Trato Preferente de Carlos Polo é uma curta-metragem de ficção espanhola que foi nomeada ao Goya na sua respectiva categoria na última edição dos prémios anuais da Academia Espanhola de Cinema.
Paquita (Edna Fontana) aparece com um ar angelical mas tem por detrás do seu sorriso uma missão. Num armazém abandonado, ela encontra-se com um bancário (Antonio Gómez) que com medo lhe revela que não pode fazer nada.
Paquita é uma mulher no limite... com uma idade avançada e sem as poupanças de uma vida ela está literalmente disposta a tudo.
Esta surpreendente curta-metragem cujo argumento é também da autoria do realizador Carlos Polo, foi dada a conhecer no reputado NotodoFilmFest e nos seus pouco mais de três minutos contém uma mensagem de tal forma forte e actual que o seu reconhecimento não tardaria a chegar.
Num mundo desumanizado e onde o lucro fácil espreita por todos os cantos, "Paquita" é uma das muitas vítimas que são apanhadas numa amálgama de ofertas e brindes que toldam o seu - nosso - raciocínio. Não, não falamos de uma qualquer época futurista onde o fim está próximo. Trato Preferente é actual, retrata os nossos dias... o sistema bancário e aqueles que para eles trabalham. Retrata o consumidor que é tantas vezes envolvido num esquema financeiro do qual não consegue escapar e para o qual perde tudo num abrir e fechar de olhos tendo toda uma vida transformada sem que se consiga processar tudo o que aconteceu.
As seguranças desapareceram... as mentiras e os inuendos rapidamente tomaram conta de tudo resto e agora só permanece o desespero, a alucinação e o vale tudo num mundo onde já nada existe para perder... e quando a idade também já não é um impedimento... as ideias surgem como perigosas armas.
Edna Fontana exibe todas as fases de alguém desesperado para quem a vida já não tem significado. Como tal, porque não levar alguém com ela para aquela outra dimensão?! De uma pacata mulher - eventualmente mãe e avó - para alguém cujos pensamentos não a atraiçoam mas sim conferem-lhe ideias de vingança, de sangue, de tortura e de dor física equivalente àquela que psicologicamente a afecta?! Intensa - e algo cómica - interpretação que não passa despercebida, Fontana revela ao espectador que ao contrário daquilo que temos normalmente como garantido do "outro", certo é que em alturas de desespero nunca sabemos o que esperar daqueles com quem convivemos. No fundo Trato Preferente é, para além de uma história de vingança - ou talvez justiça poética - uma história sobre todos aqueles que cruzam o nosso caminho e que com mentiras mais ou menos inocentes - tudo menos inocentes - são enganados... até ao dia cujos seus limites já foram ultrapassados.
E qualquer semelhança com a realidade não é "pura coincidência"!
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8 / 10
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