Temps de Chien de Vanessa Caffin (França) é uma das curtas-metragens presentes na competição de Comédia da décima-terceira edição do Festival Internacional de Cine de Piélagos que termina amanhã na Cantábria, em Espanha.
Aqui conhecemos Alice, uma talentosa escritora que, com o fim da pandemia da COVID perde o único trabalho enquanto escritora de elogios fúnebres que ainda lhe dava sustento e vê ainda o adiamento do seu último romance considerado como uma obra de outros tempos. Sem o apoio da família e com a sua vida virada do avesso, Alice encontra uma solução pouco típica quando tudo parece estar perdido.
"Alice" (Alysson Paradis) é a encarnação de uma mulher dos "nossos dias". Desacreditada pela família que vê nela e nas suas actividades uma oportunidade perdida de ser alguém que, invariavelmente, passa pela capacidade única de constituir família e tratar do lar e "habitante" de um meio profissional que tem outras perspectivas para ela do que aquelas que a própria havia criado. "Alice" é assim uma mulher pedida entre dois mundo: um pré-pandemia onde parecia que a sua independência e qualidade profissional eram finalmente reconhecidas e por outro, esta nova realidade que, para lá do que alguma vez havia imaginado, lhe confere agora pouco mais do que absurdas oportunidades profissionais consideradas "adequadas" para aquilo que ela pretende ser... uma escritora. Todo o seu trabalho que até então era considerado de qualidade e desejado é agora uma breve miragem desses outros tempos... pouco ambicionado... pouco qualificativo... absurdo... essencialmente absurdo.
Remetida a um conjunto de trabalhos de ocasião que inicialmente pagavam bem dado o surto de falecimentos que se registaram fruto da pandemia e que, como tal, pediam a execução de elogios fúnebres que fossem o reflexo de todo o amor e dedicação que os familiares pelos mesmos sentiam, foi com o recuar dessa mesma pandemia que este "trabalho" de ocasião começou a ser, também ele, um desnecessário absurdo que em nada contribuía para imagem dos entes que então partiram. Então, questiona-se, qual a solução?! De absurdo em absurdo - afinal é o que principalmente retemos desta mulher cujo único crime parece ser o de que querer sobreviver num mundo que aparenta ter avançado mais depressa do que ela -, surge a oportunidade de ouro quando lhe é proposto escrever horóscopos para cães e gatos... um cómico capricho para os seus donos - ou "humanos" - que nada tendo para abrilhantar os dias dos seus pobres animais de estimação, os pretendem "humanizar" com igualmente absurdas características ou "vícios" que agora se pretendem adequar aos mesmos.
O ridículo, do ponto de perspectiva da personagem bem como do espectador que oscila entre a compreensão da sua situação mas também entre o fechar de um capítulo encerrando e esquecendo os seus sonhos e ambições, passa pela capacidade humana em encontrar formas de sobreviver quando tudo o demais parece falhar e sobretudo pela capacidade de adaptação a um mundo sempre em transformação que primeiro nos adora, depois nos mastiga e finalmente nos deita fora com a mesma exacta rapidez. Quando tudo no mundo falha, inclusivé o próprio, o que fazer para lhe resistir? Encontrar novas soluções e alternativas para sobreviver caindo na incapacidade de fazer valer os nossos próprios desejos e ambições ou não ceder ao compromisso e manter viva a chama de uma qualquer paixão?!
Com um humor muito típico e algumas questões pertinentes à mistura que esbatem constantemente num sentimento de incompreensão, Temps de Chien utiliza essa comédie française para reflectir sobre pertinentes temas pós-pandémicos... Perdeu-se o "eu" e há uma nova necessidade de finalmente o reencontrar ou nunca se chegou realmente a conhecer esse "eu" que agora se revela?
.Aqui conhecemos Alice, uma talentosa escritora que, com o fim da pandemia da COVID perde o único trabalho enquanto escritora de elogios fúnebres que ainda lhe dava sustento e vê ainda o adiamento do seu último romance considerado como uma obra de outros tempos. Sem o apoio da família e com a sua vida virada do avesso, Alice encontra uma solução pouco típica quando tudo parece estar perdido.
"Alice" (Alysson Paradis) é a encarnação de uma mulher dos "nossos dias". Desacreditada pela família que vê nela e nas suas actividades uma oportunidade perdida de ser alguém que, invariavelmente, passa pela capacidade única de constituir família e tratar do lar e "habitante" de um meio profissional que tem outras perspectivas para ela do que aquelas que a própria havia criado. "Alice" é assim uma mulher pedida entre dois mundo: um pré-pandemia onde parecia que a sua independência e qualidade profissional eram finalmente reconhecidas e por outro, esta nova realidade que, para lá do que alguma vez havia imaginado, lhe confere agora pouco mais do que absurdas oportunidades profissionais consideradas "adequadas" para aquilo que ela pretende ser... uma escritora. Todo o seu trabalho que até então era considerado de qualidade e desejado é agora uma breve miragem desses outros tempos... pouco ambicionado... pouco qualificativo... absurdo... essencialmente absurdo.
Remetida a um conjunto de trabalhos de ocasião que inicialmente pagavam bem dado o surto de falecimentos que se registaram fruto da pandemia e que, como tal, pediam a execução de elogios fúnebres que fossem o reflexo de todo o amor e dedicação que os familiares pelos mesmos sentiam, foi com o recuar dessa mesma pandemia que este "trabalho" de ocasião começou a ser, também ele, um desnecessário absurdo que em nada contribuía para imagem dos entes que então partiram. Então, questiona-se, qual a solução?! De absurdo em absurdo - afinal é o que principalmente retemos desta mulher cujo único crime parece ser o de que querer sobreviver num mundo que aparenta ter avançado mais depressa do que ela -, surge a oportunidade de ouro quando lhe é proposto escrever horóscopos para cães e gatos... um cómico capricho para os seus donos - ou "humanos" - que nada tendo para abrilhantar os dias dos seus pobres animais de estimação, os pretendem "humanizar" com igualmente absurdas características ou "vícios" que agora se pretendem adequar aos mesmos.
O ridículo, do ponto de perspectiva da personagem bem como do espectador que oscila entre a compreensão da sua situação mas também entre o fechar de um capítulo encerrando e esquecendo os seus sonhos e ambições, passa pela capacidade humana em encontrar formas de sobreviver quando tudo o demais parece falhar e sobretudo pela capacidade de adaptação a um mundo sempre em transformação que primeiro nos adora, depois nos mastiga e finalmente nos deita fora com a mesma exacta rapidez. Quando tudo no mundo falha, inclusivé o próprio, o que fazer para lhe resistir? Encontrar novas soluções e alternativas para sobreviver caindo na incapacidade de fazer valer os nossos próprios desejos e ambições ou não ceder ao compromisso e manter viva a chama de uma qualquer paixão?!
Com um humor muito típico e algumas questões pertinentes à mistura que esbatem constantemente num sentimento de incompreensão, Temps de Chien utiliza essa comédie française para reflectir sobre pertinentes temas pós-pandémicos... Perdeu-se o "eu" e há uma nova necessidade de finalmente o reencontrar ou nunca se chegou realmente a conhecer esse "eu" que agora se revela?
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