sábado, 5 de dezembro de 2015

Tormenta (2014)

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Tormenta de Alek Lean é uma curta-metragem experimental brasileira e o início da trilogia sobre a obsessão dirigida pelo realizador.
Num breve monólogo/desabafo de Maria (Rose Rodrigues) induz o espectador a um conjunto de considerações para com alguém que está do outro lado. Maria comunica mas nunca escutamos outra voz... Até vermos sangue.
Numa intensa reflexão sobre auto-despeito e desagrado revelando todo um desconforto com aquilo que diariamente assiste quando se olha ao espelho, "Maria" conjectura sobre a beleza e a sua falta, sobre a leviandade do momento e a eternidade numa colagem de momentos diários de uma vida atormentada e sem descanso.
Editados de forma inteligente, todos estes segmentos que parecem uma única e constante discussão com outro "alguém" revelam afinal que "Maria" é uma mulher solitária que se detesta - despreza até - e que se consome numa espiral de ódio por si, pela sua imagem e por aquilo que, no fundo, ela representa (pensa).
Num curtíssimo espaço de tempo que pouco excede os três minutos, o espectador fica assim a conhecer uma mulher anónima - espelho de tantas outras - que vive desconfortável e emocionalmente instável com a sua imagem - ou com aquilo que os seus olhos vêem - num crescendo de desprezo, ódio e nojo - com algures refere - com aquilo que é e sente - sobre si.
Inteligente a forma como é escolhido o preto e branco para a direcção de fotografia, eliminando grandes distracções para com a dinâmica da narrativa, Tormenta falha apenas numa direcção por vezes frágil que "edita" os momentos em que se sente que a tensão está prestes a consumir definitivamente os destinos - psicológicos - desta mulher. Num relato inicial daquilo que os dois capítulos seguintes viriam a mostrar, Tormenta é assim um exercício interessante - e do qual gostaria de ter visto mais - sobre a espiral de auto-violência em que a mente humana pode lançar um indivíduo fazendo-o esquecer-se de si para lá da imagem física que o referido espelho perpetua.
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6 / 10
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