As Pragas de Stephen Hopkins é um simpático filme de suspense que junta uma Hilary Swank ao renascer das antigas pragas bíblicas nos nossos dias naquela que é a sua mais recente incursão no género.
Centrada em desmascarar supostas lendas e acontecimentos bíblicos que se sucedem nos nossos dias, Katherine (Swank), uma professora universitária, é convidada a visitar a cidade de Haven para descobrir e expôr aquilo que parece assolar a pequena e pacata cidade do interior que, segundo os locais, será provocado por Loren (AnnaSophia Robb), uma criança acusada de possessão demoníaca que todos pretendem combater liderados por Doug (David Morrisey), o padre local.
The Reaping é o sempre "bem-vindo" filme que confronta a crença e a fé bíblica frente aos conhecimentos científicos da actualidade expondo situações que se assemelham às "tradicionais" pragas do antigo Egipto com (ou sem) explicações lógica normalmente relacionadas com alterações climatéricas que, há altura, não seriam explicáveis. No entanto, aquilo com que o espectador aqui se vê confrontado cruza, muito de perto, estes fenómenos com uma população profundamente crente e um conflito religioso com que "Katherine" se debate depois da morte da sua própria família. Quando a fé e tudo aquilo que julgava como certo é colocado à sua frente e desafiado por acontecimentos que transgridem a fronteira do que é real, poderá ela voltar a acreditar que Deus e o Diabo, Céu e o Inferno existem realmente?
Na realidade aquilo que The Reaping pergunta na sua essência é se todos os acontecimentos podem ser explicados de facto, ou seja, até que ponto dentro da "nossa" era científica poderia a mesma explicar tudo aquilo que acontece não deixando uma réstia de dúvida que, em boa fé, o Homem não entregue para a explicação teológica? Neste mesmo raciocínio, se tudo carece de explicação e se esta pode ser encontrada junto da ciência... como explica o Homem aquilo que é inexplicável? A quem recorre quando tudo o demais "falha"? Onde procura as suas respostas? Em que lugar fica colocada a fé ou, melhor ainda, em que lugar ficam aqueles que já não têm fé? O que resta para lá daqueles que, em momento de crise, já não têm crença nenhuma no religioso a quem recorrer? Quando uns em crise dizer "ajuda-me Deus".... o que dirão aqueles que nele já não acreditam?!
No entanto, se The Reaping parece querer levantar estas questões e até levar o espectador para o tal "outro lado" da barricada, certo é que se perde num lado profano pouco dinamizado ou credível na medida em que a partir da chegada da "Katherine" de Hillary Swank à Haven, tudo parece forçado demais para que o espectador não perceba de imediato que ali... algo não corre assim tão perfeito como se quer fazer crer. E se a premissa de base que recorre às profecias e pragas bíblicas funcione no que diz respeito a cativar o espectador a chegar a este filme, é também certo que a falta de coerência e previsibilidade dos acontecimentos o fazem pensar que está perante uma daquelas histórias cujo único objectivo não foi criar a dúvida mas sim alguns dólares extra na bilheteira que, certamente, iria estar cheia pelos nomes de Swank, Elba ou Morrissey.
Swank dá o seu melhor, aliás foi graças a ela que olhei para este filme e senti algum interesse em dar-lhe uma hipótese. Depois de The Gift (2000), de Sam Raimi onde dá um ar de sua graça ao género de suspense/terror, The Reaping prometia ser o filme onde a actriz confirmava enquanto protagonista a sua veia para o estilo mas, no entanto, por muito que se esforce e tente ser credível, Swank limita-se a ir na "corrente" e dançar ao sabor da maré sem conseguir dramatizar a sua interpretação ou tão pouco provocar o tal receio do ambiente hostil em que se encontra direccionando o espectador para um enredo mas, com o tempo, revelando que afinal nada é tão normalizado como aparenta ser. E se The Reaping até é um daqueles filmes que se vê com alguma facilidade não levando o espectador a pensar muito sobre aquilo que vê, este acaba também por ser um dos seus principais "defeitos", ou seja, dada a temática... não esperaríamos ver algumas das nossas crenças também desafiadas?
Dito isto... o que resta de The Reaping? Alguma coordenação na recriação das ditas pragas. Os segmentos em que as mesmas ganham "vida" são dinâmicas e desafiam a uma explicação para lá dos "fenómenos meteorológicos" mas, quando pouco concentradas nesses momentos querendo forçosamente levar o espectador para uma linha narrativa já delineada - eliminando portanto a sugestão -, esta longa-metragem cai nesse que é o erro mais comum do género... querer tudo explicar e aparentar "ser lógico"...
Este The Reaping não será, portanto, um filme de relevância maior. Mesmo considerando o leque de actores já mencionados aos quais se acresce um sub-aproveitado Stephen Rea como o improvável lado bom da fé, a longa-metragem de Stephen Hopkins perde-se nos lugares comuns do género, no revelar demasiado cedo o que esconde a simpática cidade de Haven e no facto de nem todos os bons - ou maus - o serem realmente. O argumento, já trabalho inúmeras vezes em tantos outros filmes do género e, segundo a minha opinião, muito melhor conseguido em The Seventh Sign (1988), de Carl Schultz, acaba por também ele perder-se nos lugares comuns em que tantos filmes caem revelando muito cedo quais os intuitos das diversas personagens e expondo a protagonista a um suplício sem fim dos seus próprios traumas... O espectador percebe que "Katherine" tem um passado traumático que a leva a colocar em causa todas as suas convicções... não precisa de a cada cinco minutos ser lembrado do mesmo...
No final, o que sobre a The Reaping? Algum entretenimento, alguma promessa de algo consistente (que depois se desmistifica) e a garantia de pouco mais de hora e meia de alguma descontracção por ser um daqueles filmes que distanciando-se da referência no género não deixa, ainda assim, de conferir um agradável momento cinematográfico. Não levamos daqui o filme da nossa vida mas também não saímos defraudados com aquilo que nos foi apresentado pelo realizador.
.Na realidade aquilo que The Reaping pergunta na sua essência é se todos os acontecimentos podem ser explicados de facto, ou seja, até que ponto dentro da "nossa" era científica poderia a mesma explicar tudo aquilo que acontece não deixando uma réstia de dúvida que, em boa fé, o Homem não entregue para a explicação teológica? Neste mesmo raciocínio, se tudo carece de explicação e se esta pode ser encontrada junto da ciência... como explica o Homem aquilo que é inexplicável? A quem recorre quando tudo o demais "falha"? Onde procura as suas respostas? Em que lugar fica colocada a fé ou, melhor ainda, em que lugar ficam aqueles que já não têm fé? O que resta para lá daqueles que, em momento de crise, já não têm crença nenhuma no religioso a quem recorrer? Quando uns em crise dizer "ajuda-me Deus".... o que dirão aqueles que nele já não acreditam?!
No entanto, se The Reaping parece querer levantar estas questões e até levar o espectador para o tal "outro lado" da barricada, certo é que se perde num lado profano pouco dinamizado ou credível na medida em que a partir da chegada da "Katherine" de Hillary Swank à Haven, tudo parece forçado demais para que o espectador não perceba de imediato que ali... algo não corre assim tão perfeito como se quer fazer crer. E se a premissa de base que recorre às profecias e pragas bíblicas funcione no que diz respeito a cativar o espectador a chegar a este filme, é também certo que a falta de coerência e previsibilidade dos acontecimentos o fazem pensar que está perante uma daquelas histórias cujo único objectivo não foi criar a dúvida mas sim alguns dólares extra na bilheteira que, certamente, iria estar cheia pelos nomes de Swank, Elba ou Morrissey.
Swank dá o seu melhor, aliás foi graças a ela que olhei para este filme e senti algum interesse em dar-lhe uma hipótese. Depois de The Gift (2000), de Sam Raimi onde dá um ar de sua graça ao género de suspense/terror, The Reaping prometia ser o filme onde a actriz confirmava enquanto protagonista a sua veia para o estilo mas, no entanto, por muito que se esforce e tente ser credível, Swank limita-se a ir na "corrente" e dançar ao sabor da maré sem conseguir dramatizar a sua interpretação ou tão pouco provocar o tal receio do ambiente hostil em que se encontra direccionando o espectador para um enredo mas, com o tempo, revelando que afinal nada é tão normalizado como aparenta ser. E se The Reaping até é um daqueles filmes que se vê com alguma facilidade não levando o espectador a pensar muito sobre aquilo que vê, este acaba também por ser um dos seus principais "defeitos", ou seja, dada a temática... não esperaríamos ver algumas das nossas crenças também desafiadas?
Dito isto... o que resta de The Reaping? Alguma coordenação na recriação das ditas pragas. Os segmentos em que as mesmas ganham "vida" são dinâmicas e desafiam a uma explicação para lá dos "fenómenos meteorológicos" mas, quando pouco concentradas nesses momentos querendo forçosamente levar o espectador para uma linha narrativa já delineada - eliminando portanto a sugestão -, esta longa-metragem cai nesse que é o erro mais comum do género... querer tudo explicar e aparentar "ser lógico"...
Este The Reaping não será, portanto, um filme de relevância maior. Mesmo considerando o leque de actores já mencionados aos quais se acresce um sub-aproveitado Stephen Rea como o improvável lado bom da fé, a longa-metragem de Stephen Hopkins perde-se nos lugares comuns do género, no revelar demasiado cedo o que esconde a simpática cidade de Haven e no facto de nem todos os bons - ou maus - o serem realmente. O argumento, já trabalho inúmeras vezes em tantos outros filmes do género e, segundo a minha opinião, muito melhor conseguido em The Seventh Sign (1988), de Carl Schultz, acaba por também ele perder-se nos lugares comuns em que tantos filmes caem revelando muito cedo quais os intuitos das diversas personagens e expondo a protagonista a um suplício sem fim dos seus próprios traumas... O espectador percebe que "Katherine" tem um passado traumático que a leva a colocar em causa todas as suas convicções... não precisa de a cada cinco minutos ser lembrado do mesmo...
No final, o que sobre a The Reaping? Algum entretenimento, alguma promessa de algo consistente (que depois se desmistifica) e a garantia de pouco mais de hora e meia de alguma descontracção por ser um daqueles filmes que distanciando-se da referência no género não deixa, ainda assim, de conferir um agradável momento cinematográfico. Não levamos daqui o filme da nossa vida mas também não saímos defraudados com aquilo que nos foi apresentado pelo realizador.
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