Num País Estrangeiro de Miguel Seabra Lopes e Karen Akerman (Portugal/Brasil) é um documentário em formato de curta-metragem que parte da transcrição de um texto de censurado em 1968 estabelecendo uma autobiografia de Herberto Helder como o ponto de partida deste relato sobre o "proibido".
Num espaço em que os rostos se esfumaçam e todos os países são "estrangeiros", o local ao qual se poderá apelidar de "casa" acaba comprometido por um ideal de pertença a lado algum. O apátrida - ou o exilado -, são assim uma realidade constante de todos aqueles que fogem.
A viagem encetada é aquilo uma constante pela presença do transporte (comboio) que ocasionalmente desperta os sentidos do espectador atento - e preciso - ao que as imagens pouco revelam. Esse anonimato permanente como sintoma de que "eles" poderemos ser "todos nós" que nos encontramos nesse tal "país estrangeiro", acaba por transformar este documentário num elemento interessante do ponto de vista desse tal exilado mas, ao mesmo tempo, funciona como uma quebra de dinâmica na história que pretende ser contada (ou relatada), desviando o público não tanto para a realidade do que é mas sim para as diversas estradas do que "poderia ser" caso cada um de nós pretenda - e disponha de tempo - para pensar nas diferentes realidades que os estados totalitários onde reina a censura colocam os seus cidadãos.
Os corpos dão lugar às memórias e estas, frequentemente vividas por "um" e não pelo colectivo, transformam-se com o passar do tempo em registos semi-apagados de uma experiência de outros tempos. Algo pessoal, existencial e assumidamente literário deixado de lado o universal, que se vive na primeira pessoa e se é incapaz de partilhar, deixando a sua mensagem relativamente perdida nessa esperança de que nenhum país - ou país estrangeiro - possa ser a condição ad aeternum de alguém que se vê forçado a viajar para lá da sua vontade esquecendo a pessoa, o espaço ou até mesmo o lugar personalizando a viagem como a personagem central de um conto que se repete e não tem fim.
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