Hola, Extraño de Laura A. Martínez Hinojosa é uma curta-metragem mexicana de ficção presente na secção Internacional da sexta edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cortometrajes de Ficción que decorreu até ao passado dia 9 de Maio na Cantábria, em Espanha.
Karla (Vico Escorcia) é uma adolescente de quinze anos que quer estabelecer uma relação com o seu pai com quem nunca foi próxima. Um dia decide fugir e ir à procura de Davo (Ricardo Baranda), o seu jovem e rocker pai que não está preparado para assumir a responsabilidade de uma filha que é pouco mais nova do que ele.
A realizadora e argumentista cria com Hola, Extraño uma história que tem tanto de encantador como, ao mesmo tempo, desolador. Se por um lado esta curta-metragem nos faz deparar com uma história de redescoberta e encanto de uma jovem adolescente que sente estar na hora de conhecer o seu pai, não é menos verdade que aos poucos o encanto dá lugar à desilusão e desespero. Este par poderia ter - eventualmente - tudo para funcionar. A jovem "Karla" é uma rapariga aparentemente bem comportada e cuja vida foi estabelecida com um conjunto de regras que fizeram dela uma jovem com uma vida despreocupada. Mas, ao mesmo tempo, esse conjunto de regras impediram-na de ter por perto um pai que, na prática, poucos mais anos tem do que ela e que leva ainda uma vida despreocupada e de boémia que, tendo por perto, possivelmente iriam prejudicar o seu comportamento.
No entanto, o espectador também se questiona se esta foi a decisão acertada. Todos os factores parecem indicar que esta relação está condenada desde o primeiro instante mas, se pensarmos, assim estará pela falta ou excesso de responsabilidade de "Davo" e "Karla" - respectivamente - ou antes pela lacuna que existe entre os dois que se sentem com um forte laço mas que na prática nunca foi trabalhado, estabelecido ou até fomentado?
Apesar da mínima diferença de idades que tanto os aproxima como separa, "Davo" e "Karla" são fundamentalmente dois jovens com uma química imediata mas cujas circunstâncias da vida tendem a separar. Ambos nutrem a mesma paixão pela música - que certamente seria o elo maior de construção de uma relação entre ambos - mas, ao mesmo tempo, é quando "Jorge" (Virgilio Solorio), companheiro da banda de "Davo" se insinua a "Karla" que tudo parece descontrolar-se sem uma solução à vista. Hola, Extraño parece assim terminar tal como começara... com o incómodo de duas pessoas que são próximas mas que se sentem distantes mas agora, com a diferença da experiência do primeiro contacto e a sensação de um adeus posto a uma relação que parece disfuncional e prejudicá-los pela convivência que possam ter.
"Karla" está numa idade em que a descoberta faz parte da sua realidade mas, no entanto, o que acontece quando essa descoberta implica conhecer um pai que poderia bem ser um amigo das habituais saídas pelas discotecas? Um pai que não só é pouco mais velho do que ela como também, por não ter qualquer contacto ou autoridade, pouco pode fazer para zelar pela sua segurança junto de todo o tipo de predadores que podem cruzar pelo seu caminho... "Karla" e "Davo" poderiam ser os melhores amigos mas também percebemos que esta etapa das suas vidas não lhes facilita este encontro/descoberta.
Melancólica desde o primeiro instante, esta curta-metragem cativa pela sua emotividade bem como pela expressividade de dois magníficos actores - Escorcia e Baranda - que têm uma química imediata inclusive nos momentos em que a tensão entre as suas personagens parece ser crescente. Ambos tentam que a sua relação resulte e olham-se com admiração e curiosidade mas, no final, tal como nos instantes iniciais sentimos a sua distância e aparente desconforto - o que dizer a alguém que nunca fez parte da nossa vida mas que para ela contribuiu? - e já bem perto do fim percebemos que a sua despedida pode ser mais do que uma simples etapa...
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9 / 10
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