sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Cólera (2013)

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Cólera de Aritz Moreno é uma curta-metragem de ficção espanhola que conta com Luis Tosar numa das principais intepretações.
Encontramo-nos nos arredores de uma pequena povoação. O espaço é praticamente deserto há excepção de um pequeno casebre para onde toda a população se dirige. O seu líder (Tosar) inicia uma rebelião que apela por alguém que se encontra dentro daquela habitação.
Enraivecidos todos desconhecem que as consequências daquela revolta serão a sua própria destruição.
Aritz Moreno contrói esta curta-metragem a partir de um argumento que escreveu em parceria com Aritz Lazkano que não vive tanto das interpretações dos seus actores - que há excepção de Tosar mal cruzam o ecrã - mas sim da mensagem que está entre linhas. Nesta história temos todo um conjunto de elementos que passam pela vingança, discriminação, ira, isolamento e intolerância, todos eles concentrados no mesmo grupo de pessoas que (sobre)vive assim graças ao medo e à ignorância.
É também numa dualidade que vive Cólera na medida em que não só se refere ao comportamento dos cidadãos daquela pequena povoação como também há infecção que se abate sobre um dos seus que foi vetado ao ostracismo. Ninguém quer saber daquela alma, pelo contrário, todos desejam que ele desapareça e que abandone o local onde se encontra. Afinal é ele, nas suas opiniões, a origem de todo o mal que se abate, ou pode vir a abater, sobre as suas casas.
Afastado então de todo o contacto humano, este Infectado (Ander Pardo) vê-se obrigado a sair, a fugir para escapar da perseguição de que é alvo, fruto do medo e da insegurança, mas fuga esta que acaba por se tornar na própria condenação de toda a aldeia da forma mas irónica e perigosa.
Cólera torna-se assim quase num estudo existencial na medida em que a causa da eventual morte da povoação não é aquele homem que vivia num isolamento total mas sim o contacto provocado por aqueles que dele queriam distância e o obrigaram a sair. No fundo, iria aquela povoação sofrer de uma doença até então desconhecida, se deixasse aquele homem ficar sossegado no seu canto longe de todo o contacto humano?
Todo o ambiente é enriquecido pelos elementos técnicos que o compõem começando pela caracterização de Olga Cruz que dão àquele infectado um aspecto verdadeiramente assustador como se em decomposição se encontrasse e a óbvia menção à direcção de fotografia de Javier Agirre que nos remete para um espaço onde todos os sentimentos mais "quentes" e resultantes da referida cólera (ira) estão em evidência. Finalmente, um breve mas importante comentário à música original da autoria de Mursego que não só dá um clima desconcertante ao próprio argumento como a toda a curta-metragem que se sente prestes a explodir e a fazer denotar consequências que se assumem catastróficas a médio prazo.
Um filme arriscado e mordaz, Cólera é sem margem de dúvidas um dos filmes curtos símbolo deste ano e desta nossa época intolerante.
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10 / 10
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