The Mass of Men de Gabriel Gauchet é uma curta-metragem de ficção britânica que marcou presença na secção Social da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu até ao passado dia 9 de Maio na Cantábria, em Espanha.
Richard (Peter Faulkner) é um desempregado de 55 anos de idade que um dia chega três minutos atrasado a uma entrevista no centro de emprego. Indiferente aos seus motivos, Kate (Jane McDowell) funcionária do centro, penaliza-o pelo atraso impedindo-o de receber a sua prestação mensal e lançá-lo assim na mendicidade.
Mas os imprevistos acontecem e um homem desesperado (Dominic Kinnaird) está prestes a fazer a sua própria justiça. Conseguirá Richard resolver o seu problema num clima tão tenso?
Gabriel Gauchet e Rungano Nyoni assinam o argumento de The Mass of Men conferindo-lhe uma sempre actual perspectiva não só sobre o (inexistente) mundo laboral como principalmente sobre a forma como encaramos ou (não) compreendemos os problemas alheios. Se inicialmente somos apresentados a um homem que parece perdido e deslocado no tempo como consequência que percebemos ser da sua falta de trabalho e de todos os problemas que daí advêm, não é menos verdade que ao mesmo tempo esta história nos leva a questionar sobre o quão realmente queremos saber e escutar as amarguras dos demais quando vivemos tão tristemente concentrados nas nossas pequenas coisas.
"Richard" é um homem à beira de um abismo e a sua já precária condição é abalada quando dentro dos seus problemas resolver agir como um homem honesto junto de uma mulher abafada e desgastada pelo sistema que se comporta de forma indiferente ao seu problema - um atraso de escassos minutos. É quando percebemos toda a tensão que acumula e que a leva a descarregar neste homem que apenas se limita a sobreviver que percebemos o quão afectada está esta mulher que talvez tendo também ela os seus problemas, apenas encontra um escape ao penalizar aquele que está directamente sob o seu controle. Mas, ao mesmo tempo, é quando o inesperado acontece que o espectador compreende realmente a dimensão da falta de comunicação entre os homens e que o desespero - como sua directa consequência - leva-o(s) a actos igualmente desesperados, injustificáveis mas resultantes de alguém que sente - e percebe - já nada ter a perder.
No entanto The Mass of Men vai ainda mais longe quando permite ao espectador examinar para além do comportamento da vítima ou até do eventual agressor colocando, no entanto, este último como o emissário de uma entidade superior - o próprio Estado - que condena e marginaliza o desempregado ostracizando-o violentamente como o eventual culpado da situção precária em que se encontra e que, para além disso, é ainda o responsável pela débil situação em que os pagamentos sociais se encontram por os explorar, esquecendo-se portanto que este mais não está do que a receber aquilo para que também contribuiu.
A violência é assim uma presença assídua nesta curta-metragem não só pelos actos finais que se desencadeiam a um ritmo quase alucinante mas que são, na prática, o resultado de uma violência anterior tida por palavras, actos e decisões nomeadamente aquelas tomadas por uma indiferente "Kate" que olha o desempregado como um parasita e não como alguém que se encontra - talvez temporariamente - numa situação que não conseguiu controlar. Aquilo que é então colocado ao espectador para análise é esta dicotomia entre a violência psicológica exercida sobre o elo mais fraco e a física à qual este último decide recorrer por incapacidade de resolver os seus problemas de forma pacífica e legal. Será esta pior do que a exercida pelo Extado ou, por sua vez, uma merda consequência de actos tomados pela falta de compreensão e comunicação?
Violência esta que num rápido e intenso crescendo se manifesta desde o primeiro instante... Primeiro pela violenta submissão que "Richard" sente ter de demonstrar face a "Kate" de forma a que esta não o penalize, de seguida pela manifestação de repúdio que esta demonstra, e finalmente dando lugar a uma violência claramente física quando o extermínio toma conta daquele departamento de emprego pela mais selvática forma que poderíamos antecipar.
"A maioria dos Homens vive vidas de desespero silencioso" - disse Thoreau e ao qual Gabriel Gauchet vai buscar o título para esta curta-metragem - vidas amarguradas e perdidas, de sofrimento, solidão e degradação vividas no mais profundo silêncio pois (in)conscientemente sabem(os) que ninguém quer ouvir histórias trágicas de vidas solitárias e desgraçadas. O Homem está apenas preparado para as histórias de sucesso mais ou menos rápido e que afirmam que tudo está ao alcance de todos desde que para isso se trabalhe mas, ao mesmo tempo, não questiona que muitos podem trabalhar mas se não caírem nas graças daqueles que por detrás da "linha" fazem mexer o sistema, estão condenados ao insucesso e a um fracasso não anunciado mas sentido e vivido também ele em silêncio.
Richard (Peter Faulkner) é um desempregado de 55 anos de idade que um dia chega três minutos atrasado a uma entrevista no centro de emprego. Indiferente aos seus motivos, Kate (Jane McDowell) funcionária do centro, penaliza-o pelo atraso impedindo-o de receber a sua prestação mensal e lançá-lo assim na mendicidade.
Mas os imprevistos acontecem e um homem desesperado (Dominic Kinnaird) está prestes a fazer a sua própria justiça. Conseguirá Richard resolver o seu problema num clima tão tenso?
Gabriel Gauchet e Rungano Nyoni assinam o argumento de The Mass of Men conferindo-lhe uma sempre actual perspectiva não só sobre o (inexistente) mundo laboral como principalmente sobre a forma como encaramos ou (não) compreendemos os problemas alheios. Se inicialmente somos apresentados a um homem que parece perdido e deslocado no tempo como consequência que percebemos ser da sua falta de trabalho e de todos os problemas que daí advêm, não é menos verdade que ao mesmo tempo esta história nos leva a questionar sobre o quão realmente queremos saber e escutar as amarguras dos demais quando vivemos tão tristemente concentrados nas nossas pequenas coisas.
"Richard" é um homem à beira de um abismo e a sua já precária condição é abalada quando dentro dos seus problemas resolver agir como um homem honesto junto de uma mulher abafada e desgastada pelo sistema que se comporta de forma indiferente ao seu problema - um atraso de escassos minutos. É quando percebemos toda a tensão que acumula e que a leva a descarregar neste homem que apenas se limita a sobreviver que percebemos o quão afectada está esta mulher que talvez tendo também ela os seus problemas, apenas encontra um escape ao penalizar aquele que está directamente sob o seu controle. Mas, ao mesmo tempo, é quando o inesperado acontece que o espectador compreende realmente a dimensão da falta de comunicação entre os homens e que o desespero - como sua directa consequência - leva-o(s) a actos igualmente desesperados, injustificáveis mas resultantes de alguém que sente - e percebe - já nada ter a perder.
No entanto The Mass of Men vai ainda mais longe quando permite ao espectador examinar para além do comportamento da vítima ou até do eventual agressor colocando, no entanto, este último como o emissário de uma entidade superior - o próprio Estado - que condena e marginaliza o desempregado ostracizando-o violentamente como o eventual culpado da situção precária em que se encontra e que, para além disso, é ainda o responsável pela débil situação em que os pagamentos sociais se encontram por os explorar, esquecendo-se portanto que este mais não está do que a receber aquilo para que também contribuiu.
A violência é assim uma presença assídua nesta curta-metragem não só pelos actos finais que se desencadeiam a um ritmo quase alucinante mas que são, na prática, o resultado de uma violência anterior tida por palavras, actos e decisões nomeadamente aquelas tomadas por uma indiferente "Kate" que olha o desempregado como um parasita e não como alguém que se encontra - talvez temporariamente - numa situação que não conseguiu controlar. Aquilo que é então colocado ao espectador para análise é esta dicotomia entre a violência psicológica exercida sobre o elo mais fraco e a física à qual este último decide recorrer por incapacidade de resolver os seus problemas de forma pacífica e legal. Será esta pior do que a exercida pelo Extado ou, por sua vez, uma merda consequência de actos tomados pela falta de compreensão e comunicação?
Violência esta que num rápido e intenso crescendo se manifesta desde o primeiro instante... Primeiro pela violenta submissão que "Richard" sente ter de demonstrar face a "Kate" de forma a que esta não o penalize, de seguida pela manifestação de repúdio que esta demonstra, e finalmente dando lugar a uma violência claramente física quando o extermínio toma conta daquele departamento de emprego pela mais selvática forma que poderíamos antecipar.
"A maioria dos Homens vive vidas de desespero silencioso" - disse Thoreau e ao qual Gabriel Gauchet vai buscar o título para esta curta-metragem - vidas amarguradas e perdidas, de sofrimento, solidão e degradação vividas no mais profundo silêncio pois (in)conscientemente sabem(os) que ninguém quer ouvir histórias trágicas de vidas solitárias e desgraçadas. O Homem está apenas preparado para as histórias de sucesso mais ou menos rápido e que afirmam que tudo está ao alcance de todos desde que para isso se trabalhe mas, ao mesmo tempo, não questiona que muitos podem trabalhar mas se não caírem nas graças daqueles que por detrás da "linha" fazem mexer o sistema, estão condenados ao insucesso e a um fracasso não anunciado mas sentido e vivido também ele em silêncio.
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"Henry David Thoreau: The Mass of Men lead lives of quiet desperation."
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