As Rosas Brancas de Diogo Costa Amarante é uma curta-metragem portuguesa de ficção que esteve presente na última edição do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente.
Carol (Carolina Tamez-Rodriguez) e Cristina (Cristina Tamez-Rodriguez) observam o irmão Gabriel (Oisín Monaghan) enquanto este trata dos cavalos numa extensa propriedade coberta de neve. Comentam, sob o também atento olhar do pai (Frank Rodriguez), como ele mudara desde a morte da mãe.
Aos poucos sentimos a tensão e o sentimento de perda que se apodera (ou apoderou) desta família, e como o desaparecimento daquele que percebemos ter sido o seu pilar, afectou não só a dinâmica e sentido da mesma como também os elos de ligação entre si confundindo papéis, afectos e sentimentos que se percebem estar reprimidos.
As Rosas Brancas inicia a sua história com um segmento afastado deste tempo e ao som de Logical e de uma coreografia de rua que tem tudo menos lógica, tenta estabelecer uma relação entre os dois momentos para que o espectador perceba, e sinta, que aquilo que irá em breve presencial é tudo menos um momento lógico na vida desta família que sentiu a dor, a perda e percepção de que vivem algo que de lógico pouco tem.
Diogo Costa Amarante leva-nos assim numa viagem sobre a perda. Como reagir e auto-preservar-se num ambiente em que sentimos faltar um elemento, nomeadamente o materno que se assume naturalmente como o pilar que todos mantém unidos? Melhor dito, como sobreviver para além daquele que é o alicerce fundamental da família, que sente, que protege, que sabe e que entende todos os possíveis silêncios, sorrisos e olhares e saber qual será, a partir desse momento, o seu próprio lugar no seio da "instituição" família?
É com esta dinâmica e pressuposto que a curta-metragem de Costa Amarante ganha vida e nos obriga a assistir às dinâmicas criadas entre pai e três filhos onde o mais novo elemento masculino (Monaghan) assume uma invulgar feminilidade que parece, aos poucos, transformá-lo no elemento maternal desaparecido.
O fim parece estar próximo para todos eles, e o próprio ambiente físico parece querer revelar-nos que já não nos encontramos num qualquer espaço terreno. Os silêncios parecem pensados e cúmplices e todos os comportamentos e interacções entre estes quatro sobreviventes denotam desconforto e alguma intranquilidade. Todos se sentem tensos, distintos, diferentes e alterados e a sua convivência mútua parece apenas agora ter iniciado procurando assim uma forma de interagir entre si. Conhecem-se, no entanto, o espectador percebe que os seus mundos estão afastados e que a morte os transformou colhendo um pouco da esperança que poderiam previamente ter. Afinal, qual o verdadeiro sentido da vida agora onde a perda de um elemento tão importante se fez sentir?
Estamos perante uma narrativa dispersa não no sentido de falta de elaboração mas sim onde nos é dado a conhecer o outro lado de quem sofreu um abalo e pretende agora encontrar-se. Se por um lado nos é pretendido denotar que a tal "lógica" se perdeu, não é menos verdade que somos momentaneamente levados por um conjunto de imagens em câmara lenta de cantores de coro de uma Igreja como se Amarante nos quisesse mostrar que a fé ainda mantém um espaço importante, e de esperança, na vida desta família.
Carol (Carolina Tamez-Rodriguez) e Cristina (Cristina Tamez-Rodriguez) observam o irmão Gabriel (Oisín Monaghan) enquanto este trata dos cavalos numa extensa propriedade coberta de neve. Comentam, sob o também atento olhar do pai (Frank Rodriguez), como ele mudara desde a morte da mãe.
Aos poucos sentimos a tensão e o sentimento de perda que se apodera (ou apoderou) desta família, e como o desaparecimento daquele que percebemos ter sido o seu pilar, afectou não só a dinâmica e sentido da mesma como também os elos de ligação entre si confundindo papéis, afectos e sentimentos que se percebem estar reprimidos.
As Rosas Brancas inicia a sua história com um segmento afastado deste tempo e ao som de Logical e de uma coreografia de rua que tem tudo menos lógica, tenta estabelecer uma relação entre os dois momentos para que o espectador perceba, e sinta, que aquilo que irá em breve presencial é tudo menos um momento lógico na vida desta família que sentiu a dor, a perda e percepção de que vivem algo que de lógico pouco tem.
Diogo Costa Amarante leva-nos assim numa viagem sobre a perda. Como reagir e auto-preservar-se num ambiente em que sentimos faltar um elemento, nomeadamente o materno que se assume naturalmente como o pilar que todos mantém unidos? Melhor dito, como sobreviver para além daquele que é o alicerce fundamental da família, que sente, que protege, que sabe e que entende todos os possíveis silêncios, sorrisos e olhares e saber qual será, a partir desse momento, o seu próprio lugar no seio da "instituição" família?
É com esta dinâmica e pressuposto que a curta-metragem de Costa Amarante ganha vida e nos obriga a assistir às dinâmicas criadas entre pai e três filhos onde o mais novo elemento masculino (Monaghan) assume uma invulgar feminilidade que parece, aos poucos, transformá-lo no elemento maternal desaparecido.
O fim parece estar próximo para todos eles, e o próprio ambiente físico parece querer revelar-nos que já não nos encontramos num qualquer espaço terreno. Os silêncios parecem pensados e cúmplices e todos os comportamentos e interacções entre estes quatro sobreviventes denotam desconforto e alguma intranquilidade. Todos se sentem tensos, distintos, diferentes e alterados e a sua convivência mútua parece apenas agora ter iniciado procurando assim uma forma de interagir entre si. Conhecem-se, no entanto, o espectador percebe que os seus mundos estão afastados e que a morte os transformou colhendo um pouco da esperança que poderiam previamente ter. Afinal, qual o verdadeiro sentido da vida agora onde a perda de um elemento tão importante se fez sentir?
Estamos perante uma narrativa dispersa não no sentido de falta de elaboração mas sim onde nos é dado a conhecer o outro lado de quem sofreu um abalo e pretende agora encontrar-se. Se por um lado nos é pretendido denotar que a tal "lógica" se perdeu, não é menos verdade que somos momentaneamente levados por um conjunto de imagens em câmara lenta de cantores de coro de uma Igreja como se Amarante nos quisesse mostrar que a fé ainda mantém um espaço importante, e de esperança, na vida desta família.
Se por um lado todo aquele ambiente rural onde a família se encontra é um claro reflexo do espaço psicológico frio, distante e isolado em que se encontram, brilhantemente enriquecido por uma atmosfera alva que a direcção de fotografia de Federico Cesca capta, não é menos verdade que aos poucos e com esta acção interrompida que nos leva até ao coro, entrega-nos uma alusão de que existe uma esperança de conforto que poderá (ou talvez não) ser encontrada.
Todos eles tentam lidar com a perda e a sua própria queda no abismo da desolação à sua própria maneira. Enquanto as duas irmãs se refugiam no convívio e conforto uma da outra, o pai tenta uma aproximação a um filho que, para sua própria sobrevivência, assume um lado feminino e maternal como se substituto da mãe que perdera. Desde as suas roupas, aos cheiros, traços femininos que aos poucos desenvolve ou mesmo os longos cabelos que agora ostenta são o retrato de uma queda acentuada num abismo de onde parecem não conseguir sair por não terem ainda encontrado o seu próprio espaço ou forma de lidar com uma tão marcante perda.
A "lógica" que a dança inicial de As Rosas Brancas tenta incutir no espectador está tão "presente" como os movimentos descordenados das bailarinas que encenam a coreografia. A morte nada tem de lógico, por mais cedo ou tarde que chegue, e apesar de ser uma inevitabilidade nenhum deles (de nós) está preparado para quando ela chega, e apenas o nosso mundo próprio, aquele que apenas o nosso subconsciente conhece, sabe que defesas armamos para lhe poder sobreviver.
Sabemos que sobrevivem (os) à morte, no entanto cada um de forma diferente, com as defesas que lhe criamos para que não seja tão doloroso ou mesmo que nos façam recordar, ainda que por breves instantes, aqueles que perdemos. No entanto aquilo que não sabemos, e que é deixado ao livre arbitrio do espectador é se as dinâmicas existentes entre os membros desta família (que poderia ser qualquer outra... até mesmo a nossa), irão de alguma forma recuperar e despertar daquela aparente apatia que os distancia e torna gélidos, indiferentes aos sentimentos individuais de cada um e apenas estranhando o "outro" com quem convivem diariamente mas que revelam não conhecer.
Tendo a morte sempre como pano de fundo As Rosas Brancas é um magnífico retrato sobre esta, sobre a perda e sobre o desgosto. Um retrato livre de grandes reuniões familiares que dão lugar à comédia e à lágrima fácil centrando-se unicamente no pós-facto, aquele momento em que tendo perdido alguém tentamos desesperadamente perceber o que fazer, como agir, como nos encontrarmos e principalmente se vamos conseguir ver o dia seguinte com os mesmos olhos que vimos o dia anterior.
.Todos eles tentam lidar com a perda e a sua própria queda no abismo da desolação à sua própria maneira. Enquanto as duas irmãs se refugiam no convívio e conforto uma da outra, o pai tenta uma aproximação a um filho que, para sua própria sobrevivência, assume um lado feminino e maternal como se substituto da mãe que perdera. Desde as suas roupas, aos cheiros, traços femininos que aos poucos desenvolve ou mesmo os longos cabelos que agora ostenta são o retrato de uma queda acentuada num abismo de onde parecem não conseguir sair por não terem ainda encontrado o seu próprio espaço ou forma de lidar com uma tão marcante perda.
A "lógica" que a dança inicial de As Rosas Brancas tenta incutir no espectador está tão "presente" como os movimentos descordenados das bailarinas que encenam a coreografia. A morte nada tem de lógico, por mais cedo ou tarde que chegue, e apesar de ser uma inevitabilidade nenhum deles (de nós) está preparado para quando ela chega, e apenas o nosso mundo próprio, aquele que apenas o nosso subconsciente conhece, sabe que defesas armamos para lhe poder sobreviver.
Sabemos que sobrevivem (os) à morte, no entanto cada um de forma diferente, com as defesas que lhe criamos para que não seja tão doloroso ou mesmo que nos façam recordar, ainda que por breves instantes, aqueles que perdemos. No entanto aquilo que não sabemos, e que é deixado ao livre arbitrio do espectador é se as dinâmicas existentes entre os membros desta família (que poderia ser qualquer outra... até mesmo a nossa), irão de alguma forma recuperar e despertar daquela aparente apatia que os distancia e torna gélidos, indiferentes aos sentimentos individuais de cada um e apenas estranhando o "outro" com quem convivem diariamente mas que revelam não conhecer.
Tendo a morte sempre como pano de fundo As Rosas Brancas é um magnífico retrato sobre esta, sobre a perda e sobre o desgosto. Um retrato livre de grandes reuniões familiares que dão lugar à comédia e à lágrima fácil centrando-se unicamente no pós-facto, aquele momento em que tendo perdido alguém tentamos desesperadamente perceber o que fazer, como agir, como nos encontrarmos e principalmente se vamos conseguir ver o dia seguinte com os mesmos olhos que vimos o dia anterior.
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