domingo, 9 de agosto de 2015

Minhas Piores Lembranças do Fim do Mundo são Aquelas que não Guardei nem por um Segundo (2014)

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Minhas Piores Lembranças do Fim do Mundo são Aquelas que não Guardei nem por um Segundo de Danilo Godoy é uma curta-metragem de ficção brasileira que cruza passado e presente numa história de um amor perdido num trágico acontecimento.
Em casa, Maria (Rita Batata) assiste a uma VHS cujo título é "Barcelona 1989". Lá fora junto à sua porta Ele (Guilherme Gorski) faz distribuição de encomendas para a casa sua vizinha. Maria observa-o com uma curiosidade que rapidamente se transforma em voyeurismo confundindo esta observação com as suas próprias memórias.
Neste processo Maria conhece a sua vizinha... uma professora de Ikebana (Massae Yamaguti) que lhe devolve as fotos que Maria havia deitado fora.
Danilo Godoy, também o autor deste argumento, cria uma história que cruza de forma determinante o passado com o presente, a memória com a realidade e principalmente a relação que o antes e o depois têm na condição física e psicológica de cada um de nós onde a comunicação presente é quase exclusivamente tida através do gesto, da expressividade e daquela que é não verbalizada. "Maria" é uma jovem mulher afectada pelos acontecimentos traumáticos do seu passado que - deduzimos - estarem presos com a morte daquele que foi possivelmente o único amor da sua vida. Numa clara relação entre o seu passado e o seu presente - ambos encarnados pelo personagem que conduz uma mota, antes como seu namorado e agora como um rapaz que entrega recados e encomendas interpretado por Guilherme Gorski - "Maria" sente uma clara recordação daquilo que em tempos tivera e que agora nada mais é do que um passado perdido e distante.
Presa nas quatro paredes da sua casa e das memórias que ainda conserva, "Maria" definha num claustro que a impediu de viver, de sentir e até de evoluir. Constrangida pela prisão que essas memórias lhe conferem, ela apenas desperta deste "sono" quando uma mota pára em frente da sua casa e, ainda que não seja para ela ou tão pouco quem esperaria que ali estivesse, "Maria" passa a ter o que até então lhe tinha desaparecido... o desejo. O desejo de saber, de conhecer, de experimentar e de criar que lhe são igualmente despertados pela inesperada presença da professora de Ikebana que lhe faz perceber que a criação nunca está errada sendo sim um espelho de um estado de espírito, de um sentimento, da perda e da tristeza, da alegria e da descoberta. São o reflexo no presente de um passado tido, vivido e experimentado.
Do silêncio solitário em que observava o mundo através da sua janela, "Maria" passa a procurar o "outro" - que não o "seu" - na esperança (in)consciente de poder voltar a conectar-se com o mundo que abandonara para sarar as suas feridas da perda sendo este o exacto momento que, sem perceber, se liberta do passado que a enclausurava e que reentrava no mundo presente que esperava por ela. O fim do mundo foi, para "Maria", a perda da única pessoa que eventualmente significava algo para a sua própria existência sendo desde esse preciso momento consumida pela memória de algo que já não tinha. Algo que não a tendo abandonado deliberadamente a deixou perdida num mundo de memórias e de lembranças que que a faziam pensar no quão bom "havia sido". É esta lembrança que aquela mota e o seu condutor vêm uma vez mais despertar na sua memória.
Ainda que as personagens secundárias de Minhas Piores Lembranças do Fim do Mundo são Aquelas que não Guardei nem por um Segundo sejam fundamentais para a dinâmica desta história, não é menos verdade que é em Rita Batata que existe toda uma evolução que oscila entre a mulher apagada e afastada por vontade própria do mundo até àquela que pretende todo um novo contacto humano mesmo que este surja através de um hobbie para o qual jamais havia pensado tomar parte. De mulher amargurada a alguém que (des)espera por voltar a sentir "algo", Rita Batata assume-se como uma força relativamente silenciosa mas assumidamente viva. Um apontamento positiva para Guilherme Gorski que se sente presente durante toda esta curta-metragem mas de uma forma invulgar uma vez que parece ser apenas um fantasma do passado que resolveu surgir na vida da mulher que em tempos amara. Ou pelo menos um que resolveu na medida das suas possibilidades trazê-la de volta à vida que abandonara.
Destaque ainda para a direcção de fotografia de Alexandre Escanfella que faz o espectador sentir-se constantemente num espaço etéreo, inexistente e que apenas habita a mente daqueles que viveram uma dada situação... Perdidos entre o paraíso - ou purgatório - ou as ideias de um ser, a luminosidade captada nesta curta-metragem assumem-se pouco "terrestres" e mais presentes no campo do sonho, da imaginação e da memória realçando uma invulgar história de amor que parou no tempo... sem se perder.
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8 / 10
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