quarta-feira, 13 de maio de 2015

The Dancing (2014)

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The Dancing de Edith Depaule é uma curta-metragem belga de ficção presente na secção Internacional da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu até ao passado dia 9 de Maio na Cantábria, em Espanha.
Num estilo muito próprio dos anos 50/60, doze mulheres esperam os seus parceiros para uma noite de dança e diversão. Enquanto eles não chegam elas olham-se num silêncio cúmplice que está prestes a ser interrompido.
Edith Depaule consegue prender e cativar o espectador desde o primeiro instante de The Dancing quando nos apresenta estas curiosas e peculiares mulheres que vestidas a rigor esperam pelos seus companheiros para uma noite de baile onde se espera que o romance esteja no ar. A espera - que aparentemente não tem fim - começa, no entanto, a revelar alguns dos seus comportamentos mais despreocupados e livres de preconceitos onde entre si criam alguns laços fraternos e de mútua compreensão; quem para além delas próprias pode compreender aquilo por que passaram e o quanto se esforçaram para estarem ali naquele espaço em perfeita sintonia para agradar aos homens por quem esperam?
Mas The Dancing vai um pouco mais longe esta espera - que rapidamente dá origem a um desespero - leva algumas à saturação, ao enfado e principalmente à alucinação naquele que é um dos melhores e mais bem conseguidos momentos cinematográficos que, confesso, já há muito não via num filme... Sem revelar muito do momento - até porque é o segmento escolhido que poderão encontra mais abaixo neste comentário - é quando uma destas mulheres percebe que os seus pares chegaram que o espectador tem o privilégio de assistir a um dos mais fortes, emotivos, sinceros e reveladores momentos da essência destas personagens - tanto delas como deles - e onde podemos constatar que a dança pela qual todas esperavam é de facto o elemento de união, de sedução e de liberdade onde todos se revelam - em palco igual - e às suas mais recônditas características. É neste segmento muito em particular que, livres de preconceitos e expondo-se tal como elas são que percebemos a verdadeira dimensão que separa aquilo que mostram (mostramos) ao mundo e aquilo que na prática querem (queremos) fazer num retrato integro e livre de preconceitos sobre o "eu".
O mesmo segmento que de forma sedutora expõe a relação entre os diversos casais, aquilo que os motiva, que os atrai e que os leva a desenvolver uma empatia imediata entre si. Aquelas pequenas características que os levaram inicialmente a olhar-se como o/a "tal" que os completaria nos mais diversos momentos e situações... o par perfeito. A química gerada entre estes diversos pares não só é expressa pelos seus movimentos durante a dança como pelas pequenas cumplicidades expostas que revelam ao espectador a sensação pretendida pelas personagens ao deixarem-se levar pelo momento, que sendo perfeito, esquece as "imperfeições" que cada uma daquelas mulheres tão desesperadamente tentou esconder.
Mas a real surpresa chega depois desta dança quando o espectador percebe o que realmente aconteceu, e numa nova coreografia totalmente livre e descomplexada, aquele conjunto de mulheres revela o laço que instantaneamente criou e que as caracteriza enquanto "grupo". O grupo que esperou por uma companhia, que se sentiu perdida quando achou que não a iria ter e principalmente o grupo que compreende todo o processo de preparação e rituais que atravessou para se encontrarem ali, todas juntas, no mesmo espaço e ao mesmo tempo.
Se fosse possível apenas utilizar uma palavra para descrever o trabalho de Edith Depaule em The Dancing essa seria seguramente "mágico". Sem qualquer tipo de artifícios ou escapes e de uma entrega total e absoluta a um conjunto de personagens que esperam desesperadamente por um momento em que possam ser realmente livres e isentas de preconceitos, Depaule cria momentos imperdíveis nos quais a liberdade - ou libertação - são sublimemente evidentes e que fazem o espectador vibrar com todo um conjunto de emoções que - também ele - poderá sentir reprimidas e que naqueles breves momentos se sentem despoletar com paixão. Paixão que ao som de "Black Water" de Apparat nos faz vibrar, sentir e viver.
Bravo Edith! Bravo!
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9 / 10
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