Carlos" que de repente se subentende como o heterossexual aqui algo descriminado numa realidade familiar que o coloca como filho... de dois homens. Num LGTBI... H onde o "h" é agora compreendido como representativo de uma sigla que todos tenta englobar, o espectador questiona-se então sobre a legitimidade desta singela letra num universo onde não é conhecida a (sua) descriminação.
Num lado inovador, e até mesmo interessante pela normalização daquelas que são questionadas como as minorias, LGTBI... H revela dois pais homossexuais que lidam com um filho jovem adulto e com a sua sexualidade "diferente". Se por um lado o espectador recebe esta nova realidade com alguma normalidade não deixa, ao mesmo tempo, de ser preocupante a forma como estes pais encaram a sexualidade do filho - livre de qualquer descriminação na sociedade em que vivemos - como algo preocupante para o mesmo como se em alguma época da História esta tivesse sido alvo de perseguição. Assim, e num mundo - seja ele qual fôr - em que as figuras parentais se preocupam com a felicidade da prole, esta curta-metragem parece querer normalizar a perseguição e o factor "minoria" àqueles que... nunca o foram... conferindo a toda a dinâmica desta curta-metragem uma realidade desconhecida como se quem nunca sofreu descriminação pudesse encarar a sua realidade com a daqueles que... sempre o foram.
Assim, e ainda que tentada a normalização pela igualdade... as realidades são francamente bem distintas colocando toda esta obra num limbo não só preocupante como até relativamente perigoso pela mensagem que pode - em diversos momentos - não ser bem compreendida, mesmo com as interpretações descontraídas dos seus actores ou (eventualmente) pelo objectivo do realizador (?) em tranquilizar o seu público afirmando que todos somos iguais independentemente do género ou sexualidade... mas, conhecendo bem o espectador a sociedade em que vive... será que essa mensagem passa tranquilamente... ou o "h" num universo que passou pelas amarguras da descriminação não estará... "a mais"?
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