quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Jogo de Damas (2015)


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Jogo de Damas de Patrícia Sequeira é uma longa-metragem portuguesa exibida fora de competição nesta edição do LEFFEST - Lisbon & Estoril Film Festival que decorre até ao próximo dia 15 de Novembro em várias salas de cinema de Lisboa, Estoril e Cascais.
Depois da morte de Marta, as suas cinco melhores amigas - Maria (Ana Nave), Dalila (Ana Padrão), Ema (Fátima Belo), Ana (Maria João Luís) e Mónica (Rita Blanco) - reúnem-se na casa de campo que esta queria transformar para turismo rural.
Numa noite que servirá de reencontro e de aproximação, as memórias da sua amizade presente e passada irão determinar se poderá existir um futuro para a mesma. Conseguirá esta amizade sobreviver à morte?
Num ambiente que se pretende - e consegue - ser claramente intimista, o argumento de Jogo de Damas da autoria de Filipa Leal capta a essência de uma reunião de amigas que após um trágico acontecimento que a todas marca decidem restabelecer esses velhos laços de amizade então relativamente abalados. Cada uma com os seus segredos, desgostos, silêncios e mágoas tentam muito polidamente focar-se única e exclusivamente na perda de "Marta" mas, na realidade, são aquelas horas em conjunto e os silêncios que duravam até então que irão definir aquilo que será a sua "nova" cumplicidade.
Tendo cada uma delas algo a esconder e, ao mesmo tempo, algo que apontar às demais, Jogo de Damas centra-se assim na dinâmica que estas mulheres pretendem agora ter entre si sem esquecer com isso todo um passado comum que as trouxe, após largos anos, ao momento em que se encontram. A pergunta que lentamente se instala é apenas uma... até que ponto se conhecem realmente estas mulheres?
Os silêncios como consequência dos dramas vividos esconderam, em certa medida, aquilo que este grupo de amigos conhecia realmente a respeito das demais. Casamentos falhados, traições, doença e até a sua própria sexualidade foram, com o passar dos anos, assuntos tão íntimos que geraram vergonhas internas impedindo-as não de partilhar o seu "momento" mas sim de os esconder por vergonha de um "falhanço" anunciado que as demais pudessem menosprezar. Se para "Maria" a sua vida se tornou tão complicada que não pode atender ou responder ao desespero das amigas, para "Dalila" e "Ema" são os amores proibidos ou não correspondidos e que "Ana" não sente (ou sentiu) e que "Mónica" esconde por o ter, de certa forma, perdido. Se é a morte de uma "Marta" - que o espectador nunca chega realmente a conhecer para além de ser cunhada de "Mónica" - que as aproxima fisicamente, são no entanto aqueles momentos que partilham madrugada fora que as aproximam de facto através das suas cumplicidades não perdidas confirmando que a sua amizade continua, tal como antes, intacta.
É nos intervalos da morte que se pode experimentar viver... Esta poderia ser a premissa deste filme onde a referida morte é uma presença sentida, não só pelo funeral do qual chegam como também pela - agora - sentida consciencialização de que ela irá, invariavelmente, chegar e colher as suas vidas. É de ordem aleatória e desconhecida que se fará sentir mas não deixa, no entanto, de ser uma certeza. Estas mulheres são assim as sobreviventes que ainda têm a tal "oportunidade" lançada pela morte. Aquelas que podem experimentar e ousar sentir, viver, rir e ter. São aquelas que estão no não tão longo intervalo cedido pela morte mas que, curiosamente o ignoraram, limitando-se por um conjunto de medos, incertezas, vergonhas e inibições de simplesmente sentir... o amor, a aventura e até certo momento, medo de experimentar a própria vida.
Longe de ser um filme "para mulheres" como alguns o poderão querer passar ou até mesmo de outras experiências - pobres - como o Sei Lá de Joaquim Leitão, Jogo de Damas ocupa o seu espaço com cinco fortes interpretações femininas - e que se diga que o quinteto Belo, Blanco, Luís, Nave e Padrão é do melhor que o nosso burgo pode ter - que encarnam uma notória cumplicidade e entrega fazendo o espectador acreditar que se encontra perante um grupo de amigas de longa data... Desde a mágoa do amor perdido de Padrão â louca transgressão de Maria João Luís, sem esquecer a dedicação de Blanco, o sucesso de Nave ou o desgosto de Belo, estas cinco mulheres encarnam o rosto da cumplicidade não escondendo as suas mágoas... Capazes de perdoar mas feridas... E que cada ruga - ainda bem que não usaram caracterização para as esconder - representa um conjunto de histórias, momentos, tristezas e alegrias de um passado comum onde celebraram todos esses pequenos espaços que as trouxeram àquilo que hoje são. Da falta de amor à recusa do mesmo, da fama ao anonimato, da consciência de grupo à individualidade, Jogo de Damas apresenta todos estes pequenos conceitos e muitos mais deixando ainda ao espectador a capacidade - e liberdade - de se identificar com vários pequenos elementos de cada uma delas.
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7 / 10
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