sábado, 5 de dezembro de 2015

Patchwork (2015)

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Patchwork de Pedro Rodrigues é uma curta-metragem portuguesa de animação stop motion e o mais recente trabalho do realizador de S.C.U.M. (2010).
Uma senhora idosa recebe a trágica notícia de que José Manuel - o seu marido - morreu num incêndio na carpintaria onde trabalhava provocado pelo seu assistente Tó Zé, entretanto declarado como desaparecido.
Como irá sobreviver esta senhora agora solitária num espaço isolado e desertificado sem a companhia da sua cara metade?!
Pedro Rodrigues que aqui não só dirige como escreveu o argumento, é o director de fotografia, argumentista, editor e criador da animação per si, volta ao seu ambiente natural ao construir uma história de terror que é, no entanto, apresentada através de uma animação cuja história é inicialmente contida mas que rapidamente se revela pelo seu lado macabro.
Depois de revelar um ambiente inicialmente idílico onde uma simpática casa de campo parece irradiar uma luminosidade pacífica, na qual está uma igualmente simpática idosa na sua costura, cedo chegam as notícias de acontecimentos macabros provocados não se sabem por quem. É neste sentido que o espectador imediatamente se familiariza com todos os pequenos sons que se transformam suspeitos a cada instante, e que todo o espaço é subitamente invadido por uma misteriosa escuridão como que um reflexo de uma mente perturbada que anuncia a sua revelação.
Numa mescla de solidão da população mais velha e uma invulgar presença das novas tecnologias no quotidiano de todos nós, Patchwork revela-se, apesar do seu fundamento enquanto animação, numa tensa história de terror cujos intervenientes são - à partida - aqueles que todos nós poderemos admirar pela sua tranquilidade. Se por um lado a referida solidão ataca aqueles que mais dependentes de companhia estão - a camada populacional mais velha - não é menos certo que Patchwork apresenta-nos as medidas desesperadas de uma mulher solitária e saudosa de um amor perdido como forma a poder recuperar um vislumbre daquilo que em tempos havia tido. Num misto de posse e egoísmo, de sobrevivência e solidão, esta mulher vai dar corpo - mas pouca alma visto que perde a sua - à construção de algo "moderno".
É então que numa mistura de remendos e muito trabalho de costura no mais (aparentemente) paradisíaco dos lugarejos portugueses onde os já idos regressam - o detalhe do Galo de Barcelos não engana ninguém - nem que seja numa vã memória daquilo que antes foram tendo está assim dependentes, portanto, da descida à loucura daqueles que por cá ficam para a concretização do seu regresso. E é quando esta espiral se consuma que nada se permite num mundo perdido pela banalidade da informatização onde tudo é espectáculo e mediático e todos servem para ser notícia e alguma hipótese de fama.
Mas quando o mal se apodera... ninguém lhe resiste...
Como já aqui referi, este regresso ao género de terror onde Pedro Rodrigues parece tão confortavelmente se inserir, fá-lo criar - num one man show - uma referência na recente animação de terror onde o desespero e a já referida solidão ganham vida e caminham de mãos dadas tentando assim recuperar um amor perdido que garante a sobrevivência daqueles que ficam pela manutenção dos que partem. Ainda com um tom de comédia à mistura - o terror parece, também ele, andar sempre de mãos dadas com a comédia - Patchwork (espera-se) seja o mais recente de muitos dos trabalhos deste realizador dentro do género pois a sua qualidade enquanto contador e construtor de histórias, enredos e espaços é notória com a elaboração de todo este filme repleto de preciosos e inúmeros detalhes que precisam ser absorvidos e admirados.
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8 / 10
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