Os Produtores de Susan Stroman (EUA) é o homónimo remake da obra de Mel Brooks datada de 1967 na qual Max Bialystock (Nathan Lane), o mais falhado de todos os produtores da Broadway, ressurge de um novo falhanço ao formar equipa com Leo Bloom (Matthew Broderick) para produzir a pior peça de sempre... que acaba por lhes granjear dinheiro. Juntamente com Franz Liebkind (Will Ferrell) um novo e inesperado talento do teatro musical e a emergente Ulla (Uma Thurman), uma aspirante a actriz, o sucesso prova que também pode ser fruto do fracasso.
Adaptado o argumento da obra original e do musical de 2001, agora novamente escrito por Mel Brooks e por Thomas Meehan, The Producers tido como musical e comédia é, desde os instantes iniciais, uma obra que oscila entre o desinteressante, o desagradável e o francamente absurdo. Aquilo que começa como uma história sobre o tal produtor falhado interpretado com pouca graça por um exagerado e sem alma Nathan Lane, The Producers rapidamente se transforma num épico apoteótico não sobre o tal "falhanço" de uma produção teatral mas sim sobre o exagero sem graça que inspiradamente é aqui depositado com a aparente fé e confiança de que se está a construir uma obra musical "interessante". No entanto, de interessante esta longa-metragem não tem absolutamente nada.
Mas, voltando a esse argumento... imagine o espectador uma história musical... de comédia... onde a base para o sucesso provenha de um conto onde se humaniza o nazismo e os seus carrascos. Uma história onde tudo parece ser (e é), uma versão adulterada desses temidos e horrendos anos que são agora algo ligeiro e de entretenimento privado de qualquer reflexão moral ou política da época porque, afinal, o protagonista desta peça - interpretado por Ferrell - se resume a um nazi (de facto) que tem a sua oportunidade de "regressar ao mundo" após o seu isolamento posterior ao conflito graças a este espectáculo.
No entanto, se toda esta dinâmica poderia ser amenizada quando o espectador compreende que Brooks - judeu - é o autor desta história, tudo se complica (ainda que seja essa a sua intenção primordial), quando o público norte-americano (no filme), desprovido de qualquer sentido crítico e histórico, adere a este musical propositadamente criado para o falhanço, encontrando nele a redenção de um produtor falhado, de um género que nem sempre consegue prender a atenção do seu público e particularmente ver nesse tal protagonista, um elemento e factor humanizador, com verve e alma, esquecendo ou ignorando que o mesmo mais não é do que um nazi esquecido e perdido no tempo que apenas espera realcançar esse esplendor para espalhar a sua ideologia.
Impiedosamente cruel pela falta de graça - pela forma como ridiculariza a História e até mesmo o público do país - The Producers (sobre)vive de uma sucessão de momentos histéricos e viciados em anabolizantes que, para o espectador, se tornam enfadonhos, excessivos, e pouco dissimulados como tanta da realmente boa e inteligente comédia devem, de facto, ser.
E, sem em Birdcage (1995), encontramos um Nathan Lane repleto de vivacidade, humor e uma pitada de dramatismo que aproximam o espectador da sua personagem, em The Producers, o actor vive única e exclusivamente dessa pretensão - a alma -, transformando o seu "Max" numa versão exagerada do ridículo e do absurdo, sem graça e quase sempre aborrecido mesmo que para lá (tentar) chegar - à comédia - recorra aos pensados lugares comuns que, normalmente, fazem qualquer um esboçar um sorriso primitivo mas que aqui remetem o espectador para um constante estado de insatisfação e aborrecimento. Desenfreadamente à procura de salvação, nem com o apoio esquizofrénico de um Matthew Broderick pouco inspirado, de um ainda mais exagerado Will Ferrell - e tendencialmente com menos graça ainda - e uma Uma Thurman incapaz de conferir a esta obra a sua graça natural, aquilo que esta longa-metragem transmite cada vez mais parece ser o resultado de um violento acidente... não involuntário mas propositadamente criado para ser realmente mau.
Esperando que o filme - ou o mundo - termine rapidamente para se poder distanciar desta história, o espectador esgota-se com The Producers ao ponto de o querer esquecer rapidamente ou dele se lembrar como um dos piores filmes da década...
Mas, como nem tudo pode ser mau, The Producers apenas consegue atingir um apontamento positivo na sua componente mais artística nomeadamente no guarda-roupa de William Ivey Long capaz de caracterizar um género cinematográfico e um espaço temporal específicos e na direcção de arte de Mark Friedberg, Peter Rogness e Ellen Christiansen que consegue "berrar" o género musical do princípio ao fim... mas como não só de caracterização vive um filme... The Producers falha em todas as demais vertentes.
Exagerado, inconveniente, cansativo, desmiolado, sem graça e monótono... The Producers é um desastre anunciado... e revela-o desde cedo... ainda que com muito brilho.
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2 / 10
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