Deseo de Miguel S. Martín é uma curta-metragem espanhola presente na Secção Cantábria da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortomotrajes de Ficción que decorreu até ao passado dia 9 de Maio naquela região de Espanha.
Um homem observa um rapaz na piscina enquanto este aparenta ter medo de nela entrar. O homem tenta estabelecer contacto com aquela criança de forma disfarçada e oculta o que leva o espectador a sentir um constante desconforto pela proximidade de ambos.
Estaremos nós perante uma potencial situação de abuso ou existe algo mais profundo nas intenções deste homem misterioso?
Miguel S. Martín dirige uma curta-metragem em que se sente desde o primeiro instante um notório desconforto não só pelos silêncios que parecem querer gritar atitudes e sentimentos desesperados mas também pelos estranhos comportamentos adoptados não só pela criança - que se sente claramente desconfortável - como também pelo homem que denota uma ânsia evidente.
É este mesmo desconforto que leva o espectador a esperar o pior e a iminente presença de todos os comportamentos desviantes que estão, infelizmente, tão presentes na nossa sociedade e que assolam vítimas silenciosas e receosas daquilo que lhes pode acontecer sem que a multidão ao redor se aperceba. Os actos perpetrados às escondidas diante dos olhares pouco preocupados, levam o espectador a recear por aquela criança que parece amedrontada até pela própria sombra. Percebemos que o seu passado não deve ter sido fácil e que esconde nos seus inocentes pensamentos uma experiência traumática mas, aos poucos, o espectador percebe também que as conclusões retiradas até então podem não corresponder à (sua) realidade.
Deseo é assim uma curta-metragem muito bem sucedida não só porque tem uma execução original e uma acção que vive de ruidosos silêncios mas também pelo duplo sentido que o seu título entrega à narrativa, ou seja, se por um lado temos desde o primeiro instante a noção de que algo grave irá acontecer entre aquele homem e aquela criança por outro finalmente percebemos que este desejo mais não é do que a vontade da concretização de algo sério como o reatar de laços entre dois entes que acima de qualquer problema matrimonial têm um forte laço entre si.
Finalmente Miguel S. Martín dirige Deseo de forma muito inteligente ao privar o espectador de diálogos desnecessários que poderiam não contribuir para a dramatização da narrativa entregando, por sua vez, toda uma triste e melancólica banda-sonora que apela, desde os instantes iniciais, a um conjunto de sentimentos dúbios e incertos por parte de quem está a assistir.
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8 / 10
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