Faz-me Companhia de Gonçalo Almeida (Portugal) é uma das longas-metragens presentes na competição oficial do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa.
Sílvia (Cleia Almeida) dirige-se para uma casa perdida no campo que alugara para se encontrar com Clara (Filipa Areosa), a sua amante. Aquilo que se fazia adivinhar com um fim-de-semana de prazer e cumplicidade cedo se revela como uma viagem ao seu subconsciente quando a casa em que se encontram parecer ter, ela própria, algo que esconder. Irá a relação entre Sílvia e Clara resistir?
Desde os primeiros instantes de Faz-me Companhia que o argumento de Gonçalo Almeida tenta recuperar o universo do "mal interior" onde os sentimentos de culpa da protagonista tendem a entrar num conflito silencioso com um qualquer mal adormecido que encontrou refúgio naquela casa onde agora ambos se cruzam. Algo existe que perturba "Sílvia" e, ainda que desconhecido para o espectador, este "mal" apresenta-se lentamente - ou assim se pensa -, prestes a afirmar-se enquanto uma personagem semi-secreta que tudo fará para ganhar uma nova vida. Desconhecemos se uma vida passada que ali se extinguiu ou mesmo se um mal sobrenatural que busca um receptáculo para dar corpo à sua alma perdida - não esquecer que "Sílvia" está grávida -, mas algo existe dentro dos limites daquela propriedade prestes a revelar-se e mesmo, pensamos, ganhar forma humana.
No entanto, esta tentativa de recuperar um fio condutor que se prenda com esse já mencionado "mal interior", Faz-me Companhia acaba por se perder na vontade de ser um The Amytiville Horror (1978), de Stuart Rosenberg assumindo-se apenas como um híbrido que vive do espírito do que poderia ter sido mas que na realidade não se consumou. Senão, vejamos... a longa-metragem de Gonçalo Almeida revela-se com a viagem rumo a... onde o espectador apenas se familiariza com a personagem interpretada por Cleia Almeida. Uma vez chegada ao seu destino, "Sílvia" inicia uma outra viagem, agora de descoberta, àquela casa que sente ter algo por revelar mas que continua a habitar numas sombras manifestando apenas a sua presença nos momentos em que os silêncios povoam o espaço... "Se bater três vezes... é porque "ele" está lá". Previsível em boa medida ignorando todos os momentos em que poderia cativar não só pelo mistério como também pela sugestão, tantas vezes mais assustadora do que aquilo que de facto se confirma numa história deste género, Faz-me Companhia limita-se à superfície do conto de horror que não se chega a confirmar.
Mais, o fim-de-semana que se pretendia de romance, cumplicidade e até eventuais metas comuns a atingir que seriam interrompidas pela terceira, e não assumida, entidade que as acompanha, acaba por ser algo explorado de forma francamente superficial não consumando nenhuma empatia entre as duas protagonistas que, à parte de nos ser revelado que mantinham um caso sentimental e amoroso em segredo, pouca cumplicidade é aqui revelada. Diz-se - do género - que o sexo é uma das portas de entrada para esse "mal escondido"... se assumirmos a sua existência entre ambas "noutros tempos", então este mal existe para lá daquele local mas sim como resultado de vivências passadas que as acompanha esperando apenas pelo momento exacto... Faz-me Companhia - enquanto título e pensamento/sentimento - seria assim o resultado de algo que se quer vincular a uma existência terrena, que existe na realidade enquanto forma em busca de uma matéria mas não algo que surge de um espaço mas sim das experiências anteriores... enquanto acompanhante de uma ou de outra (sendo Filipa Areosa a outra protagonista), está escudado do conhecimento do espectador... mas a realidade é que se encontra nesse vazio não terreno nem celestial e que a sua solidão é manifestada pela vontade de ganhar forma. A casa - ou as experiências que se pretendiam ali consumar -, será então uma espécie de útero feminino - a "Sílvia" de Almeida está grávida de uma relação heterossexual que mantém para a sociedade - prestes a confirmar forma física para algo que se esconde e que lentamente dá os primeiros passos para essa manifestação junto de "Clara" (Areosa), mais susceptível a uma realidade que está, até então, ignorada ou não tão disponível de encontrar a credibilidade que nela encontra.
Potencialmente interessante na medida em que nos encontramos perante uma das raras entregas de cinema de terror português em formato de longa-metragem - "recentemente" e neste género apenas recordo Coisa Ruim (2006), de Tiago Guedes e Frederico Serra -, Faz-me Companhia teria sido muito mais bem sucedida confirmando a essencial química entre as duas protagonistas que aqui se esbateu apenas na percepção de que ambas mantêm (mantiveram?!) uma relação que ali encontrará um destino diferente e, sobretudo, a casualidade de que os sons e as sombras conferem um melhor resultado neste género de filme quando não existe a necessidade de explicar nem a sua origem nem o seu propósito... a casualidade, essa eterna aliada do cinema de terror, confere ao espectador a compreensão de que existe algo "do lado de lá" escondido por detrás de uma qualquer porta, desesperado por se fazer anunciar mas que o próprio filme mata com a necessidade de justificar, explicar e demonstrar de onde vem... e por detrás de qual porta se esconde.
Destaque positivo para a direcção de fotografia de Alex Grigoras e para um leve - muito leve - piscar de olho ao cinema de género italiano dos anos '70 mas que como consequência de todas as fragilidades apresentadas não se deixa cumprir enquanto um desses esperadas exemplares do terror Faz-me Companhia consegue, de facto, abrir o apetite para o estilo não conseguindo, no entanto, satisfazer essa "fome" por um bom filme de terror.
.Desde os primeiros instantes de Faz-me Companhia que o argumento de Gonçalo Almeida tenta recuperar o universo do "mal interior" onde os sentimentos de culpa da protagonista tendem a entrar num conflito silencioso com um qualquer mal adormecido que encontrou refúgio naquela casa onde agora ambos se cruzam. Algo existe que perturba "Sílvia" e, ainda que desconhecido para o espectador, este "mal" apresenta-se lentamente - ou assim se pensa -, prestes a afirmar-se enquanto uma personagem semi-secreta que tudo fará para ganhar uma nova vida. Desconhecemos se uma vida passada que ali se extinguiu ou mesmo se um mal sobrenatural que busca um receptáculo para dar corpo à sua alma perdida - não esquecer que "Sílvia" está grávida -, mas algo existe dentro dos limites daquela propriedade prestes a revelar-se e mesmo, pensamos, ganhar forma humana.
No entanto, esta tentativa de recuperar um fio condutor que se prenda com esse já mencionado "mal interior", Faz-me Companhia acaba por se perder na vontade de ser um The Amytiville Horror (1978), de Stuart Rosenberg assumindo-se apenas como um híbrido que vive do espírito do que poderia ter sido mas que na realidade não se consumou. Senão, vejamos... a longa-metragem de Gonçalo Almeida revela-se com a viagem rumo a... onde o espectador apenas se familiariza com a personagem interpretada por Cleia Almeida. Uma vez chegada ao seu destino, "Sílvia" inicia uma outra viagem, agora de descoberta, àquela casa que sente ter algo por revelar mas que continua a habitar numas sombras manifestando apenas a sua presença nos momentos em que os silêncios povoam o espaço... "Se bater três vezes... é porque "ele" está lá". Previsível em boa medida ignorando todos os momentos em que poderia cativar não só pelo mistério como também pela sugestão, tantas vezes mais assustadora do que aquilo que de facto se confirma numa história deste género, Faz-me Companhia limita-se à superfície do conto de horror que não se chega a confirmar.
Mais, o fim-de-semana que se pretendia de romance, cumplicidade e até eventuais metas comuns a atingir que seriam interrompidas pela terceira, e não assumida, entidade que as acompanha, acaba por ser algo explorado de forma francamente superficial não consumando nenhuma empatia entre as duas protagonistas que, à parte de nos ser revelado que mantinham um caso sentimental e amoroso em segredo, pouca cumplicidade é aqui revelada. Diz-se - do género - que o sexo é uma das portas de entrada para esse "mal escondido"... se assumirmos a sua existência entre ambas "noutros tempos", então este mal existe para lá daquele local mas sim como resultado de vivências passadas que as acompanha esperando apenas pelo momento exacto... Faz-me Companhia - enquanto título e pensamento/sentimento - seria assim o resultado de algo que se quer vincular a uma existência terrena, que existe na realidade enquanto forma em busca de uma matéria mas não algo que surge de um espaço mas sim das experiências anteriores... enquanto acompanhante de uma ou de outra (sendo Filipa Areosa a outra protagonista), está escudado do conhecimento do espectador... mas a realidade é que se encontra nesse vazio não terreno nem celestial e que a sua solidão é manifestada pela vontade de ganhar forma. A casa - ou as experiências que se pretendiam ali consumar -, será então uma espécie de útero feminino - a "Sílvia" de Almeida está grávida de uma relação heterossexual que mantém para a sociedade - prestes a confirmar forma física para algo que se esconde e que lentamente dá os primeiros passos para essa manifestação junto de "Clara" (Areosa), mais susceptível a uma realidade que está, até então, ignorada ou não tão disponível de encontrar a credibilidade que nela encontra.
Potencialmente interessante na medida em que nos encontramos perante uma das raras entregas de cinema de terror português em formato de longa-metragem - "recentemente" e neste género apenas recordo Coisa Ruim (2006), de Tiago Guedes e Frederico Serra -, Faz-me Companhia teria sido muito mais bem sucedida confirmando a essencial química entre as duas protagonistas que aqui se esbateu apenas na percepção de que ambas mantêm (mantiveram?!) uma relação que ali encontrará um destino diferente e, sobretudo, a casualidade de que os sons e as sombras conferem um melhor resultado neste género de filme quando não existe a necessidade de explicar nem a sua origem nem o seu propósito... a casualidade, essa eterna aliada do cinema de terror, confere ao espectador a compreensão de que existe algo "do lado de lá" escondido por detrás de uma qualquer porta, desesperado por se fazer anunciar mas que o próprio filme mata com a necessidade de justificar, explicar e demonstrar de onde vem... e por detrás de qual porta se esconde.
Destaque positivo para a direcção de fotografia de Alex Grigoras e para um leve - muito leve - piscar de olho ao cinema de género italiano dos anos '70 mas que como consequência de todas as fragilidades apresentadas não se deixa cumprir enquanto um desses esperadas exemplares do terror Faz-me Companhia consegue, de facto, abrir o apetite para o estilo não conseguindo, no entanto, satisfazer essa "fome" por um bom filme de terror.
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