Gigante de Adrián Biniez foi o filme sensação do Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2009 tendo vencido os prémios de Melhor Primeira-Obra, Prémio Especial do Júri e o Prémio Alfred Bauer, e um êxito no Uruguai, o seu país de origem.
Encontramo-nos em Montevideu, no Uruguai e deparamo-nos com Jara (Horacio Camandule), um tipo fisicamente enorme, pacato e quase invisível no mundo que trabalha como segurança no turno nocturno de um supermercado. Jara passa o seu tempo livre a ver televisão, ouvir heavy metal e ocasionalmente faz uns biscates como porteiro numa discoteca.
A sua vida ganha toda uma nova dimensão quando, pelas câmaras de segurança do supermercado, vê Julia (Leonor Svarcas), por quem se sente atraído e a quem começa a seguir por todos os lados testemunhando todos os aspectos do seu quotidiano mas a quem nunca aborda. Julia um dia conhece um homem... que reacção terá para Jara esta nova e inesperada amizade?
Aquilo que me despertou mais interesse neste filme e no argumento de Biniez é o facto das duas personagens principais serem claros opostos que estranhamente se tocam. Aparentemente diferentes um do outro "Jara" e "Julia" são duas almas solitárias. Enquanto "Jara" vive o seu dia-a-dia de forma distante e isolada do mundo que o rodeia apenas despertando para um trabalho nocturno que lhe garante o seu sustento, "Julia" é uma mulher que também sózinha, passeia pela cidade ou frequenta a praia distante de todos aqueles que com ela se cruzam ignorando até a presença constante de "Jara" que a segue como se de um guarda-costa ou de um perseguidor se tratasse, e de quem por momentos parece poder surgir um qualquer ataque àquela mulher por se tratar de uma perseguição sem tréguas.
Ele suspeita que ele tem uma ligação amorosa com alguém no local de trabalho, ele percorre as ruas da cidade sempre no seu encalce analisando todos os pequenos detalhes do seu comportamento. Sempre de muito perto procurando assim saber todos os pequenos passos que ela dá.
Mas ao mesmo tempo que este factor de isolamento e de duas almas que estão de certa forma perdidas no mundo, sendo que um funciona como uma estranha força protectora da outra é apelativa, também não deixa de ser verdade que juntamente com o seu excessivamente lento desenrolar do conto, todo o restante filme muito pouco ultrapassa esta dinâmica mantendo-se quase na sua totalidade uma história de silêncios e de testemunho sobre o que "Julia" faz, por onde anda, quem conhece e como se comporta nunca dando lugar a uma real interacção entre ambos e, como tal, não criando nenhuma dinâmica entre estas duas personagens. Se por um lado gostamos de testemunhar esta história na expectativa de que ela vá culminar com um encontro, mais ou menos forçado, entre ambos... na prática chega uma altura em que a paciência para que esse encontro se dê perde-se pela insatisfação que daí retiramos.
Funciona como um conto sobre a solidão e por aí, de uma estranha forma, é um filme apelativo estando sempre a faltar um clímax que representaria um ponto de ruptura de "Jara" para com ele e para com a sociedade que o rodeia. No entanto, Gigante pretende ao mesmo tempo ser um filme de encontro entre dois seres de mundos idênticos que, na prática, nunca se encontram. É esta mesma dualidade com que deparamos e que nos deixa um pouco insatisfeitos com o resultado final mesmo que, nesse final, a ideia de que o encontro vai suceder permaneça sem que realmente sejamos nós próprios dele testemunhas, enfatizando assim o próprio lado voyeur do espectador, tal como "Jara" o foi em relação a "Julia".
Um argumento interessante, e talvez o mais forte elemento de todo o filme que juntamente com uma inspirada e francamente solitária interpretação de Camandule, conseguem dominar praticamente todo o filme que só precisa de um verdadeiro clímax para poder ser perfeito.
6 / 10
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