quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Reverso (2019)

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Reverso de Victor Santos (Portugal) é uma das curtas-metragens em competição ao Prémio MOTELx - Curta Portuguesa de Terror desta décima-terceira edição e que nos leva numa viagem temporal ao dia 26 de Abril de 1974 quando um homem (José Eduardo Silva) entra num quarto de hotel transportando apenas uma mala. Pouco depois adormece sendo apenas interrompido pelo tocar de um telefone e pelos inesperados acontecimentos que ocorrem no espelho mesmo à sua frente.
Cedo é revelado pelo próprio argumento - também da autoria do realizador -, que este homem que agora ali se encontra é um agente da PIDE fugido das transformações de regime que Portugal testemunhara no dia anterior. Mas, a grande questão que aqui se impõe é se as transformações são apenas em Portugal ou também em si (ou no seu subconsciente) que agora trabalha no sentido da admissão de culpa daquilo que havia feito enquanto membro (activo) da polícia política.
Quando aquele telefone toca não é apenas uma chamada de alguém que procura ameaçá-lo ou vê-lo tremer face a um qualquer destino menos positivo que agora o espera. Quem lhe liga é sim o outro "ele" que, também fugido do mesmo passado e, num acto de mútuo confronto, ambos (des)conhecidos compreendem que o seu escape poderá apenas ser um. Desprovidos de uma esperada fuga ou de uma redenção com a nova realidade nacional, este(s) homem(ns) encontram no interior daquelas quatro paredes o possível futuro - ou destino? - que os espera.
Victor Santos - realizador, argumentista e director de fotografia - assina aqui uma história interessante sob o ponto de vista do "terror" ou sobrenatural que espera(va) as principais figuras de um regime então terminado. As incertezas, a noção de segurança que então equacionavam ou o escape para um futuro melhor são os principais motores destas personagens e das realidades em que se inseriam e, explorados na dinâmica do sobrenatural, permitem a criação de uma história que se (nos) questiona não só sobre a sanidade dos mesmos como principalmente até de um destino que a própria "História" lhes poderia ter reservado mas... sob uma perspectiva assumidamente sobrenatural muito ao estilo daquelas que Tarantino reserva aos seus contos onde os referidos acontecimentos históricos são alterados a favor de uma versão mais "agradável" da mesma.
No entanto, sai o espectador totalmente convencido deste conto? Não a 100%. Ainda que o destino entregue aquele agente da PIDE que, tão orgulhoso e convencido dos seus actos no agora passado permanece incólume naquele quarto de hotel, o verdadeiro Reverso que esperamos para esta sua personagem seria que a História - ou pelo menos a tal não convencional - o castigasse de uma forma mais pérfida. Compreendido que está o sentido pelo qual o realizador quis apresentar esta história (não totalmente original pois esta realidade do "eu" em dois espaços temporais distintos já nos é conhecida), aquilo que mais se destaca em toda a curta-metragem é sim uma exemplar direcção de fotografia que transforma aquele quarto num espaço perdido nos idos anos '70 e, ao mesmo tempo, numa ambiência muito característica daquilo que o espectador espera como um limbo onde a incerteza e até mesmo a incoerência parecem espreitar a todas as esquinas. É, na verdade, este jogo de luzes e sombras que dinamiza a curta-metragem e que lhe confere o esperado "estilo" do género em questão deixando o argumento um pouco ao sabor daquilo que a fotografia lhe proporciona na medida em que o espectador conhece a história mas não necessariamente o ambiente em que o realizador e director de fotografia a resolveram inserir.
Interessante sob esse ponto de vista estético e pela curiosidade que desperta em se poder observar uma história centrada num período de transição tantas vezes esquecido pelo cinema português, Reverso tem aquele potencial (adormecido) de ser uma história que se permite ir muito mais além do que os quinze minutos da competição em que se insere lhe proporcionam.
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6 / 10
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