Namnala de Nacho Solana é uma curta-metragem espanhola de ficção presente na Secção Cantábria - e vencedor da mesma - da sexta-edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu até ao passado dia 9 de Maio na respectiva região espanhola.
José (Álex Angulo) é um homem obsoleto com um negócio também ele obsoleto prestes a fechar as portas. Mas no dia em que decide fechar de vez a sua casa um misterioso cliente (Babou Cham) surge à sua porta.
O mais recente trabalho de Nacho Solana a passar por Piélagos en Corto é um dos filmes infelizmente mais actuais que passaram pelo festival. Digo infelizmente porque o argumento de Marcos Díez dá corpo a uma estranha realidade para a qual a Europa está agora a abrir os olhos transformando-a no mais recente flagelo pelo qual o nosso continente atravessa.
Inserida na competição Cantábria - mas facilmente poderia também sê-lo na Social - Namnala relata-nos duas distintas histórias. A primeira que nos faz compreender e empatizar com um homem dono de uma loja outrora cheia de vida mas que agora graças à facilidade em obter equipamento novo e a baixo custo faz com que este estabelecimentos de reparação de electrodomésticos seja um negócio do passado. Sem cor ou brilho na sua vida que se repete a uma velocidade vertiginosa de nada fazer, "José" decide finalmente encerrar a sua casa e, provavelmente, encostar-se a uma vida de marasmo sem um significado relevante.
Diz-se, no entanto, que todas as coisas têm uma segunda oportunidade e esta chega a "José" graças ao segundo elemento desta história na personagem de um misterioso cliente que qualquer um encararia com reservas graças ao estigma e ao preconceito que habita em todos nós que ao entrar na sua loja pede para que ele lhe repare a sua câmara de filmar.
O preconceito abate-se sobre o espectador com o imediato pensamento de que o aparelho é roubado - e provavelmente até é - ignorando e até mesmo desprezando saber o que levou aquele homem a entrar desesperadamente dentro de uma loja para que a sua avariada câmara tivesse a sua segunda oportunidade. Será só a câmara que a poderá ter?
A curiosidade abate-se com uma insistência desarmante e ainda que pareça que estamos perante uma história que não vai acabar bem - e de certa forma não vai - aos poucos o espectador quer perceber os porquês de alguém que parece não ter um lugar na sociedade - pelo menos não nesta nossa Europa dita moderna e desinteressada - e que a todo o custo quer rever algo.
A esperança transmitida pelas imagens confunde-se rapidamente com a saudade, com a memória e com os elos e ligações que estabelecemos com os demais, principalmente quando estes partilharam vivências e experiências com o "eu" que sobrevive à maior das provações. Experiências essas que desarmam aqueles que graças à sua curiosidade se aproximam do desconhecido e do potencial "perigo" que, afinal, não o é, mostrando assim um pouco mais de um outro lado que normalmente todos nós preferimos ignorar.
E é esta a maior mensagem de Namnala... a esperança. A esperança de que o dia de amanhã poderá ser um pouco melhor. A esperança de que tudo o que fazemos tem um sentido que poderá manifestar-se de forma invulgar mas que, no entanto, bastará estarmos atentos aos pequenos sinais que nos são transmitidos e que revelam que estamos num bom caminho e que este deve ser mantido mesmo que aos olhos dos demais pareça algo surreal e absurdo. A esperança de que para tudo pode fazer sentido uma segunda oportunidade... seja o "algo" um objecto inanimado mas principalmente, e como aqui Solana nos faz perceber, se fôr um ser humano com todas as suas "diferenças" perceptíveis a olho nu... (serão assim tantas?!). O que afinal nos separa? Já na obra de Shakespeare, O Mercador de Veneza a certa altura "Shylock" pergunta se "(...) não terá um judeu olhos? Se me cortarem não sangro? (...)", ou seja, independentemente do aspecto exterior não seremos todos iguais e próximos nas nossas características? O que nos fará estigmatizar tanto a diferença física?
Depois de Aptitudes, Nacho Solana entrega mais uma curta-metragem repleta de uma carga emotiva fortíssima que faz o espectador reflectir sobre a condição humana e as suas complexidades, as suas energias e aquilo que faz cada um de nós mover-se face ao seu semelhante transformando-o num dos mais fortes e promissores jovens realizadores espanhóis e um nome a reter para o futuro.
Como óbvio destaque uma pequena e sentida menção à interpretação do actor Álex Angulo - recentemente desaparecido - e que cativa o espectador pela sua sentida sensibilidade conferida a "José"... o homem que encontra a sua própria segunda oportunidade.
José (Álex Angulo) é um homem obsoleto com um negócio também ele obsoleto prestes a fechar as portas. Mas no dia em que decide fechar de vez a sua casa um misterioso cliente (Babou Cham) surge à sua porta.
O mais recente trabalho de Nacho Solana a passar por Piélagos en Corto é um dos filmes infelizmente mais actuais que passaram pelo festival. Digo infelizmente porque o argumento de Marcos Díez dá corpo a uma estranha realidade para a qual a Europa está agora a abrir os olhos transformando-a no mais recente flagelo pelo qual o nosso continente atravessa.
Inserida na competição Cantábria - mas facilmente poderia também sê-lo na Social - Namnala relata-nos duas distintas histórias. A primeira que nos faz compreender e empatizar com um homem dono de uma loja outrora cheia de vida mas que agora graças à facilidade em obter equipamento novo e a baixo custo faz com que este estabelecimentos de reparação de electrodomésticos seja um negócio do passado. Sem cor ou brilho na sua vida que se repete a uma velocidade vertiginosa de nada fazer, "José" decide finalmente encerrar a sua casa e, provavelmente, encostar-se a uma vida de marasmo sem um significado relevante.
Diz-se, no entanto, que todas as coisas têm uma segunda oportunidade e esta chega a "José" graças ao segundo elemento desta história na personagem de um misterioso cliente que qualquer um encararia com reservas graças ao estigma e ao preconceito que habita em todos nós que ao entrar na sua loja pede para que ele lhe repare a sua câmara de filmar.
O preconceito abate-se sobre o espectador com o imediato pensamento de que o aparelho é roubado - e provavelmente até é - ignorando e até mesmo desprezando saber o que levou aquele homem a entrar desesperadamente dentro de uma loja para que a sua avariada câmara tivesse a sua segunda oportunidade. Será só a câmara que a poderá ter?
A curiosidade abate-se com uma insistência desarmante e ainda que pareça que estamos perante uma história que não vai acabar bem - e de certa forma não vai - aos poucos o espectador quer perceber os porquês de alguém que parece não ter um lugar na sociedade - pelo menos não nesta nossa Europa dita moderna e desinteressada - e que a todo o custo quer rever algo.
A esperança transmitida pelas imagens confunde-se rapidamente com a saudade, com a memória e com os elos e ligações que estabelecemos com os demais, principalmente quando estes partilharam vivências e experiências com o "eu" que sobrevive à maior das provações. Experiências essas que desarmam aqueles que graças à sua curiosidade se aproximam do desconhecido e do potencial "perigo" que, afinal, não o é, mostrando assim um pouco mais de um outro lado que normalmente todos nós preferimos ignorar.
E é esta a maior mensagem de Namnala... a esperança. A esperança de que o dia de amanhã poderá ser um pouco melhor. A esperança de que tudo o que fazemos tem um sentido que poderá manifestar-se de forma invulgar mas que, no entanto, bastará estarmos atentos aos pequenos sinais que nos são transmitidos e que revelam que estamos num bom caminho e que este deve ser mantido mesmo que aos olhos dos demais pareça algo surreal e absurdo. A esperança de que para tudo pode fazer sentido uma segunda oportunidade... seja o "algo" um objecto inanimado mas principalmente, e como aqui Solana nos faz perceber, se fôr um ser humano com todas as suas "diferenças" perceptíveis a olho nu... (serão assim tantas?!). O que afinal nos separa? Já na obra de Shakespeare, O Mercador de Veneza a certa altura "Shylock" pergunta se "(...) não terá um judeu olhos? Se me cortarem não sangro? (...)", ou seja, independentemente do aspecto exterior não seremos todos iguais e próximos nas nossas características? O que nos fará estigmatizar tanto a diferença física?
Depois de Aptitudes, Nacho Solana entrega mais uma curta-metragem repleta de uma carga emotiva fortíssima que faz o espectador reflectir sobre a condição humana e as suas complexidades, as suas energias e aquilo que faz cada um de nós mover-se face ao seu semelhante transformando-o num dos mais fortes e promissores jovens realizadores espanhóis e um nome a reter para o futuro.
Como óbvio destaque uma pequena e sentida menção à interpretação do actor Álex Angulo - recentemente desaparecido - e que cativa o espectador pela sua sentida sensibilidade conferida a "José"... o homem que encontra a sua própria segunda oportunidade.
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