La Primera Piedra de Ángel Alegría e Daniel Ramírez é uma curta-metragem espanhola de ficção presente na secção Nacional da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu na Cantábria, em Espanha até ao passado dia 9 de Maio.
Um rapaz (Adrián Viador) pretende enterrar a sua mãe que fora outrora a prostituta da cidade. Após a recusa de lhe fazerem um caixão para a mãe e sequer de a terem enterrada no cemitério da cidade, este rapaz tem de enfrentar a violência dos locais que não pretendem ter pecadores no seu espaço.
O argumento de Ángel Alegría, Daniel Ramírez e Eva Redondo livremente inspirado na obra As I Lay Dying, de William Faulkner entrega ao espectador num magnífico revivalismo do estilo western, uma história de honra e vingança, de calúnia e infâmia mas com uma profunda e sentida noção de justiça.
Tudo começa com a contida - mas evolutiva - interpretação de Adrián Viador que se apresenta como um jovem apagado numa sociedade controlada por pessoas bem mais poderosas e que encontram na sua frágil presença um escape para ridicularizar a mulher que tantos "utilizaram" para os seus prazeres escondidos - e que fora a sua mãe. Sociedade essa que ignora e repudia a existência de um jovem e principalmente a sua vontade de dar um descanso eterno à sua mãe apenas pela sua "profissão" de vida. Ignorados em vida e desprezados em morte, este jovem tem agora a tarefa inglória de dignificar o nome da mulher que o trouxe ao mundo. Mas quanto todos parecem jogar contra as suas vontades, ele apenas se poderá impôr pela força e pela consequente violência.
O seu percurso pela cidade é tudo menos pacífico, recusando-lhe desde o caixão - que o próprio terá de construir - até ser violentamente recebido com agressões físicas e tiroteio à boa e velha maneira do wild west.
Viador, contido desde o primeiro instante tal como um jovem ferido não só no seu orgulho como numa existência que nem sempre fora reconhecida - possivelmente para a sua própria protecção - tem no entanto uma força que o espectador não ignora. Uma raiva contida e uma sede por justiça frente àqueles que na vida da sua mãe terão, eles próprios, recorrido aos seus serviços e que agora na sua morte invocam imoralidade indesejada para o cemitério local... O mesmo espaço onde se diz que todos são iguais perante os olhos do Deus que temem - se é que esse lugar não é "por todo o lado".
Raiva essa que sendo inicialmente contida, cedo tem de se revelar e mostrar presente para defesa da memória da mãe mas também pela sua própria segurança pessoal que está a todo o momento ameaçada por aqueles que o querem fora da cidade. Apenas a justiça e dois improváveis aliados no Xerife (José María Blanco) e numa jovem prostituta (Eva Redondo) com quem estabelece uma relação próxima, podem salvar as nobres intenções deste jovem junto de todo um ambiente agressivo.
Se a história de honra e infâmia dá a La Primera Piedra o conteúdo suficiente para tornar esta curta-metragem num respeitado filme de género, não é menos verdade que toda a sua excelência chegam com os apurados detalhes técnicos que nos remetem para os bons western dos anos 50 e 60 ou até para um mais próximo como o é Unforgiven, de Clint Eastwood (1992). Desde a sua extraordinária recriação do espaço geográfico ou do seu guarda-roupa às mãos de Sílvia Maya, La Primeira Pedra apresenta ainda uma notável música original de Matt Elliott que insere imediatamente o espectador no ambiente perfeito. Sentimos o pó, o calor, o passado e até os nobres sentimentos que levam as suas personagens a lutar pela sua honra.
Filmado no Desierto de Tabernas, em Almería no sul de Espanha, num perfeito revivalismo do western spaghetti de Sergio Leone, La Primera Piedra prima ainda pela apurada direcção de fotografia de Pau Monràs que nos revela todo o ambiente agreste de um sul violento e onde a piedade não reservam lugar aos mais sensíveis.
Um rapaz (Adrián Viador) pretende enterrar a sua mãe que fora outrora a prostituta da cidade. Após a recusa de lhe fazerem um caixão para a mãe e sequer de a terem enterrada no cemitério da cidade, este rapaz tem de enfrentar a violência dos locais que não pretendem ter pecadores no seu espaço.
O argumento de Ángel Alegría, Daniel Ramírez e Eva Redondo livremente inspirado na obra As I Lay Dying, de William Faulkner entrega ao espectador num magnífico revivalismo do estilo western, uma história de honra e vingança, de calúnia e infâmia mas com uma profunda e sentida noção de justiça.
Tudo começa com a contida - mas evolutiva - interpretação de Adrián Viador que se apresenta como um jovem apagado numa sociedade controlada por pessoas bem mais poderosas e que encontram na sua frágil presença um escape para ridicularizar a mulher que tantos "utilizaram" para os seus prazeres escondidos - e que fora a sua mãe. Sociedade essa que ignora e repudia a existência de um jovem e principalmente a sua vontade de dar um descanso eterno à sua mãe apenas pela sua "profissão" de vida. Ignorados em vida e desprezados em morte, este jovem tem agora a tarefa inglória de dignificar o nome da mulher que o trouxe ao mundo. Mas quanto todos parecem jogar contra as suas vontades, ele apenas se poderá impôr pela força e pela consequente violência.
O seu percurso pela cidade é tudo menos pacífico, recusando-lhe desde o caixão - que o próprio terá de construir - até ser violentamente recebido com agressões físicas e tiroteio à boa e velha maneira do wild west.
Viador, contido desde o primeiro instante tal como um jovem ferido não só no seu orgulho como numa existência que nem sempre fora reconhecida - possivelmente para a sua própria protecção - tem no entanto uma força que o espectador não ignora. Uma raiva contida e uma sede por justiça frente àqueles que na vida da sua mãe terão, eles próprios, recorrido aos seus serviços e que agora na sua morte invocam imoralidade indesejada para o cemitério local... O mesmo espaço onde se diz que todos são iguais perante os olhos do Deus que temem - se é que esse lugar não é "por todo o lado".
Raiva essa que sendo inicialmente contida, cedo tem de se revelar e mostrar presente para defesa da memória da mãe mas também pela sua própria segurança pessoal que está a todo o momento ameaçada por aqueles que o querem fora da cidade. Apenas a justiça e dois improváveis aliados no Xerife (José María Blanco) e numa jovem prostituta (Eva Redondo) com quem estabelece uma relação próxima, podem salvar as nobres intenções deste jovem junto de todo um ambiente agressivo.
Se a história de honra e infâmia dá a La Primera Piedra o conteúdo suficiente para tornar esta curta-metragem num respeitado filme de género, não é menos verdade que toda a sua excelência chegam com os apurados detalhes técnicos que nos remetem para os bons western dos anos 50 e 60 ou até para um mais próximo como o é Unforgiven, de Clint Eastwood (1992). Desde a sua extraordinária recriação do espaço geográfico ou do seu guarda-roupa às mãos de Sílvia Maya, La Primeira Pedra apresenta ainda uma notável música original de Matt Elliott que insere imediatamente o espectador no ambiente perfeito. Sentimos o pó, o calor, o passado e até os nobres sentimentos que levam as suas personagens a lutar pela sua honra.
Filmado no Desierto de Tabernas, em Almería no sul de Espanha, num perfeito revivalismo do western spaghetti de Sergio Leone, La Primera Piedra prima ainda pela apurada direcção de fotografia de Pau Monràs que nos revela todo o ambiente agreste de um sul violento e onde a piedade não reservam lugar aos mais sensíveis.
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