Najes de Bahman Ark e Bahram Ark é uma curta-metragem de ficção iraniana presente na Competição Internacional da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu entre os dias 2 e 9 de Maio últimos na Cantábria, em Espanha.
Nasser (Nasser Hashemi) trabalha à noite no seu táxi. Desvia o olhar por momentos e atropela um cão. Decide levá-lo a um veterinário e de seguida para sua casa onde poderá recuperar mas... conseguirá ele manter o "impuro" dentro do seu espaço?
Bahman Ark e Baheam Hajaboullo escrevem este cru argumento sobre os limites - ou falta deles - da compaixão humana. Até que ponto consegue um Homem estar indiferente ao sofrimento alheio mesmo que este não seja do seu semelhante mas sim do seu "mais fiel amigo", numa sociedade que considera o cão como o mais impuro dos animais? Será o animal mais impuro do que o Homem se o abandona à sua sorte?
Enquanto o espectador é deixado a reflectir sobre este dilema - talvez não acentuado para a sociedade dita ocidental - Najes leva-o ainda a uma interessante observação... Se inicialmente somos confrontados com o taxista "Nasser" que atropela o cão e somos por momentos levados a reparar nas suas mãos que o transportam - e que na prática foram as "armas do crime" -, não é menos verdade que momentos depois observamos novamente um par de mãos - as do veterinário - que cuidam do animal em estado crítico transformando-se agora no esperado instrumento da sua salvação. O dilema de que ambas servem como instrumento de morte ou de vida está assim presente neste filme que se centra não tanto no atropelamento em si mas sim nas acções e atitudes daqueles que directa ou indirectamente participam nos acontecimentos posteriores que simbolizam nada mais nada menos do que a hipótese de vida - ou não - de um ser em necessidade.
No entanto, é sobre "Nasser" que recaem todas as atenções, das demais personagens anónimas e das quais nunca observamos os rostos bem como do espectador que o observa e às suas decisões, na medida em que é ele que se encontra sob um risco próximo. Não só por ter dentro de sua casa um animal que todos consideram imundo e proibido mas também por não poder livrar-se dele podendo este acto causar a sua morte. Para os vizinhos este cão é um incómodo e para a sua mulher a fonte de todos os seus problemas uma vez que lhe sujou a casa graças à desonra da sua presença. Assim, questionamo-nos de imediato sobre as diferenças culturais presentes - um "nós" e um "eles" aqui colocado - mas principalmente sobre aquilo que nos aproxima do dilema deste homem... como conseguirá ele colocar em causa e em risco aquilo que é na prática o principal, ou seja, a vida... Uma vida, independentemente da sua forma ou origem.
É no silêncio de uma noite escura - um aplauso à direcção de fotografia de Hamid Mehrafrooz que tudo esconde e pouco revela - que todas as decisões e discussões são celebradas... O que será feito dele se desrespeita a lei mas principalmente quem será ele se abandonar aquele pobre animal a um anunciado trágico destino e fim? Como se sentirá depois com a sua consciência e com os seus actos? É no seio dessa mesma noite escura que ele toma a decisão mais importante da sua vida sendo que também é no seu rumo que vacila e se arrepende.
Forte, intensa e profundamente humana é a interpretação de Nasser Hashemi como um homem respeitador não só na sua profissão como na sua vida mas que ousa desrespeitar os costumes e as ditas leis em favor de algo maior... a preservação de uma vida. Sendo as acções para com o próximo uma parte significativo daquilo que nos define enquanto Humanidade, Nasser Hashemi encarna todos os dilemas do mundo em breves vinte minutos de duração desta curta-metragem optando por deixar com o legado das decisões da sua personagem a essência daquilo que o define bem como a essa Humanidade tantas vezes tida como perdida.
Simples e diferente, esta curta-metragem iraniana esquece barreiras e fronteiras colocando-se no centro de um mundo mais humano onde coloca um "irracional" no centro da história mas um bem "racional" no centro das decisões conferindo assim a Hashemi uma forte e muito dinâmica interpretação e a Najes uma certificação de qualidade pela força humana com que a dupla de realizadores dinamiza a sua mensagem.
Nasser (Nasser Hashemi) trabalha à noite no seu táxi. Desvia o olhar por momentos e atropela um cão. Decide levá-lo a um veterinário e de seguida para sua casa onde poderá recuperar mas... conseguirá ele manter o "impuro" dentro do seu espaço?
Bahman Ark e Baheam Hajaboullo escrevem este cru argumento sobre os limites - ou falta deles - da compaixão humana. Até que ponto consegue um Homem estar indiferente ao sofrimento alheio mesmo que este não seja do seu semelhante mas sim do seu "mais fiel amigo", numa sociedade que considera o cão como o mais impuro dos animais? Será o animal mais impuro do que o Homem se o abandona à sua sorte?
Enquanto o espectador é deixado a reflectir sobre este dilema - talvez não acentuado para a sociedade dita ocidental - Najes leva-o ainda a uma interessante observação... Se inicialmente somos confrontados com o taxista "Nasser" que atropela o cão e somos por momentos levados a reparar nas suas mãos que o transportam - e que na prática foram as "armas do crime" -, não é menos verdade que momentos depois observamos novamente um par de mãos - as do veterinário - que cuidam do animal em estado crítico transformando-se agora no esperado instrumento da sua salvação. O dilema de que ambas servem como instrumento de morte ou de vida está assim presente neste filme que se centra não tanto no atropelamento em si mas sim nas acções e atitudes daqueles que directa ou indirectamente participam nos acontecimentos posteriores que simbolizam nada mais nada menos do que a hipótese de vida - ou não - de um ser em necessidade.
No entanto, é sobre "Nasser" que recaem todas as atenções, das demais personagens anónimas e das quais nunca observamos os rostos bem como do espectador que o observa e às suas decisões, na medida em que é ele que se encontra sob um risco próximo. Não só por ter dentro de sua casa um animal que todos consideram imundo e proibido mas também por não poder livrar-se dele podendo este acto causar a sua morte. Para os vizinhos este cão é um incómodo e para a sua mulher a fonte de todos os seus problemas uma vez que lhe sujou a casa graças à desonra da sua presença. Assim, questionamo-nos de imediato sobre as diferenças culturais presentes - um "nós" e um "eles" aqui colocado - mas principalmente sobre aquilo que nos aproxima do dilema deste homem... como conseguirá ele colocar em causa e em risco aquilo que é na prática o principal, ou seja, a vida... Uma vida, independentemente da sua forma ou origem.
É no silêncio de uma noite escura - um aplauso à direcção de fotografia de Hamid Mehrafrooz que tudo esconde e pouco revela - que todas as decisões e discussões são celebradas... O que será feito dele se desrespeita a lei mas principalmente quem será ele se abandonar aquele pobre animal a um anunciado trágico destino e fim? Como se sentirá depois com a sua consciência e com os seus actos? É no seio dessa mesma noite escura que ele toma a decisão mais importante da sua vida sendo que também é no seu rumo que vacila e se arrepende.
Forte, intensa e profundamente humana é a interpretação de Nasser Hashemi como um homem respeitador não só na sua profissão como na sua vida mas que ousa desrespeitar os costumes e as ditas leis em favor de algo maior... a preservação de uma vida. Sendo as acções para com o próximo uma parte significativo daquilo que nos define enquanto Humanidade, Nasser Hashemi encarna todos os dilemas do mundo em breves vinte minutos de duração desta curta-metragem optando por deixar com o legado das decisões da sua personagem a essência daquilo que o define bem como a essa Humanidade tantas vezes tida como perdida.
Simples e diferente, esta curta-metragem iraniana esquece barreiras e fronteiras colocando-se no centro de um mundo mais humano onde coloca um "irracional" no centro da história mas um bem "racional" no centro das decisões conferindo assim a Hashemi uma forte e muito dinâmica interpretação e a Najes uma certificação de qualidade pela força humana com que a dupla de realizadores dinamiza a sua mensagem.
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