Dentro de Bruno Autran é uma curta-metragem brasileira de ficção presente na secção Internacional da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu na Cantábria, em Espanha até ao passado dia 9 de Maio.
Na casa de praia dos pais Ele (Bruno Guida) prepara-se para comemorar mais um aniversário em família mas a inesperada chegada de um Rapaz (Bruno Autran) leva-o a relembrar velhas feridas emocionais do passado que aos poucos o têm consumido por dentro.
Bruno Autran que além de intérprete e realizador escreveu também o argumento desta curta-metragem, centrou a sua atenção numa história sobre os segredos escondidos nas relações familiares, aqueles que quase inconfessáveis se vivem entre as quatro paredes dos silêncios e que consomem quem os atravessa de forma avassaladora deixando para trás um vasto manto de mágoas, dissabores e sofrimentos que, tal como os segredos, se tornam inconfessáveis.
Todos sabem(os) que confessados destroem famílias e pela vontade de manter uma aparente fachada de perfeição, os nossos protagonistas preferem por desconhecimento ou por omissão manter uma aparência de que tudo evolui de forma normal e tranquila. No entanto, a personagem interpretada por Bruno Guida - um homem de sucesso com um emprego estável na bolsa e uma família de quem cuida e ama - é um homem amargurado dentro de uma vida que se percebe ele não sentir como sua mas que é vivida numa aparente tranquilidade até o seu irmão - interpretado por Autran - chegar para uma reaproximação ao irmão que não vê há vários anos.
Se um tem uma vida estabelecida e segura - apenas profissionalmente - mantendo-se sentimentalmente instável pela não concretização dos seus desejos, não é menos verdade que o outro, um músico recentemente livre da dependência das drogas - está agora a dar os seus primeiros passos para aquilo que espera ser uma vida agitada mas, também ela, livre de problemas maiores. Mas, é quando este reencontro se dá que percebemos que os fantasmas do passado e os desejos mais recônditos ganham, uma vez mais, a dimensão até então adormecida.
No entanto, para lá da história de segredos inconfessáveis, Autran dá ainda uma interessante e honesta abordagem ao tema do incesto, da atracção entre dois familiares - correspondida ou não é irrelevante - e principalmente levanta a questão de como esta atracção pode existir entre duas pessoas que, à partida, não podem ter qualquer tipo de intimidade sentimental, amorosa ou sexual. Como se processa o pensamento e a mente de alguém que sente uma imediata atracção por aqueles com quem partilha laços consanguíneos? Como se processa a proibição desta manifestação sentimental e acima de tudo quais as consequências psicológicas que o sofrimento derivado da impossibilidade deixa na mente dos mesmos? Todas estas questões - não respondidas - pairam no ar deixando apenas para trás um rasto de destruição sentimental e familiar que depois deste momento jamais poderá ser suplantada.
Tranquilamente devastadora, Dentro é uma curta-metragem intensa e bruta que deixa o espectador a viver os mesmo silêncios que as duas personagens criadas por Bruno Autran vivem em breves instantes cinematográficos confirmando - ao mesmo tempo - o potencial criativo deste realizador brasileiro.
Na casa de praia dos pais Ele (Bruno Guida) prepara-se para comemorar mais um aniversário em família mas a inesperada chegada de um Rapaz (Bruno Autran) leva-o a relembrar velhas feridas emocionais do passado que aos poucos o têm consumido por dentro.
Bruno Autran que além de intérprete e realizador escreveu também o argumento desta curta-metragem, centrou a sua atenção numa história sobre os segredos escondidos nas relações familiares, aqueles que quase inconfessáveis se vivem entre as quatro paredes dos silêncios e que consomem quem os atravessa de forma avassaladora deixando para trás um vasto manto de mágoas, dissabores e sofrimentos que, tal como os segredos, se tornam inconfessáveis.
Todos sabem(os) que confessados destroem famílias e pela vontade de manter uma aparente fachada de perfeição, os nossos protagonistas preferem por desconhecimento ou por omissão manter uma aparência de que tudo evolui de forma normal e tranquila. No entanto, a personagem interpretada por Bruno Guida - um homem de sucesso com um emprego estável na bolsa e uma família de quem cuida e ama - é um homem amargurado dentro de uma vida que se percebe ele não sentir como sua mas que é vivida numa aparente tranquilidade até o seu irmão - interpretado por Autran - chegar para uma reaproximação ao irmão que não vê há vários anos.
Se um tem uma vida estabelecida e segura - apenas profissionalmente - mantendo-se sentimentalmente instável pela não concretização dos seus desejos, não é menos verdade que o outro, um músico recentemente livre da dependência das drogas - está agora a dar os seus primeiros passos para aquilo que espera ser uma vida agitada mas, também ela, livre de problemas maiores. Mas, é quando este reencontro se dá que percebemos que os fantasmas do passado e os desejos mais recônditos ganham, uma vez mais, a dimensão até então adormecida.
No entanto, para lá da história de segredos inconfessáveis, Autran dá ainda uma interessante e honesta abordagem ao tema do incesto, da atracção entre dois familiares - correspondida ou não é irrelevante - e principalmente levanta a questão de como esta atracção pode existir entre duas pessoas que, à partida, não podem ter qualquer tipo de intimidade sentimental, amorosa ou sexual. Como se processa o pensamento e a mente de alguém que sente uma imediata atracção por aqueles com quem partilha laços consanguíneos? Como se processa a proibição desta manifestação sentimental e acima de tudo quais as consequências psicológicas que o sofrimento derivado da impossibilidade deixa na mente dos mesmos? Todas estas questões - não respondidas - pairam no ar deixando apenas para trás um rasto de destruição sentimental e familiar que depois deste momento jamais poderá ser suplantada.
Tranquilamente devastadora, Dentro é uma curta-metragem intensa e bruta que deixa o espectador a viver os mesmo silêncios que as duas personagens criadas por Bruno Autran vivem em breves instantes cinematográficos confirmando - ao mesmo tempo - o potencial criativo deste realizador brasileiro.
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