Terra Ardida de Francisco Romão (Portugal) é um documentário em formato de curta-metragem e um dos nomeados aos Sophia Estudante da Academia Portuguesa de Cinema que relata os acontecimentos aquando dos incêndios de 2017 mais concretamente na aldeia do Fajão perto da Pampilhosa de Serra, terra da avó do realizador.
Num breve mas emotivo registo, Terra Ardida recorre a um breve apontamento de mitologia e de conhecimento local da terra pelas suas gentes que registam e vivem o momento dos devastadores incêndios na primeira pessoa, registando-o como um acontecimento e cenário de guerra que, na realidade, não o era. Habituada a estes acontecimentos naturais, agora cada vez mais frequentes e mortíferos, esta aldeia totalmente destruída não viu nenhum dos seus sucumbir aos trágicos acontecimentos mas, no entanto, todos aqueles que falam são vítimas de uma tristeza profunda que ainda hoje os assola e consome lentamente por compreenderem agora que perderam um pouco da sua História e do seu património. Ainda que recorrendo a um lugar comum... nada voltará a ser como era dantes.
Repleta de um profunda nostalgia - ou mesmo melancolia - e de um sentimento de perda que se prolonga para lá dos testemunhos e da própria curta-metragem chegando a afectar o espectador mais desprevenido numa inesperada semelhança a um qualquer fim que é retratado, por exemplo, na longa-metragem Interstellar (2014), de Christopher Nolan que coloca o espectador perante o fim mais ou menos esperado do seu espaço e habitat natural, Terra Ardida é para lá de um (não tão) simples documentário, uma história de sobrevivência, de resistência e sobretudo de memória, dos espaços, das histórias da História e das suas gentes... sobreviventes da maior catástrofe natural de Portugal dos últimos duzentos anos aqui recordada com o devido respeito e homenagem que as suas vítimas merecem.
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8 / 10
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