sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sleep (2012)

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Sleep de Hugo Folgado e Célia Alturas é uma curta-metragem portuguesa que teve a sua ante-estreia na Cinemateca Portuguesa em Lisboa e que nos conta a história de Christie (Célia Alturas) uma mulher que atravessa uma fase complicada na sua vida e que numa ida ao psicólogo conta aquilo que realmente lhe vai na alma, desde os problemas conjugais passando pela sua relação com os amigos e no trabalho.
Numa abordagem diferente daquela que tem com aqueles com quem de mais perto convive, no psicólogo Christie avalia a sua vida e a forma como lida com os outros onde no seu íntimo sente e prefere deles se afastar para poder assim privilegiar uma relação mais saudável consigo e afastar-se das banalidades que "povoam" o seu dia-a-dia.
Numa Lisboa moderna onde o quotidiano segue a um rumo acelerado ao ponto de quase não existir tempo para pensar, como afecta este estilo de vida a relação que cada um de nós tem para com o seu íntimo, os seus desejos e os seus sonhos? A resposta presente neste trabalho acaba por ter tanto de simples como tem de complexa. Se por um lado bastaria dizer que muitos de nós simplesmente se esquecem desses mesmos objectivos pessoais que nos completariam em nome de um qualquer ritmo mais ou menos acelerado que socialmente nos completa pela imagem que os outros têm de nós mas que, na prática, estamos a esquecer o essencial... o "eu".
E quando cada um de nós se intitula no direito a pensar nesse "eu", temos como consequência directa deste aspecto uma reprovação daqueles com quem de mais perto convivemos. A família e os amigos não nos compreendem e o meio profissional para onde sempre foi entregue uma absoluta dedicação exige aquilo que sempre teve... perfeição.
Célia Alturas, que também escreveu este interessante argumento e que assume assim este projecto como um trabalho ao qual se dedicou em várias vertentes, tem nele o seu maior trunfo. Quantos de nós já não pensaram naquilo que estão a deixar para trás os seus sonhos dedicando-se a outras tarefas pensando que um dia mais tarde iremos usufruir do lucro que delas fizemos e aí sim... dedicar-se aos seus sonhos? Quantos de nós não irão então nessa altura pensar que foram anos desperdiçados em nome de algo que não nos completou nem nos deixou qualquer tipo de prazer ou felicidade?
No entanto, se por um lado o argumento é um dos pontos mais fortes deste filme, não deixa também de ser verdade que a execução prática do mesmo teve pontos em que poderia ter sido melhor desenvolvido e aproveitado começando logo de imediato por um aspecto que a mim pessoalmente me incomoda numa determinada filmografia, independentemente da sua origem, que se prende com o facto de se contar uma história num dado ambiente mas... noutra língua. Aqui a utilização do inglês vem descaracterizar bastante a história e dispersarmos para caminhos que não pretendíamos, ou seja, ao fundo temos a tal Lisboa moderna e cosmopolita mas aquilo que escutamos não é português.
Se a isto juntarmos uma excessivamente curta duração deste filme, onde sentimos que o seu argumento tem ainda muito mais por dizer mas que, infelizmente, não foi concretizado, fica-nos uma leve impressão de que este filme poderia ter ido muito mais longe e que o seu potencial não chegou a ser fil(r)mado.
No entanto há ainda que fazer a devida nota positiva à bastante positiva banda sonora composta por Zé Pedro Alfaiate e que dá uma atmosfera e um ambiente muito próprios ao filme constituindo até um dos momentos mais emblemáticos do mesmo já no final quando pensamos que pela liberdade transmitida por "Christie" que esta conseguiu, finalmente, a tão esperada e desejada liberdade de uma sociedade que até então a oprimia.
Não sendo um trabalho negativo ele é, no entanto, um filme que poderia ter percorrido caminhos bem mais distantes e explorados transformando-o numa interessante reflexão sobre o "eu" que, na prática, ficou a meio gás.
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4 / 10
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