Novemberlichter de Jürgen Karasek é uma curta-metragem de ficção austríaca presente na secção Internacional da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu até ao passado dia 9 de Maio na Cantábria, em Espanha.
Manuel (Markus Urban) tem nove anos e é filho de pais divorciados. A mãe está mais preocupada em satisfazer o novo namorado enquanto que o pai está demasiado ocupado com o trabalho para lhe dar atenção.
Um dia quando Manuel perde o autocarro, Walter (Stefan Matousch), um homem mais velho que percorre a noite no seu carro oferece-lhe uma boleia. Estaremos nós perante uma nova e improvável amizade ou assistimos ao prelúdio de um crime?
Karasek escreve um argumento que é desde o primeiro instante o prenúncio de uma família disfuncional onde todos tentam recomeçar a sua vida esquecendo aquele que é de imediato o elemento mais vulnerável: a criança. Se nos é apresentada uma mãe disposta a recomeçar a sua vida - e uma aparente nova família - colocando o bem-estar e conforto do filho em segundo lugar, não é menos verdade que o pai ausente e ocupado demais com a sua carreira profissional também não é exemplo para o saudável desenvolvimento de "Manuel" que se vê esquecido e ignorado por todos aqueles com quem directamente se relaciona. No meio de lado algum, esta criança torna-se num imediato alvo para aqueles que se querem aproveitar da sua inocência.
Ao mesmo tempo Karasek prima por deixar todos os caminhos em aberto não denunciando logo de imediato se "Manuel" será vítima de um qualquer predador que espreita em todos as esquinas pois percebe e sente que ali tem um alvo fácil e esquecido pelos demais ou se, por sua vez, "Walter" não é um simples homem disponível para ajudar uma criança perdida e desprezada por aqueles que realmente o deveriam vigiar de perto... os seus pais.
Assim, Novemberlichter explora as vulnerabilidades de uma família desfeita, daqueles que realmente sofrem com os novos caminhos e as novas vidas que se tentam construir assim como a notada ineficácia nas respostas que as instituições dão a crianças que se percebe estarem em situações de risco - independentemente do cariz deste. Ao mesmo tempo, a curta-metragem de Jürgen Karasek não esquece de conferir uma personalidade e rosto ao potencial - nunca sabemos apenas suspeitamos - agressor que através de "Walter" ganha uma identidade... um homem prestes a entrar na terceira idade, casado, com filho e neto mas que percorre as noites escuras da cidade, mentindo para capturar assim como para se proteger quando questionado sobre os seus motivos.
Novemberlichter leva assim o espectador a uma viagem que faz reflectir sobre as famílias desfeitas, sobre as suas verdadeiras vítimas - as crianças que tantas vezes sofrem em silêncio - sobre os cuidados parentais - ou falta deles - bem como sobre os constantes perigos e predadores que se aproveitam da fragilidade dos demais para inicialmente se aproximarem e de seguida praticarem os seus actos sobre aqueles que lentamente começaram a controlar física e psicologicamente.
Intensa e com uma carga francamente pesada, Novemberlichter ganha toda uma dimensão de filme negro não só pelo seu argumento como pela direcção de fotografia de Roman Chalupnik que confere a todos os espaços as sombras necessárias para fazer o jovem "Manuel" sentir-se refém em todos os locais em que se encontram, sejam eles a escola, o autocarro, a sua própria casa ou as ruas desertas onde o perigo o espreita.
De destacar ainda a cândida mas assertiva interpretação do jovem Markus Urban que se destaca desde o primeiro instante pela sua presença pacata e silenciosa mas que fala através do seu olhar perdido e dos seus gestos como uma criança que espera encontrar a sua figura paternal e que a irá encontrar em alguém que irá - potencialmente - exigir algo nefasto para o seu saudável desenvolvimento.
Manuel (Markus Urban) tem nove anos e é filho de pais divorciados. A mãe está mais preocupada em satisfazer o novo namorado enquanto que o pai está demasiado ocupado com o trabalho para lhe dar atenção.
Um dia quando Manuel perde o autocarro, Walter (Stefan Matousch), um homem mais velho que percorre a noite no seu carro oferece-lhe uma boleia. Estaremos nós perante uma nova e improvável amizade ou assistimos ao prelúdio de um crime?
Karasek escreve um argumento que é desde o primeiro instante o prenúncio de uma família disfuncional onde todos tentam recomeçar a sua vida esquecendo aquele que é de imediato o elemento mais vulnerável: a criança. Se nos é apresentada uma mãe disposta a recomeçar a sua vida - e uma aparente nova família - colocando o bem-estar e conforto do filho em segundo lugar, não é menos verdade que o pai ausente e ocupado demais com a sua carreira profissional também não é exemplo para o saudável desenvolvimento de "Manuel" que se vê esquecido e ignorado por todos aqueles com quem directamente se relaciona. No meio de lado algum, esta criança torna-se num imediato alvo para aqueles que se querem aproveitar da sua inocência.
Ao mesmo tempo Karasek prima por deixar todos os caminhos em aberto não denunciando logo de imediato se "Manuel" será vítima de um qualquer predador que espreita em todos as esquinas pois percebe e sente que ali tem um alvo fácil e esquecido pelos demais ou se, por sua vez, "Walter" não é um simples homem disponível para ajudar uma criança perdida e desprezada por aqueles que realmente o deveriam vigiar de perto... os seus pais.
Assim, Novemberlichter explora as vulnerabilidades de uma família desfeita, daqueles que realmente sofrem com os novos caminhos e as novas vidas que se tentam construir assim como a notada ineficácia nas respostas que as instituições dão a crianças que se percebe estarem em situações de risco - independentemente do cariz deste. Ao mesmo tempo, a curta-metragem de Jürgen Karasek não esquece de conferir uma personalidade e rosto ao potencial - nunca sabemos apenas suspeitamos - agressor que através de "Walter" ganha uma identidade... um homem prestes a entrar na terceira idade, casado, com filho e neto mas que percorre as noites escuras da cidade, mentindo para capturar assim como para se proteger quando questionado sobre os seus motivos.
Novemberlichter leva assim o espectador a uma viagem que faz reflectir sobre as famílias desfeitas, sobre as suas verdadeiras vítimas - as crianças que tantas vezes sofrem em silêncio - sobre os cuidados parentais - ou falta deles - bem como sobre os constantes perigos e predadores que se aproveitam da fragilidade dos demais para inicialmente se aproximarem e de seguida praticarem os seus actos sobre aqueles que lentamente começaram a controlar física e psicologicamente.
Intensa e com uma carga francamente pesada, Novemberlichter ganha toda uma dimensão de filme negro não só pelo seu argumento como pela direcção de fotografia de Roman Chalupnik que confere a todos os espaços as sombras necessárias para fazer o jovem "Manuel" sentir-se refém em todos os locais em que se encontram, sejam eles a escola, o autocarro, a sua própria casa ou as ruas desertas onde o perigo o espreita.
De destacar ainda a cândida mas assertiva interpretação do jovem Markus Urban que se destaca desde o primeiro instante pela sua presença pacata e silenciosa mas que fala através do seu olhar perdido e dos seus gestos como uma criança que espera encontrar a sua figura paternal e que a irá encontrar em alguém que irá - potencialmente - exigir algo nefasto para o seu saudável desenvolvimento.
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