Despedida de Tiago Rosa-Rosso é uma curta-metragem portuguesa de ficção e eventualmente um dos trabalhos mais dinâmicos sobre a transição de idade mais bem sucedidos do cinema português.
Três amigos - Zé Bernardino, Miguel Plantier e António Dente - estão na praia num perfeito silêncio apenas interrompido pelo barulho das ondas do mar que contemplam. Mas, de repente, dois deles parecem despertar para um conjunto de memórias distantes.
Aquilo que mais me surpreendeu em Despedida foi a sua capacidade em tão breves minutos conter todo um conjunto de simbolismo sobre a memória, a amizade, a cumplicidade e claro, a tal transição de idade que se percebe e sente num exacto momento da vida.
Sem o recurso a diálogos directos entre as três personagens que, por esse mesmo motivo, são apenas um grupo de amigos anónimo para o espectador, o argumento escrito pelos próprios protagonistas desenvolve-se num final de tarde de um qualquer Verão que aos poucos se sente - independentemente do seu título - como uma despedida de algo.
De um conjunto de frases soltas e jogos de palavras que passam pelos nomes de raparigas ou mulheres que conheceram, cidades ou até séries, dois deles parecem vibrar com as recordações que despertam entre si enquanto um outro olha, estático, para o mar à sua frente. De despedida do Verão a despedida de uma juventude quase esquecida ou até mesmo da despedida de um deles, o espectador recorda a sua própria juventude - muito há anos 80 do século passado - através de todas as músicas que aquele duo entoa ao longo de toda a Despedida.
Com uma certa nostalgia - o grande efeito provocado com e por esta curta-metragem - lembramo-nos de uma certa meninice e os tempos da infantil onde os jogos de palavras e as séries de televisão, o aparecimento de um novo canal de televisão ou até mesmo os tão saudosos Jogos Sem Fronteiras - e as referências aqui não são poucas - faziam as delícias de todos os jovens (hoje adultos) que cruzaram aqueles magníficos anos.
A Despedida... do sol, da praia, do Verão, da adolescência, de um deles, de um outro alguém (?) ficam aqui eternamente representados não só através dos seus jogos que parecem querer abstraí-los de uma qualquer realidade como também pelos seus olhares finais rumo ao infinito no qual (dão) percebem que os dias a partir daquele instante não voltarão a ser os mesmos. Não tivemos todos nós um momento assim?!
Depois de um olhar aos dias de hoje com Deus Dará (2013) e de um inventivo e curioso Lei da Gravidade (2014), Tiago Rosa-Rosso revela uma vez mais a sua genialidade a criar uma história que consegue reflectir não só o tempo como o estado de espírito de uma geração que dá agora lugar à seguinte. Uma Despedida de um tempo vivido e passado, de uma época ou era agora terminadas e que abre as portas à que se segue com a nostalgia e compreensão de que aqueles sim... foram "os" tempos.
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8 / 10
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