Feliz Natal, Sr. Monstro de João Pais da Silva e André Rodrigues (Portugal) é uma das dez curtas-metragens em competição ao Prémio MOTELx de Curta Portuguesa de Terror nesta décima-terceira edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa a decorrer no Cinema São Jorge até amanhã dia 15 de Setembro.
Na noite de Natal uma menina (Luana Lina) percorre os corredores de um centro comercial abandonado quando encontra um homem vestido de Pai Natal (Fernando Rodrigues) que ali procura algo. Mas... o que poderá estar por ali escondido?!
A atmosfera criada nesta curta-metragem consegue ser o seu elemento mais forte. Se inicialmente o espectador compreende que aquilo que observa é apenas um (mais um) espaço abandonado fruto de uma qualquer crise económica e financeira que levou a comunidade consumista a retrair os seus gastos, cedo se apercebe que aquele espaço é sim o fruto de uma outrora opulenta sociedade de consumo que, graças a um qualquer cataclismo social, se transformou num espaço de memória daquilo que outrora "foi". O mundo e os símbolos do poder económico que conhecemos hoje são aqui o espelho de um passado distante para uma jovem como a aqui representada por Luana Lima. O mundo, como o conhecemos, terminou... as causas, consequências e efeitos desconhecemos para além deste óbvio fim. O consumo terminou. A sociedade de comunicação é agora inexistente. E o conhecimento, esse... é apenas pertença dos mais velhos ou, pelo menos, daqueles que o tiveram, ainda que brevemente, na sua também já ida juventude.
Mas... a busca deste Pai Natal continua... algo poderá estar ali escondido... será algum bem desse ido passado... alguma memória... alguma esperança de encontrar alguém como ele que também recorde... ou simplesmente alguém que, tal como ele, ainda exista desse passado... na realidade o espectador nunca o saberá concretamente remetendo-se apenas para os silêncios que aquelas paredes abandonados insistem em manter e para a estranha e solitária presença daquela jovem que, tal como ele, parece perdida num espaço a que chama de casa mas que, na realidade, não sabe caracterizar ou compreender o que foi.
A presença desta jovem, ainda que relativamente enigmática até ao final, é curiosa na medida em que ela acaba por representar aquilo que aparentemente já não existe... a juventude. O tal "monstro" que se esconde solitário nas sombras de um espaço que nesse já referido passado existia e que o "povoava" como o seu habitat natural. Agora, cruzando livremente os espaços mais ou menos sombrios daqueles corredores, a sua jovem figura é representativa desse desaparecimento (desconhecido) de toda a civilização tal como fora conhecida... afinal, para lá das luzes de Natal que insistem em brilhar pelos corredores, todos os sinais de vida estão eliminados daqueles corredores ou escondidos em contentores que já ninguém reconhece ou procura.
Interessante sob uma perspectiva dada de um potencial holocausto ou fim do qual ninguém sabe ou justifica, a curta-metragem Feliz Natal, Sr. Monstro precisaria de uma maior capacidade de representar o medo (o perigo... ou o fim?!) transformando-o naquilo que, na realidade, ele será... tenebroso. Compreende o espectador que estamos perante uma sociedade que terminou... mesmo até perante o fim da Humanidade (ou de uma boa parte dela) pela ausência de vida dita "adulta" que co-habite aqueles enormes e desertos corredores mas, de facto, esta compreensão deve-se mais à dedução ou intuição do mesmo do que propriamente à constatação desse "fim" como um "acontecimento" - local... mundial?! - que transformou esta jovem (ou aquilo que ela fôr) e o seu meio nesta nova realidade desprovido de um qualquer objectivo.
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