A Besta de Rafael Soares (Portugal) é uma das curtas-metragens presentes na secção Filmes de Leiria da sexta edição do Leiria Film Fest que hoje termina no Teatro Miguel Franco.
Através de um conjunto de imagens desordenadamente perceptíveis, o espectador encontra uma praia. Um espaço potencialmente idílico que subitamente se transforma num depósito de detritos de toda a massa humana que por ele passa.
É através de uma música semi-Hitchcockiana que o espectador se deixa levar por um ambiente sinistro mas, ao mesmo tempo, intrigante pela potencialidade das imagens que nos chegam. Não nos encontramos num qualquer cenário de apocalipse - pelo menos não no seu formato original em que o mundo já se encontra morto pela potencial acção do Homem -, mas sim num que faz adivinhar essa extinção por todas as práticas conscientes de uma (des)Humanidade que lentamente executa um planeta capaz de tolerar muito... mas até certo ponto.
É essa mesma música que torna cada imagem intensa e violenta fazendo do seu público a última testemunha de uma lenta execução àquele que é o elemento principal e primário de toda a existência... a Natureza. Natureza essa aqui representada por um dos mais tradicionais espaços naturais do país... uma praia e o mar. Ambos poluídos com os inúmeros detritos ali deixados ou até mesmo por aqueles que chegam vindas das mais inesperadas paragens. Estas, que deveriam ser as personagens principais de uma qualquer história, assumem um imediato segundo plano quando chega o seu carcereiro... o Homem. Ao seu redor as suas vítimas... os animais naturais deste ecossistema... os detritos por ele criados e deixados... e uma caminhada por entre os mesmos que se assume tão natural como indiferente ao que está ao seu redor.
Num aparentemente desolador espaço sobrevive esse Homem... o protagonista de uma história que assume o seu fim a médio ou longo prazo. Um fim do qual está consciente mas para o qual parece - ou quer parecer - imune, transformando-se num senhor todo poderoso de um reino que não o irá suportar por muito mais tempo.
O realizador cria portanto uma história cuja temática ecológica está por demais evidente. Um conto, infelizmente contemporâneo, sobre o fim de um espaço e o potencial (mais que evidente) fim do Homem. O Homem vilão auto-criado pelo seu desrespeito, pela sua soberba e sobretudo pela sua arrogância face a um espaço que não é apenas seu mas de todos os demais seres que nele habitam. Seres esses que explora tal como aos espaços por onde passa considerando que nenhum representa - ou faz parte - do seu ecossistema e claro, da sua própria vivência. Até que ponto poderá esse Homem estar convencido desta realidade? Enquanto não se preocupar em olhar para o que faz, os detritos que produz pelo seu exacerbado consumismo e sobretudo pela sua arrogância ao não se preocupar com a sua correcta eliminação deixando pelo espaço que atravessa toda um rasto da sua despreocupada destruição.
Inteligente forma de apresentar todo um novo género de terror com o recurso a uma execução tão negra quanto a história que se propõe contar, A Besta é de facto a realização da sua chegada - desse demónio - que não é sobrenatural mas sim bem presente e real da vida contemporânea capaz de seduzir com a posse originada pelo consumismo e depois destruir pela indiferença da insustentabilidade criada.
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7 / 10
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