domingo, 15 de setembro de 2013

John Dies at the End (2012)

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John Dies at the End de Don Coscarelli é a longa-metragem que iniciou o quarto dia do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa a decorrer no Cinema São Jorge.
Este filme conta-nos a história de David (Chase Williamson) e John (Rob Mayes), dois inadaptados que se tornam repentinamente em silenciosos heróis da Humanidade quando uma nova droga chamada "Molho de Soja" começa a dominar as mentes daqueles que a consomem e a transportá-los para outras dimensões. Tudo se complica quando, ao delas regressarem, já não serem os mesmos humanos que foram até então mas sim seres prontos a dominar a civilização tal como a conhecemos transformando-a num sistema autoritário onde todos os "desvios" à nova ordem devem ser severamente punidos.
Coscarelli escreveu o argumento deste filme que ressuscita o estilo de comédia apocalíptica e que se assume ao mesmo tempo um filme que tenta, parentemente sem grande esforço, simplesmente divertir o seu público. E isto está perceptível desde os seus primeiros instantes onde "David" interage com "Arnie" (Paul Giamatti), um jornalista em busca de um furo que o catapulte para a ribalta e onde notamos a clara empatia ão só entre os dois actores como também para com a história que pretendem transmitir ao público sem que nenhum se prenda a regras estilísticas além de uma enorme vontade de divertir sem que, no entanto, se esqueça a necessidade de se reflectir sobre o quão fácil é cair numa espiral de loucura com muito pouco esforço quando se pretendem comprovar teorias para as quais poucos estão receptivos. Assim este segmento consegue colocar-nos por um lado perdidos na sua mensagem mas ao mesmo tempo vidrados naquilo que ela poderá fazer nascer com o decorrer da narrativa, principalmente se nos fundamentarmos na dinâmica existente entre a realidade ou a percepção que dela temos.
O exemplo relatado por "David" é por demais esclarecedor do quão longe vamos no elogio à loucura quando se questiona (e nos questiona) sobre o machado que ora se danifica na lâmina ora no cabo que imediatamente substitui... será ele o mesmo machado que efectuou tantos outros... "serviços"? E por incrível que pareça todo este segmento que é, no mínimo, surreal é aquele que nos faz ficar presos ao filme, como às suas personagens e, invariavelmente destas entre si, o que numa perfeita simbiose nos mostra que n
os próprios (o espectador) já entrou nessa mesma espiral de loucura sem sequer ter percebido como foi "recrutado".
Mas não vamos pensar que este filme é apenas um conjunto de teorias mais ou menos paranóicas que se mesclam dando origem a um filme do qual ninguém vai perceber absolutamente nada. Pelo contrário, aqui temos um conjunto de momentos de comédia negra, por vezes gore, e personagens no mínimo excêntricas e cheias de vida que (des)esperam por se fazer notar ao longo deste filme que poderia sem qualquer problema demorar mais duas horas pois certamente teria todo o seu público sempre à espera e a acompanhá-lo. E são assim todos estes momentos e personagens que lhes dão vida, que nos fazem crer a certo ponto que não são só elas que estão drogados com o "Molho de Soja" mas que nós próprios estamos dependentes dos efeitos secundários mais ou menos nefastos que dela provêm. Aranhas gigantes, universos paralelos, personagens (auto) destrutivas que esperam pelo fim do mundo mas tal e qual como se encontrassem num universo Kubrickiano onde umaa noção de perfeição é desejada mas a qual implica ao mesmo tempo a destruição de todos aqueles que dela não fazem parte (tão inferiores são), humanos excêntricos e prontos a enganar o próximo e seres evoluídos que vêem num qualquer renegado o herói salvador de todos os universos mais ou menos conhecidos são aqui realidades das quais não podemos escapar.
Com uma narrativa que transcende qualquer compreensão de quem apenas vê um trailer ou lê um texto como este, Coscarelli obriga-nos a assistir a John Dies at the End como se tivessemos acabado de consumir uma qualquer droga alucinógenea que nos transportasse para o outro lado do ecrã e nos encontrassemos a conviver com uma estranha realidade e seus respectivos habitantes.
Não vamos aqui encontrar um filme de terror nem tão pouco um que nos vá assustar com a sua história. Aqui, a haver terror, é aquele que nos faz libertar da nossa noção sobre a realidade e que nos remete para uma realidade alternativa onde os universos paralelos repletos dos seus habitantes e seres igualmente alternativos que se regem por um conjunto de regras e leis que estão para lá da nossa compreensão, ou aceitação são, eles próprios, realidades que não conseguimos controlar. É quando aceitamos esta premissa que compreendemos que este filme dentro da sua loucura e genialidade nos irá transportar numa viagem sem limites que, tal como qualquer outra dependência, queremos experienciar diversas vezes.
Williamson e Giamatti formam uma dupla dinâmica que vibra com a vontade de contar uma história versus a vontade de a conhecer, enquanto Williamson e Mayes nos encantam com as suas personagens alucinadas e cómicas que dinamizam toda a acção desta longa-metragem que, mesmo com as suas imperfeições em retratar esses ditos outros universos, irão perceber os detalhes da execução dos mesmos e o quão depressa nos remetem propositadamente para filmes de terror série B ao estilo Ed Wood, nos fazem gostar deles e dali não querer sair, não nos deixando esquecer que os cães são realmente os melhores amigos do homem.
É garantido que quem fôr ver este filme que se deixa levar pelo seu génio e pela sua loucura. E isto é tão verdade como o poder haver uma qualquer sequela que dê continuidade às aventuras da dupla protagonista Dave e John. Eu afirmo sem reservas que gostaria de os voltar a ver... "but that's another story"...
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"Dave: My name is David Wong. I once saw a man's kidney grow tentacles, tear itself out of a ragged hole in his back, and go slapping across my kitchen floor. But that's another story."
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7 / 10
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